Quando cheguei a casa de Emmalyn, esta saltou-me para cima. Literalmente.
Ri-me com o gesto e agarrei-a deixando as minhas malas fazerem um estrondo no chão. Não nos víamos à uma dúzia de dias e juro que nunca ficamos mais de horas sem nos vermos.
Desde que aquela coisa a que somos obrigados a ir deu o start, comecei a vê-la menos. Digamos que escolas e disciplinas diferentes tornam as coisas mais complicadas.
Mostrou-me os dentes quando nos afastámos. Pareceu-me desnecessário e um pouco sinistro de inicio, mas sorri-lhe de volta em gesto de simpatia antes de entrar em estado de choque total:
- Porra! - comecei - Tiras-te... tu...
Riu-se antes de se dirigir a mim:
- Brutal não é? Passei o dia todo a olhar para eles ao espelho - voltou-se para trás aos saltos desaparecendo no corredor.
Não a via à assim tanto tempo? Bolas o que eu perdi.
Emmalyn já não tinha aquele aparelho adoravelmente verde que fez parte da sua vida durante quatro anos. O seu cabelo parecia de certa forma maior. O cabelo preto caia-lhe pelas costas, os cabelos de lado fazendo um certo desvio devido aos seus ombros; é possível que os cabelos pretos sejam mais oleosos? Nem os seus olhos cor de safira pareciam os mesmos, mais brilhantes agora talvez. A sua pele clara fazia com que as suas múltiplas sardas sobressaíssem mais ainda.
Desloquei-me do quarto roxo dela para invadir a sua sala bege. Sentei-me no sofá e pus-me a observar: Bolas, até a sala esta família mudou. Fitei a televisão com ecrã preto tentado encontrá-la maior ou mais pequena talvez. Decidi que continuava do mesmo tamanho e concentrei-me na mesa de centro. Ora, esta era muito mais bonita que a antiga de madeira escura: gozando a sua beleza mostrando as suas curvas de vidro e o seu centro enfeitado com um cesto de frutas falsas? Apalpei curiosa. Sim, falsas. Já a mesa de jantar era a mesma. Mas agora encontrava-se do lado esquerdo da sala junto à janela com a sua madeira clara e a sua jarra de flores brancas lindas no centro. As cortinas eram de um tom de turquesa fazendo o seu próprio contraste com as paredes da sala. Era acolhedor e belo. Na verdade a mãe de Lyn sempre teve um certo bom gosto.
- Entãoooo? - Prolongou uma voz longe - Pronta para sair? - Já não se encontrava tão longe como eu desejava. Sair? Como? Sentia as pernas a cortarem-se a si próprias do resto do meu corpo.
Finalmente - Sair onde? - consegui pronunciar.
- Pensei no bairro alto sabes? Mas talvez seja demasiado longe - ou desproporcionado talvez. Era esta a palavra certo?
Não queria discutir com ela pois mesmo que as férias se encontrassem à porta, queria passar este pedaço em harmonia. Podia ser?
Levantei-me do sofá confortável e reparei que até ele era diferente. Em vez do preto e pequeno sofá, encontrava-se no seu lugar um sofá branco e enorme. Resisti à tentação de perguntar se a mãe de Lyn teria ganho algum aumento no trabalho e manter-me calada.
- E o que é suposto vestir? - honestamente não estava muito preocupada com isso.
- Eu já estou - disse fazendo um gesto com as mãos para o seu conjunto. Vestia uma saia que terminava no meio das suas coxas e uma camisola branca de manga curta. Pressenti que ela iria ter frio mas como que a adivinhar esta acrescentou - estou com collants transparentes e o meu casaco está no armário - o que não a impedia de ter frio - pensei.
Eu encontrava-me dentro de umas calças de ganga e uma camisola de manga comprida. Ao lado dela sentia-me velha o que me levou imediatamente ao quarto fazer umas mudanças.
Acabei por puxar o cabelo num coque despenteado e vestir umas calças pretas com uma camisola de alças às riscas pretas e brancas. Não me encontrava tão mal como parecia e não me apetecia mudar de novo. Lavei os dentes e peguei no telemóvel - não fosse a minha mãe ligar-me - antes de passar-mos a porta de entrada. Porta de entrada? Que raio? Faz sentido sair-mos por ela? Era só uma Antítese, Bolas o mundo está cheio delas, podes só calar-te? - Subconsciente.
Acabámos por ir mesmo ao bairro alto apanhando o comboio das 22:04. Esta coisa estava cheia até aos cabelos. Não literalmente porque as pessoas eram altas mas estava simplesmente amontoado de pessoas. Às vezes podias pensar que as pessoas saem num sábado não? Só talvez. As raparigas vestiam roupas justas como vestidos ou saias curtas, mas um curto curto mesmo curto que faziam Emmalyn passar-se. Olhei para ela. Procurava entre as pessoas um bar decente; ou que pelo menos parecesse pelo que não reparou nas raparigas e nas suas roupas como se fossem desenhadas. Senti um arrepio quando a maior parte delas não tinha casaco. Eu até gostava de vestidos curtos e justos, sem esquisitices. Mas bolas, hoje estava mesmo frio.
Quando Emmalyn olhou para mim procurando o meu olhar e encontrando-o, sorriu.
- Acho que podemos entrar neste - apontou para um café. Primeiro olhei de soslaio. Depois de um desvio rápido olhei novamente e conclui que: daqui não se vê nada. Pelo que assenti.
Antes de entrarmos e termos uma visão mais nítida sobre o café, algo chamou a atenção de Lyn: a música dos the janoskians - best friends; uma banda recente - 2011 é recente? Bem, a música só diz porcaria para quem percebe. Mas não podia negar que até gostava deles, principalmente a "This Freakin Song". Já Lyn era maluca, e sublinho, maluca, por eles. Para ela, eles eram completamente, totalmente e obviamente lindos. Tanto o Daniel como o Luke, James, Beau e Jai (o namorado, ou ex-namorado? De Ariana Grande); ela era doida principalmente pelo Beau e os seus olhos verdes - penso. Já eu achava o Luke ou era o Jai? Fofinho - sem abandonar obviamente a minha opinião sobre a beleza do Brad Simpson - dos The Vamps e do Harry Styles - dos One Direction - Podia não os ouvir, mas eu tinha olhos. Fazendo-a recuar e saltar até ao bar mais ao fundo da rua. Não faço a mínima ideia de como ela conseguiu ouvir a música com a mistura de remix que a rua fazia. Doida repito.
- Mas onde raio vais? - pergunto dando inicio a uma minha rabugice.
- Para onde os Janoskians me levarem - preferia que tivesse dito Juízo.
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Desperta-me || Pausa
Romance"Não podes permitir que as pessoas vivam num mundo onde tu não existes"