01

565 40 18
                                    

Em dias quentes como este, eu adoraria ter todas as esferas do dragão comigo apenas para desejar que tudo se envolvesse em neve, nem que fosse apenas por um dia. Minha pele de raposa não era a mais fresca, por assim dizer, então eu iria apenas acelerar para chegar o mais rápido possível em casa e tomar um longo banho. Isso, é claro, se esses dois malditos lobos parassem de tentar achar meu rastro. Não havia sido minha culpa se sem querer eles descobriram que eu estava me esgueirando ao redor. Só queria ver algo importante. Pulo sobre uma pedra mais ou menos do meu tamanho e entro em pleno matagal para despistar os guardas lobos. Se apenas tivesse dito logo a ele... Mas tanto ela como sua consciência sabiam que isso não ia acontecer, como nunca. Ele transmitia coragem e gentileza com seus cabelos escuros e seus olhos profundamente castanhos, enquanto a irmã mais nova da vilã da história aqui vivia se escondendo até dos próprios pais. Que aliás, também não sabiam onde ela estava e se depender de si, não iram saber. Se depender dos caçadores de raposas curiosas a seguindo, seria presa e ainda difamada.

Me abaixo entre o mato e arrasto-me devagar para que não sintam minha presença por ali. Respiro baixo e em poucos minutos posso ouvir eles dando a volta e saindo. Ergo minha cabeça, levantando meu focinho para sentir qualquer cheiro estranho. Se foram. Raposa curiosa um, lobos perseguidores zero. Na minha concepção, a maioria dos lobos cheiravam a desconfiança, pesar e pudim de coelho. Mas desde a queda de Joanna, um tinha chamado minha atenção. Usando uma jaqueta preta e um sorriso que quebra corações, ouso até chamá-lo de badboy, ele tinha um cheiro aconchegante, tipo, rosas recém colhidas, uma tempestade chegando e deliciosos cookies saindo do forno. E fora exatamente isso que havia me assustado. Ele simplesmente se tornou tão atraente que a única coisa razoável em minha mente era me aproximar mais, porém o outro lado da minha cabeça, talvez o lado certo, me mostrou o caminho da luz, bem longe do homem dos sonhos dessa raposinha aqui. Perfeito, mas com alguns defeitos. Começando por ser o irmão do alfa dos lobos. Desastroso, muito desastroso.

Chego, finalmente, no quintal de casa e me enrolo na toalha, depois de voltar a minha forma humana. Decido usar o chuveiro externo, que servia mais para quem estava só de passagem, mas como já disse, é um dia terrivelmente quente. Tomo meu banho, deixando todo a sensação de ter corrido por quilômetros floresta adentro ir com a água. Volto a pensar a quão descuidada tinha sido ao deixar com que eles sentissem meu cheiro. Porém, o que eu poderia fazer se não conseguia me manter longe dele. Luca Amato. Amado filho, irmão e pai. Pensando dessa forma até parecia que eu estava lendo sua sepultura. O homem dos meus sonhos, literalmente. Já que nos últimos dias eu tenho ido dormir pensando nele e acabo sonhando com ele também. Neles, Luca me aceita como eu sou e me protege dos outros que não aceitam nossa relação. Só que, obviamente, na vida real, nós teríamos muitos problemas se ele descobrir que sou sua companheira. Basicamente alguém poderia tentar começar uma guerra – de novo – apenas por causa disso. Um lobo tão poderoso como ele e um filhote de raposa fraco como eu juntos? Acho que não. No fundo, esse era o meu segredo, lembrar do cheiro de biscoitos dele e me deixar levar em ilusões que eu mesma crio.

Saio do chuveiro e ouço uma movimentação mais ao lado. Olho atentamente e consigo ver parte de uma cabeça cheia de cabelo loiro. Patrick. Hoje, com certeza não era meu dia.

O que posso falar sobre Patrick Cowell? Desde nossa infância ele está por perto. Não, não como um melhor amigo, e sim um perseguidor maníaco que vive pedindo minha mão em casamento. Ele já apareceu no meu quarto no meio da noite, foi até minha antiga faculdade e bateu no meu amigo apenas por estarmos sorrindo, tentou pedir para que meus pais permitissem nosso suposto namoro. Tentei de várias formas com que ele sumisse – talvez literalmente, mas ninguém tem como provar – porém a praga continua presa aqui. Entro em casa e tranco a porta de trás, revirando os olhos sobre sua tentativa de ser discreto. Mamãe e papai estão na sala, assistindo alguma série de serial killer's, algo que me acostumaram a assistir junto com eles. Rapidamente vou me vestir e volto vestida em uma blusa azul de alça e um short de pano preto, me jogando perto deles para ver o próximo episódio.

Entre o Sangue e o Paixão (Duologia Entre Lobos e Amores, Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora