Entre o Sangue e o Paixão (Duologia Entre Lobos e Amores, Livro II)

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Entramos no carro e nenhuma palavra é dita. Penso que agora ele irá me deixar em casa e depois resolver seus assuntos, mas apenas ficamos parados lá. Volto a mexer minha perna, como se não houvesse nada mais para fazer, até que sinto sua mão encostar em meu joelho. Um arrepio sobe por meu corpo e tento manter meu ânimo não tão alto assim.

— Obrigado por lidar com Kate. — Escuto-o, sem ter realmente certeza do que ele estava falando. Observo como sua mão se move, indo na direção de seu rosto e coçando sua barba por fazer. — Normalmente demora bem mais que isso para me livrar dela.

Sua risada é fraca, mas está ali. Levo minha mão para onde estava a sua antes e acaricio seu rosto. Parecia mais complicado do que o esperado, afinal. Não havia gostado de como a mulher havia agido, e queria que ela saísse imediatamente. Imagina lidar com aquilo por mais tempo? Os olhos de Luca capturaram os meus e, em um milésimo de segundo, seus dedos seguravam os meus. Beijando um por um, meu companheiro pareceu voltar a brilhar, com seu sorriso pequeno, mas verdadeiro. Não consigo esconder minha felicidade ao ver aquilo e sorrio também. Parece que isso é o suficiente para surgir mais do seu.

— Então? — Noto que continuávamos parados e parecia que eu era encarregada do próximo destino. Além de que o assunto Kate ficaria para bem depois. Mostro a ele que não era mesmo muito longe dali, apontando qual rua iríamos entrar. Um último beijo em minha mão e estamos na estrada. Não demora muito e, quando paramos, não espero por Luca para descer do carro. Era uma praça, pequena, só que cheia de lugares para se sentar e só conversar.

Lembro de ver meus pais sentados ali perto, apenas conversando e segurando a mão um do outro, enquanto eu e Jo brincávamos e brigávamos. Depois de brigar pela centésima vez, sentaríamos no chão e apostaríamos no futuro, falando sobre encontrar príncipes alfas, salvar princesas de lobos malvados, de como queríamos crescer logo porque ser uma criança era chato e os adultos pareciam se divertir bem mais. Estávamos tão erradas. Bufo uma risada, o que atrai a atenção de Luca. Aponto para os bancos mais a frente e caminho até lá, sabendo que ele estava logo atrás de mim.

A noite deixa o local com uma sensação de solidão que apenas o sol de fim de tarde e a risada das crianças brincando pode afastar. A ideia de voltar ali com Giovanna surge, mas não quero me precipitar. E falar aquilo em voz alta faria tudo real demais.

— Sua família vinha aqui quando você era pequena? — Meu sorriso volta com sua pergunta e confirmo, balançando a cabeça.

Não só frequentávamos aqui, como também era, praticamente, nosso momento de paz. Os problemas envolvendo a matilha, os vizinhos ou até mesmo parentes, nada era permitido ali. Tínhamos que ter paz, ou tudo acabaria explodindo dentro de casa.

— Eu, meus pais e minha irmã... — olho em sua direção, incerta se devo ou não mencionar Joana, mas, com um aceno de sua parte, sei que posso continuar. — Aqui é o segundo lugar de que mais tenho lembranças depois da nossa casa. Sempre que algum problema surgia e nossos pais ficavam extremamente ocupados, eles tiravam um tempo e nos traziam aqui. Nada pode atingir esse lugar.

Pelo menos eu não queria que algo acontecesse. Lembro que aqui também havia sido o último lugar que Joana e eu estávamos de acordo, pacíficas. Antes que eu tivesse que me tornar responsável por tudo.

Luca segura minha mão, assustando-me no processo, mas o carinho constante acalma-me do susto, deixando apenas meu coração acelerado por todo aquele sentimento de paixão que ele naturalmente causava.

— É bom ter um lugar assim, com boas memórias. Em casa nossos pais gostavam de levar eu e meus irmãos para acampar. — Seu sorriso parece mais afetuoso, mais tranquilo. — Se chovia muito, acabávamos fazendo uma grande tenda no quarto deles e passávamos a noite juntos, ouvindo histórias antigas sobre nossa natureza. Era divertido até o momento em que Enrico tentava pregar peças na nossa irmã mais nova. Aí ela chorava, eu ficava entediado e ele ria sozinho.