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Entro em casa, ainda ouvindo o som de anjos cantando, misturado com um pouco de heavy metal, na minha cabeça. Minha bolha é estourada quando vejo Patrick jogado no chão, amarrado como porco que vai ser assado. Olho para cima e vejo Beth serrando suas unhas e meus pais mais a frente, conversando próximos a cozinha. Sinto que talvez eu tenha dado muita liberdade para a bruxa.

— Oi. — Falo, praticamente sussurrando. Meus pais olham para mim e sorriem, já Elizabeth ergue uma sobrancelha, e eu sabia exatamente no que ela estava pensando. Patrick sorri para e imediatamente fecho minha cara. Solto suas mãos e suas pernas, deixando com que ele se levante. — Se senta aí. — Falo, apontando para o sofá. Ele o faz e eu pego uma cadeira da cozinha, me sentando na frente dele. — Agora, por quê você não começa a falar?

Então, temos um belo discurso da raposa. Patrick nos informa que só tinha entrado em contato com meu avô recentemente e que tudo que eles conversaram foi sobre mim. Meu dia a dia, meus movimentos pela cidade, minha privacidade. Levanto da cadeira e massageio minha testa, tentando me acalmar antes que eu pule em Patrick e o mate. Ele havia dado uma chance do meu avô se aproximar de mim e isso era uma péssima notícia.

— Mesmo quando eu não queria, e isso é na maioria das vezes, você estava próximo a mim. — Começo falando para o traíra. — Então você sabe qual é a minha responsabilidade. Tem que saber. Então meu avô aparece e você entrega tudo nas mãos dele. Tudo! — Volto para perto dele e aponto um dedo em sua cara. — Eu disse antes, vamos acabar em guerra, Patrick. Guerra. Por culpa dele e agora por culpa da sua estupidez.

Papai se aproxima, me tirando de perto da raposa traidora e se posicionando onde eu estava antes.

— Patrick, eu não sei dizer o quão decepcionado estou. Você terá que lidar com as consequências do seu ato. — Papai fala e vejo o rosto de Patrick ficar vermelho. — Não poderá sair da nossa vila por um bom tempo, e eu já falei com seus pais e alguns amigos de confiança, todos eles ficarão de olho em você. Eu sei que já não é mais uma criança, mas por conta do que você sabe, eu não estou exilando-o de nossa alcateia. — Arregalo meus olhos quando ouço sobre exílio. Meu pai não fazia esse tipo de coisa. Nunca. — Você vai sair daqui e ir imediatamente para sua casa. Boa sorte no caminho.

Patrick se retira da nossa casa, seus ombros caídos e seu olhar na direção do chão. Era a verdade. Eu o conhecia desde mais nova e por mais que ele me incomodasse, era a verdade que ele sabia mais sobre mim do que qualquer outra pessoa. E isso era mais que preocupante. Suspiro alto quando vejo a porta bater e me sento novamente, só que agora no sofá.

— Conrad estava no bar de German. Parecia ser bem-vindo por lá. E eu não gostei nenhum pouco disso. — Digo aos meus pais, lembrando de que meu avô agia como se o lugar pertencesse a ele agora. Elizabeth se aproxima e põe a mão e meu ombro. Alguns segundos se passam e sinto meu corpo relaxar levemente. Não era fácil ter que lidar com esse tipo de problema e eu ainda estava aprendendo sobre isso. Sorrio para a bruxa e a agradeço. Sua mão solta meu ombro e ela retribui o meu sorriso.

— Minha vontade é de voltar lá agora mesmo e fazer aquele desgraçado se arrepender de ter mexido com minhas duas filhas. — Minha mãe se expressa e meu pai acena, concordando com ela. Meus olhos dançam de um para o outro e percebo o quanto isso desgasta eles. Meu pai já comandava a alcateia ao lado da minha mãe antes mesmo de Conrad sair, então eles tinham uma noção de como ele era com poder e como precisariam lidar com o velho. Mamãe se volta para mim, sorrindo, e boto sua expressão curiosa. — Mas, mudando de assunto, ouvi dizer que você teve uma carona muito especial hoje, querida. Como foi?

Minhas bochechas esquentam e abaixo minha cabeça, colocando minhas mãos na frente do rosto. Eu, definitivamente, não contaria para eles da minha experiência de carona com Luca e muito menos de que teria um encontro com ele em menos de duas horas. Meus pais podiam ser muito intrometidos quando queriam, até quando não queriam. Eliza não ajudava também. Olho para ela e espero que ela entenda que estou tentando matá-la com minha mente. A bruxa sorri e acena baixinho, como se houvesse planejado isso tudo. E provavelmente o fez.

— Não foi nada demais. Apenas uma carona. — Não preciso olhar para minha mãe para saber que ela tinha em sua cara uma expressão de que não acreditava nenhum pouco em mim. Dou de ombros, ainda fingindo que não tinha importância e vou para cozinha, puxando uma garrafa de suco e tentando a abrir. Papai passa perto de mim e a abre, sorrindo. Eu perdia toda minha força quando ficava nervosa ou mentia sobre algo. Pelo menos era assim em relação aos meus pais. Viro na direção da minha mãe e Eliza, sabendo que elas estavam esperando por mais uma resposta minha. — Ok, foi ótimo estar com ele. Nós conversamos um pouco e agora eu tenho um encontro com Luca em algumas horas. — Posso sentir a felicidade irradiar das duas fofoqueiras e reviro os olhos para aquilo. — Só que não sei se vou.

E foi assim que acabei com a ideia de crianças correndo pela casa. Mamãe murcha e Elizabeth se impõe, sua cara mostrando sua clara indignação comigo. Novamente, dou de ombros e me sento no sofá da sala, bebendo meu suco. Uma enxurrada de "por que não?" cai sobre mim e juro que, por alguns instantes, pensei em me esconder em algum lugar onde nunca seria encontrada. Talvez levar Luca comigo... Não! A intenção é não se aproximar dele. Pelo menos mais do que já fez. Respiro fundo e peço ajuda ao meu pai com um olhar. Que ele ignora, sorrindo para mim e indo ler seu livro. Olho da mulher que me criou para a mulher que fora criada para me irritar, calculando um jeito de desviar a atenção para qualquer outro assunto e não conseguindo. Respiro fundo e me encosto no sofá, deixando meu copo com suco na pequena mesa a minha frente. Alguém me cutuca, uma provável tentativa de abrir um buraco em meu braço. Olho para o lado, vendo que não teria como escapar da situação que eu mesma criei.

— Eu já disse a vocês. Eu e ele não podemos ficarmos juntos. Isso explodiria de volta em nossas caras. — Falo isso olhando para a bruxa, que em resposta revira os olhos e toma meu suco. Solto uma exclamação, indignada com sua ação.

— As únicas pessoas que podem impedir esse relacionamento de acontecer, Juliet, são você e ele. Nós já falamos sobre isso. Apenas dê uma chance.

Suspiro, porque não conseguia tirar as preocupações da minha cabeça. Por mais que quisesse Luca, meus medos me impediam. Não preciso olhar para minha mãe para saber que ela pensava o mesmo. Não podia admitir em voz alta, mas eu sabia que estava impedindo o acontecimento de algo com medo de que no fim Luca escolhesse a alcateia em vez de mim. Digo, se chegar a essa situação, como eu poderia pedir para que ele ficasse?

— Querer não é poder...

— Nessa situação, eu tenho certeza de que você não só pode, como deve, Juliet. Abra os olhos, veja ao seu redor. Olhe para Luca e tente negar de novo que não devem ficar juntos! — Abaixo minha cabeça, relembrando dos poucos momentos que estivemos próximos. Ele nunca recuou. Sempre fui a única a correr. E se eu estiver mais errada do que penso? — Dê a ele a chance de se expressar. Conversar, Juliet. É mais fácil do que parece.

Aceno, não achando qualquer outro argumento que seja razoável. Não demora muito para que eu seja arrastada para meu quarto. Depois de tomar um banho, sou feita de refém pela bruxa e arrumada como uma boneca. Talvez eu tenha desistido muita fácil. Talvez esse jantar servisse para mostrar que eu estava certa. Mas e se elas estiverem certas? Demora cerca de duas horas, mas meu cabelo está ondulado e aparentando estar mais bonito que nunca. O vestido azul escuro com flores brancas é longo, com uma fenda para minha perna esquerda. Não permito a mim mesma usar saltos, então ponho meus habituais tênis brancos. Mais seguro dessa forma. Elizabeth me passa uma jaqueta branca, que nunca tinha visto antes em minhas coisas.

— É minha. Não costumo usar e vai ficar bem em você.

Sorrio para o ato, feliz que Eliza havia voltado a minha vida. A abraço, porque mesmo com sua teimosia, era bom ter uma amiga. Há alguns anos ela aparecera em minha vida, mas algo levara a garota a ir embora. Os anos tinham passado e nenhuma outra bruxa era designada a me ajudar. E, então, eu descobri que Elizabeth prometera voltar. Agora estávamos aqui. Prontas para recomeçar, no tempo certo. Ouço uma batida na porta de casa e sei que é ele. Meu coração parece que vai saltar pela boca. Aperto a pequena bolsinha, também azul, e inspiro fundo, soltando o ar lentamente. Não percebo que estou em choque até sentir um leve empurrão em minhas costas. Aceno para Eliza ao ouvi-la dizer que tudo iria ficar tudo bem. Ando para a sala, mantendo o aperto em minha bolsa. Assim que piso na sala, a vibração parece mudar e sei a causa.

Ali está Luca Amato, praticamente perfeito.

E meu coração parecia prestes a me deixar na mão.

Entre o Sangue e o Paixão (Duologia Entre Lobos e Amores, Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora