Capítulo 11

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— Aonde vamos? — Perguntei pela terceira vez, desde que entramos naquele onibus.

— Você vai ver quando chegarmos lá.

— Ruggero não tem graça...

— Você é muito ansiosa garota.

— E você é muito chato! O que custa me dizer aonde estamos indo?

— Se eu contar estraga a surpresa! Vem, nossa parada é a próxima — Ruggero levantou me puxando junto. Quando as portas se abriram e nós descemos a unica coisa que pude visualizar foi a estrada principal da cidade.

— O que isso? pensando em me colocar em um onibus para fora da cidade ou me trouxe aqui para me matar e desovar meu corpo? ­— Levantei meus olhos para Ruggero e ele me encarava como se uma outra cabeça estivesse saindo do meu corpo. Não consegui segurar e caí na risada — É brincadeira! — Bati de leve com a palma da mão na testa dele, fazendo-o rir também.

— Seu senso de humor é bem estranho, e aliás a surpresa está atrás. — Me virei para onde ele apontava e a unica coisa que consegui falar foi "Uau"  — Bem-vinda ao Jardim de Green Valley.

Atravessamos a pequena estrada de terra paralela à rodovia e passamos pela enorme placa escrito Desert Meadows Park. Ruggero segurou minha mão e me levou por entre as estranhas árvores deserticas que adornavam o caminho. Mais à frente crianças brincavam em um parquinho montado no meio de mesas de piquenique enquanto logo ao lado algumas pessoas com Pás e enxadas trabalhavam naquele chão de terra árida.

— O que eles estão fazendo? — Perguntei curiosa. Rugge olhou para onde eu apontava e sorriu. Entendi naquele momento que ele devia conhecer muito bem o lugar.

— Estão preparando o solo para a nova plantação. Aquela é a horta solidária da cidade, e aquele casal mais velho são Richard e Elissa Duchaine, os responsáveis pelo lugar — Ruggero então levantou a mão e acenou para o casal que retribuiu o gesto.

— Você os conhece?

— Desde que me entendo por gente. Sempre vinha aqui com a minha mãe, mas com o tempo ela ficou com muitos compromissos e acabou parando. Quando eu cresci e aprendi a andar sozinho pela cidade voltei a frequentar o lugar todo final de semana.

— Então é para cá que você foge nos sábados! Pensei que você saía com seus amigos ou que ia até a livraria ajudar a Cece.

Rugge mordeu o lábio inferior e ficou vermelho como uma criança que havia sido pega aprontando.

— Eu não tenho amigos fora da escola Karol. E a Cece eu ajudo apenas na sexta à noite — Ele apertou mais minha mão na sua e levou-a até seus lábios depositando um beijo carinhoso. Um arrepio passou por toda a extensáo da minha coluna e senti meu rosto esquentar — Tem Um lugar que quero te mostrar.

Caminhamos mais um pouco até que entramos em uma trilha de flores silvestres. A imensidão amarela se estendia por pelo menos mais dois quilômetros de terreno, sendo interrompida apenas por algumas àrvores bem no meio delas. Me soltei de Ruggero e corri por entre as flores. Uma sensação de liberdade tomou conta de mim quando fechei os olhos e inspirei bem fundo aquele aroma do campo. Não que a pequena fazenda da tia Antonella não tivesse esse aroma, mas os cavalos sempre atrapalhavam meu momento com suas imundices. Alí não. Alí eram apenas as flores, o céu e o sol. De alguma forma me senti em casa.

Abri os olhos novamente e olhei para Ruggero. Ele continuava lá parado onde o ''deixei'' e sorria abertamente para mim. Corri de volta para ele e pulei em seu braços o abraçando. Como se esperasse por aquilo, ele abraçou minha cintura e me levantou alguns centímetros do chão.

— Ainda tem mais uma coisa... — Sussurrou no meu ouvido.

Já de volta no chão, acompanhei ele enquanto era guiada novamente por entre as flores. Paramos em frente à uma das árvores e o terceiro ''Uau'' saiu da minha boca. Era como uma cena de filme sendo reproduzida bem na minha frente. A toalha vermelha xadrez estendida no chão, a cesta de palha em cima dela e se bobear haviam até pequenas formigas caminhando em fileirinha sobre a toalha. Não é que eu nunca tenha feito um piquenique. Mas nada se comparava com aquele momento, aquela paisagem ou com a pessoa ao meu lado.

— Como você...? — Deixei a frase no ar mas Ruggero entendeu na hora o que eu queria perguntar.

— Eu tive ajuda — Falou simples.

— Quando?

— Liguei para meus cúmplices hoje durante o almoço, por isso me atrasei...

— Isso é tão... uau... — E lá veio o quarto.

— Vamos sentar ou quer ficar aí admirando? — Perguntou em tom de brincadeira. Assenti com um sorriso bobo no rosto e nos acomodamos na toalha.

Aos poucos Ruggero foi revelando todo o conteúdo da cesta e me suspreendendo mais ainda. Frutas, sucos, sanduíches e um ramo das pequenas flores amarelas que me foram entregues. Comemos a maior parte do tempo em silêncio, trocando apenas olhares que eram desviados segundos depois. Quando terminamos, nos deitamos sobre a toalha para adimirar os pequenos feixes de luz que passavam por entre as folhas da árvore.

— Se eu te perguntar uma coisa promete que não vai dizer não? ­— Ruggero perguntou quebrando o silêncio.

Me virei para ele deitando de lado e apoiando a cabeça na mão e ele fez o mesmo.

— Depende o que vai perguntar — Respondi — Se pedir para eu me atirar de algum desses precipícios obviamente eu vou dizer não.

Um sorriso escapou de seus lábios e eu juro que se já não estivesse apaixonada por ele, aquele sorriso teria sido o meu xeque-mate. Seria possível alguém se apaixonar duas vezes pela mesma pessoa? Depois de hoje tenho certeza que sim.

— Eu já disse que seu senso se humor é bem estranho! — Dessa vez fui eu que sorri — Mesmo assim me apaixonei por você no instante que te vi naquela rodoviária.

Sem acreditar no que havia acabado de escutar, me sentei rapidamente e o olhei séria.

— O que disse?

Ele acompanhou meu movimento se sentando na minha frente.

— Que me apaixonei por você Karol — Seus olhos castanhos quase negros irradiavam um brilho que eu jamais havia visto antes. Sua mão alcançou meu rosto e eu fechei os olhos aproveitando o carinho — Namora comigo?

Abri os olhos novamente para ter a certeza de que não estava sonhando.

— Mas ontem você disse que era melhor irmos devagar...

— Eu sei o que eu disse... e estava errado. Não quero ser seu amigo Karol, eu quero mais que isso...

— Tem certeza disso?

— Mais que qualquer outra coisa — Afirmou — Namora comigo Karol?

— Sim!

Seus lábios se encaixaram nos meus mais depressa do que eu poderia imaginar. Seu beijo era doce e carinhoso e eu sentia que estava flutuando em seus braços. Em algum momento nos desequilibramos e caímos. Ainda rindo, Ruggero afastou os cabelos que cobriam o meu rosto e voltou a me beijar. Aquilo era um paraiso sem fim de felicidade. E nos meus pensamentos, surgiu pela quinta vez a palavra que resumiu aquela tarde: Uau.

A Seu Lado - RuggarolOnde histórias criam vida. Descubra agora