Quatro de outubro. Manhã.
Eu estou subindo a montanha Seoraksan. Naquele dia, eu tinha subido com ela também... Usando a mesma trilha. Com o mesmo cenário.
- Jennie, você está bem? - A voz suave pergunta segurando de leve o meu braço afim de me apoiar.
- Estou... - Respondi com o olhar vazio.
Eu me lembro perfeitamente o que vi daquela vez.
[X]
Eu estava ajoelhada no chão, tentando inutilmente evitar que mais um vômito escapasse da minha boca, a tapando com as mãos trêmulas.
- D-desculpa! - Lisa veio correndo até mim, se inclinando enquanto parecia desesperada com as mãos hesitantes. - Me desculpa, Jennie! Não chora, não chora...
Eu não tinha percebido que estava chorando... toquei meu rosto e senti as lágrimas quentes molhadas na minha face. Ergui a cabeça e vi que Lisa também chorava.
- Aquele era o Pochi. Ele estava vivo até ontem... - Ela ficou na minha frente, tentando me proteger da visão do corpo dilacerado do cão. - Até mais ou menos uma hora antes de te encontrar no supermercado ontem...
Fechei os olhos com força, chorando com mais intensidade.
O corpo do cachorro foi violentamente desmembrado em quatro partes, cuidadosamente empilhado, e no topo estava sua cabeça.
- Me desculpa! Me desculpa! - Lisa havia se ajoelhado com dificuldade na minha frente agora. A sua voz embargada por causa das lágrimas dificultavam sua dicção. - Mas você disse que queria que eu te mostrasse... Me desculpa!
Acima da cabeça do cachorro, havia uma coleira de couro suja de sangue que servia como peso para um papel também sujo e amassado. No papel continha as palavras "Adeus, Pochi." Assim como Lisa tinha falado.
A escrita do pai estava trêmula, podia se dizer que foi de coração. Como o de uma criança...
Aquele pensamento me deixou com um medo intenso.
Ergui meus olhos de encontro aos de Lisa a minha frente. Em seus castanhos encharcados havia medo, tristeza, desespero...
- Você... - Falei hesitante. - Você gostava do cachorro?
- Sim... - Ela desviou o rosto encarando um pedaço de grama no chão. - Eu o criei desde filhote...
De repente, me senti horrível. Eu a havia forçado a vir até aqui. A ter essa visão terrível e dolorosa. Por não ter acreditado nela, Lisa estava sofrendo mais uma vez. Por minha causa.
Me levantei trêmula e andei até o corpo esquartejado. O pai dela... ele havia feito aquilo. Não é culpa minha. É dele. Mas... por quê? Por que ele fez isso com seu próprio cachorro? Por que machucar a filha desse jeito?
- Por quê? - Deixei escapar com um suspiro.
Me virei encarando, com a testa franzida, Lisa atrás de mim.
- Por quê? - Repeti a pergunta me dirigindo à ela agora.
Lisa que havia se levantado do chão, estava chorando e mordendo os lábios com força, com a cabeça erguida encarando a lua. Ela queria falar alguma coisa. Mas não iria. Era como se não pudesse.
Sem pensar duas vezes, saí correndo dali.
- Jennie? - Ouvi sua voz embargada me chamar desesperada. - Jennie, o que houve?
Por alguma razão, aquela música veio a minha cabeça. O terceiro verso que contava de uma sereia amada sendo desmembrada e devorada como sashimi. É praticamente o tema de um assassino eufórico. A voz de Lucca Manoban cantando...
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Entre Balas de Açúcar e Histórias de Uma Sereia. - Jenlisa
غموض / إثارةJennie Kim é uma garota simples e reservada que não vê a hora de terminar o ensino médio para se alistar nas forças militares da Coreia e ajudar sua família. Contudo, seu plano começa a estremecer quando uma novata estranha, chamada Lalisa Manoban...