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Chego ao meu carro, ligando-o e saindo do estacionamento da escola o mais rápido permitido. Minha mente corria mais que meu carro, o que me deixava tonta e preocupada. Como que eu posso ter sido tão distraída, tão burra? Os Amato eram líderes por essa cidade, é óbvio que a mais nova deles estaria na melhor escola possível. Meu estômago embrulha e não vejo a hora de chegar em casa, me trancar em meu quarto e chorar toda a água do meu corpo. Novamente, eu havia sido descoberta pela única coisa qual eu me escondia. Coisa não, pessoa. Um lobo.

Luca tinha razão, havia sim um motivo por trás de tudo. Era simples, nunca aceitariam nosso relacionamento. E como uma pessoa acostumada com a raiva gratuita dos outros, algo para lhes dar uma razão só pioraria as coisas. E eu não conseguia nem expressar direito o que eu sentiria caso isso afetasse meu companheiro e sua filha. Giovanna. Ah Deusa, ela seria minha aluna. Será que o pai dela contaria sobre nós? Espero que não, isso tornaria tudo bem pior. Já estou tentando lidar só com a parte de perder Luca, sentir a perda daquela menininha acabaria comigo de vez.

Chego na porta de casa e desligo o motor do meu carro, logo em seguida batendo minha cabeça sobre o volante. Respiro fundo, tentando controlar minhas emoções, mas não consigo resolver meu problema. Não queria entrar em casa dessa forma, pois na hora que meus pais me vissem, começariam a fazer perguntas. E eu não me sentia apta para inventar qualquer resposta, por enquanto. Então, depois de decidir que eu não deveria estar ali parada, saio em direção a estrada principal novamente. Sem destino nenhum em mente, apenas vou dirigindo, me preocupando a cada segundo. Algumas pessoas até diriam que esse não seria o melhor momento para dirigir, porém eu não escutei nenhuma até agora.

Meu celular toca dentro da bolsa que estava no banco do passageiro. Tento pegá-lo, dividindo meu olhar entre a estrada e a bolsa. E eu, sinceramente, poderia ter previsto que isso daria errado. Olho para o banco por um momento, pegando meu celular, porém quando olho para a estrada de novo, uma garota acenava para mim. Grito e viro o carro o mais rápido possível para não a acertar, o que acaba me levando a bater em uma árvore não muito longe dali. Ainda atordoada com o que acontecera, abro a porta do carro e desço, me ajoelhando ao lado e colocando minhas mãos em meu coração, que no momento estava acelerado. Olho para cima, apenas para ver a garota de antes – que posso jurar que me é familiar – correr em minha direção.

— Você é maluca? — Berro em sua direção, assustada e irritada com o tamanho risco em que ela havia se colocado. — O que diabos você estava fazendo no meio de uma estrada? Ninguém nunca te disse sobre poder ser atropelada, não?

A garota de cabelo cacheado castanho e olhos da mesma cor, sorri para mim, passando sua mão em sua cabeça, demonstrando vergonha. Pelo menos isso.

— Desculpa. Mas eu sabia que você não me acertaria.

— O quê? Como você saberia que não? — Levanto-me do chão, limpando meus joelhos e em seguida minhas mãos. Puxo uma piranha do meu bolso e amarro meu cabelo, o colocando para trás. Olho bem para a garota na minha frente, tentando entender porque ela continuava ali. — Eu conheço você?

— Muito prazer, eu sou Elizabeth Rose, sua bruxa selecionada e estou aqui para ajudar. — Diz, ainda sorrindo e estendendo sua mão para frente. Aos poucos vou assimilando o que ela disse. Quando minha mente finalmente compreende, começo a rir, levando toda a sanidade que eu tinha a um total de zero. Claro que iriam me designar alguém justo agora. Elizabeth me observa enquanto tenho um pequeno surto e espera pacientemente. Não sei por quanto tempo fiquei sorrindo, só sabia que não havia graça em tudo isso. — Você 'tá bem? — A bruxa me pergunta, enquanto coloca uma mão em meu ombro.

— Não faço ideia. — Sento-me no banco do carro e mantenho meu olhar fixo na árvore em que eu havia batido. — Então você está aqui para me ajudar. Mas como?

— Não sei. Mas acho que podemos descobrir como o tempo. — Suspiro com a resposta vaga que recebo e me ajeito no banco, pedindo para que Elizabeth entre no lado do passageiro. — Para quê?

— Você prefere ficar aqui sozinha? — Revirando os olhos, ela entra no carro e dirijo para minha casa. — Me diz, eu vou ter que te chamar de fada madrinha, ou algo assim? E, sério, já nos conhecemos?

— Você tem muitas perguntas, não é mesmo? E não me chame de fada, por favor. Fadas e bruxas são seres totalmente diferentes.

Essa é minha vez de revirar os olhos para ela.

— Claro que eu tenho muitas perguntas. O que você faria se estivesse no meu lugar e de repente uma pessoa aparecesse na sua vida, praticamente te dizendo que você tem um tipo de ajuda em domicílio agora? — Bufando, a bruxa se encosta no banco carro e balança sua mão, num sinal para que eu continuasse. — Eu tenho que manter você por perto o tempo todo?

Seus olhos se arregalam e ela suspira exasperada.

— É sério? Sou sua fada madrinha, claro que deve me manter por perto.

— Não foi você que acabou de dizer que fadas e bruxas são diferentes? — pergunto.

— Apenas dirija, Juliet. Apenas dirija. — Sorrio e consigo voltar a estrada, ainda com a sensação familiar.

Passamos parte do tempo conversando, principalmente sobre as razões que a levaram a chegar até mim. Aparentemente Elizabeth estava sendo treinada pela mãe e pela avó paterna há um tempo, sendo preparada para algum cargo nessa altura. Já sabia que algumas bruxas eram selecionadas para algumas pessoas como eu, era algo bem comentando quando acontecia. Bem, pelo menos eu esperava que dessa vez fosse diferente, evitar atenção sempre era minha prioridade. Talvez eu deva deixar Elizabeth dentro de casa até o último minuto.

Além de falar sobre seu compromisso comigo, a bruxa acaba comentando comigo sobre ter tido que passar por alguns testes dela mesma, porque não se sentia preparada para me enfrentar cara-a-cara.

— Não fique se achando. — Ela diz é eu apenas balanço a cabeça negativamente. — Eu não fui a única a querer essa responsabilidade, tinha mais três bruxas competindo pela oportunidade comigo. Essa foi a parte mais difícil, sabe? Enfrentar as que são como minhas irmãs. Mas eu sabia que era a mais capacitada para o papel e aqui estou.

Aceno, sabendo muito bem como era ter que enfrentar família. Estaciono o carro na entrada de casa e abaixo minha cabeça com a súbita dor que vem.

E o que você sabe? Nada, Juliet! Nada! Como alguém que se esconde o tempo todo pode saber o que diabos é amor?

Ofego com a lembrança que surge rapidamente e aperto o volante. Abro a porta e saio rapidamente, continuando a ofegar e sentindo meus olhos lacrimejarem. Droga, eu tinha que lembrar disso juntamente agora?

— Ei, Juliet. Tudo bem aí? — Elizabeth se aproxima de mim e coloca sua mão sobre minhas costas, como um tipo de auxílio. Porém a ajuda só vem mesmo quando sinto algum tipo de magia correr pelo meu corpo, fazendo-me sentir bem melhor. Me ergo e olho para a bruxa que agora sorria com simplicidade. — Acho que estamos começando a descobrir que tipo de ajuda eu vou dar a você, não é mesmo?

Enxugo meus olhos e concordo com ela. Talvez eu fosse precisar mais dela do que eu pensava. Entramos na minha casa e já vejo meus pais sentados no sofá. Eles me veem entrar junto com Elizabeth e suas sobrancelhas se erguem.

— Mãe, pai, essa é Elizabeth Rose, minha bruxa designada que vai passar um período conosco. — Eles acenam e pedem para que nos sentemos, já sabendo do que se tratava a designação. — Aconteceu alguma coisa?

Papai olha para mamãe e ela assente, como se pedisse para que ele falasse. Estranho.

— Querida, por que não contou sobre ter encontrado se companheiro? — Ah não. — E por que não nos disse que ele é justamente Luca, o beta da alcateia dos lobos?

Merda.

Entre o Sangue e o Paixão (Duologia Entre Lobos e Amores, Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora