Capitulo 3

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Estava a ser interessante. Uma experiência que sem dúvida não queria voltar a repetir. Sim, a música era boa. Mas honestamente - é necessário as pessoas se esfregarem tanto? Quer se dizer - não é, de todo, agradável de se ver ou sentir.

Perdi Emmalyn algures nestas pessoas todas. Será fácil encontrá-la. 

Saltei até ao bar, e não por opção, mas mais por ser difícil de me mexer aqui. Só me apetecia gritar - bombaaa! - e ver quem se continuava a comer. 

- Era uma cola por favor - pedi ao barman. Este tinha um pano nas mãos pelo que o deixou e desapareceu para o que pensei ser a cozinha. Ainda achas que existem cozinhas neste sítio? - enfim. Olhei em meu redor enquanto esperava pelo único refresco que se encontra aqui dentro, e procurei Lyn. Entre as pessoas a dançarem e empurrarem-se ao som da música, e as pessoas a provarem as suas salivas como que a descobrir o que a pessoa andou a comer ao jantar; não a encontrei de todo. Desejei que esta cola não me desse a maldita vontade de ir à casa-de-banho - o que se podia esperar lá? Continua a achar que seria limpeza. 


O barman voltou com a minha cola contida num copo de vidro, uma palhinha e uma mini sombrinha azul. Peguei na minha bebida e dei vários goles. Está mesmo boa. Fresca e com o gás que eu pretendia. Olhei para as pessoas novamente, pronta para me arriscar a ser golpeada. Acabei por me acobardar e continuar sentada neste lugar até agora seguro.

Com mais de meia cola bebida, pedi outra. Mais valia embebedar-me de gás certo?

O barman voltou com outro copo, outra palhinha e outra mini sombrinha. Estas sombrinhas eram adoráveis. Encontrei-me a sorrir para elas - Oi?

- Era um Gim de cereja por favor - oiço pedirem. Desvio o meu olhar da sombrinha laranja e olhei para a voz. Deus - Cristo. Este rapaz tinha uns enormes olhos cinzentos e um cabelo loiro; escusado seja dizer que - era o rapaz do comboio. 

Antes mesmo de ter noção do que fazia abri a boca:

- Heyy, és tu... - comecei

Ele olhou para mim confuso mas logo suavizou sorrindo - tu - riu-se - por aqui? - não, por ali; Deus do céu cala-te.

- Infelizmente.

Arqueou as sobrancelhas mostrando um ar preocupado. Deus, demasiado adorável - Então? - sentou-se no banco à minha frente.

- Perdi de vista a minha amiga.

- Wow, será fácil encontrá-la - foi exatamente o que eu pensei.

Sorri-lhe antes de voltar a embrulhar os meus lábios na palhinha. Só então tive tempo para pensar: o meu cabelo vermelho escuro puxado num coque deve estar lastimável com aquelas minhas tentativas de sobreviver aquelas pessoas que neste momento pareciam gozar comigo. Arregalei os meus olhos cor de uísque e num só movimento soltei o cabelo na esperança de que ele me ajudasse a parecer melhor. Tentei arranjar um espelho mental e imaginar o meu cabelo encaracolado a cair pelas minhas costas e a dar-me um ar saudável - algo que não me sentia neste momento - as minhas sardas de algum modo parecerem mais claras e menos notáveis - preferia vê-las em outras pessoas como por exemplo em Lyn - meu Deus, a Lyn.

- Provavelmente devia ir procurá-la - sugiro. Mas mentalmente bato-me. 

Aquele teu movimento para soltar o cabelo era desnecessário.

Tranco a cara com os meus pensamentos e parece afetá-lo:

- Pronto, eu largo-te. Escusas de fazer essa cara - ele ri.

Acabo por suavizar e sorrir pedindo desajeitadamente desculpa.

- Não... eu só estava a pensar com os meus botões - declaro.

Sorri-me novamente - queres que te ajude a encontrá-la? - pergunta-me.

- Não precisas - digo-lhe.

- Oh bem, então ok.

Pegou nas suas bebidas e desapareceu por entre a multidão de animais. Juras? Senti-me desiludida por ele não ter insistido. Eu bem queria que ele tivesse insistido. Quer se dizer - dizes-lhe que não precisa de te ajudar mas sentes-te desiludida? Porcaria de ironia.

Voltei a trancar instantaneamente e até a vontade de procurar aquela rapariga eu perdi. E se ela está na casa de banho ou algo assim? A sentir-se mal? Além disso não podia voltar para a casa dela sem ela. Ou sem as chaves dela. 

- Desculpa, acho que já podemos ir - oiço alguém.

Viro-me e encontro o tal rapaz. Pensei que ele se tinha ido embora. Sorri para ele e ele retribuiu o gesto.

- Pensei que tinhas ido - disse. Deus, tão estúpida.

- E fui - começou - mas só para entregar as bebidas aos meus amigos - sorri.

Veio com amigos, compreendi. Saí do banco num salto pois eles eram enormes e os meus pés não se encontravam com o chão. Começámos a andar pela multidão, de animais repito; e comecei a perdê-lo de vista. Foi então que senti um aperto no pulso quando estava a entrar em desespero. Olhei para o meu pulso e encontrei umas mãos agarradas a ele. Segui o trajeto dos seus dedos até provavelmente à sua cara e percebi pelas costas do cabelo que era ele. Até de costas era atraente - Bolas. 

Percebi que me puxava para fora do bar quando chegámos à parte de fora onde de repente parecia tudo tão calmo.

- Desculpa, estava difícil de nos movimentar-mos - ele disse.

Encolhi os ombros em gesto de "não te preocupes". Não a ia conseguir encontrar mesmo.

Quando repito estas mesmas palavras em alta voz, vejo algo de que me lembro. Uma figura feminina a vomitar a um canto deixando o seu cabelo preto para trás das costas numa tentativa de não o sujar: Lyn.

- Deus. Ela está mesmo mal.

Confuso ele junta as suas sobrancelhas seguindo o meu olhar. Desfaz a cara anterior e substituia por uma careta - talvez seja melhor irmos ajudá-la.

Ditas as suas palavras ela para de se despejar num modo liquido e... Deus, tão nojento.

- Bolas, devíamos mesmo.

Olhei para ele e ele estava deslumbrante. Aqueles olhos cinzentos pareciam ainda maiores e chamativos. Parecia que brilhavam. Sorri.

- Tens uns olhos tão bonitos sabias? - sentia-me elétrica. Esta adrenalina de passar pelas pessoas a golpearem-me subiu-me à cabeça quase de certeza - Já te disseram isso não foi? 

Antes que ele me respondesse eu já estava num mundo à parte. Vala, aqueles lábios eram mesmo atraentes... tão rosados. Deus - estavam a chamar-me? Como se atreviam a brincar comigo desta maneira? Ri-me - que maneira engraçada de se mexerem.

Esperem, o que estava ele a dizer?

Quero lá saber.

Aproximei-me deles e eles pararam de se mexer. Não gosto nada desta distância. Que coisa. 

Como pararam de se mexer, deduzi que estavam a parar de me tentar seduzir. Foi então que ouvi um "Oh Deus Meu" vindos de uma voz bastante conhecida minha. Mas mesmo assim sorri e juntei os meus lábios àqueles que os provocaram segundos antes. 

Fechei os olhos e sorri no meio daquele sabor doce. Eles sabiam a cola e algo mais. Mexi os meus e aqueles corresponderam perfeitamente. Tão hábeis, e delicados. Sabiam o que estavam a fazer e abriam-se no momento certo. Senti-os a morderem-me o lábio inferior e a arrepiarem-me. Bolas ele sabia mesmo o que fazer. 

Lá estava eu; lábios com lábios como se não existisse mais ninguém ali. Encontrei-me a sorrir.

Foi então que abri os olhos. 

Desperta-me || PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora