capitulo 7

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Morta. Seria a palavra certa? Eu penso que sim. Eu encontrava-me morta no carro. Sem dúvida.

Mal acordei quando me puxaram pelo carro a fora. Mas por dentro estava eufórica.

Só me passavam asneiras pela cabeça - não sei bem porque - mas só passavam. Apetecia-me manter-me no carro a sorrir como uma doente. 

Era hoje. Merda, era hoje.

Quando abri os olhos esta manhã - madrugada - já me encontrava no estado morto. Literalmente.

Fui obrigada a tomar o pequeno almoço e sentia a comida a lutar por qualquer lugar aqui dentro. 

A minha respiração foi levada de mim tal como a minha alma. Eu estava em pânico total - hipérbole.

Entrei na sala de espera com Lyn e a minha mãe. Já me encontrava vestida adequadamente - com a camisola, a saia e as collants. 

Umas vinte raparigas com o mesmo conjunto que o meu, e algumas outras pessoas que presumi serem do contemporâneo e outros.

Pressão nas minhas veias, artérias, e qualquer sitio onde o sangue passe num corpo. Não estava para pensar em ciências agora.

Começou a chamada e pela porta grande - que presumi ser a de acesso ao auditório - desapareciam raparigas. E quando chegou o M o meu coração decidiu encontrar o lugar no meu peito para bombardear o ar que me restava. Conseguia ouvi-lo ate às minhas orelhas e estava pronta eu mesma para o arrancar do peito quando simplesmente ouvi o meu chamamento:

- Mayen Imogen Szhor King? - Ouch. Ele tinha mesmo que dizer o meu nome todo? Era necessário? Deus dos nomes. 

Coração a dizer adeus.

A minha mãe sorriu-me esfregando uma mão nas minhas costas para dar força. Lyn entrou comigo sentando-se na audiência.

O meu olhar a percorrer as pessoas sentadas. Estavam a conversar, podia ser que nem reparassem em mim. Agradeci à minha mãe por compreender o porque de ter pedido para não entrar comigo - sabia que ela ia gritar o meu nome, matando-me a seguir.

Pousei então o meu olhar no júri e congelei. Como? - A minha mente gritou. 

Cerrei os dentes quando um olhar safira encontrou o meu mel. Ele pareceu sorrir por me reconhecer e senti-me a arder.

Ele seria júri? Ele dançava? Porque estava ele sentado na mesa comprida? Ele não pode ser júri numa escola destas, não faz sentido nenhum. O meu olhar posto no resto dos júris. Todos bem vestidos, e mais velhos e eram tão civilizados e eles... e ele... não fazia sentido - simplesmente.

Enquanto avançava para o meio do palco sentia olhos azuis postos em mim - o que não ajudou - debati-me se seria Emmalyn ou ele a observar-me. 

O júri pedia-me para fazer os paços que eu os ouvisse dizer.  

Sempre que tentava fazer um paço de ballet sentia alguém a rir-se das minhas figuras, fazendo-me pedir aos jurados para repetir seis vezes cada paço. 

Quem se ria era nada mais nada menos do que ele. Sentia-me irritada, ele estava a arruinar tudo!

- Um Grand Jete.

Está feito. O que restava de mim acabou de fugir. A minha alma sozinha.

Eu não sabia fazer um Grand Jete. Tentara tantas vezes mas simplesmente não conseguia e não sabia porque.

- Eu... - engasguei-me - eu... não o sei... fa... fazer - morri.

Ele lançou-se para trás numa gargalhada. O meu coração partiu-se.

Desperta-me || PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora