Capitulo 14

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- O que foi? - Mathew perguntou.

- O que foi o quê? - Perguntei.

- O que foi o quê, o quê? - Ele voltou a perguntar.

- O que foi o q... 

- Imogen - Mathew cortou-me.

Eu devo estar a ficar paranoica. Mas paranoica a um nível estranho. "Penso que te encontrei" mas que raio? Porra.

- Imogen? - Voltou a chamar-me. Olhei para os seus olhos agora preocupados.

Ele chamou-me? Foi ele quem disse aquilo? Mas não faz sentido.

Porque é que haveria de ser ele? Mais uma vez, não faz sentido, simplesmente não faz. Ele olhava para ti. Mas isso era porque ele estava à espera que eu começasse a tocar. Acreditas no que quiseres. És tu subconsciente, quem me mete maluca. Aí sou eu? Olha, vela. Argh.

- Céus, responde - disse ele impaciente levantando a voz. Os seus olhos já não eram tão preocupados, mas sim irritados.

- Nada - eu respondi devagar - então... o que é para tocar? - Tentei mudar o assunto puxando outro.

Parece debater-se antes de simplesmente dizer - o que dei na aula hoje.

Fiquei a olhar para ele a tentar recordar-me das teclas.

- Imogen, eram teclas básicas como é que não te lembras? - Já o estava a irritar. O que fazia com que ele levantasse a sua voz, fazendo um certo nó crescer na minha garganta - detesto que me gritem -, e um nervo a subir.

- É mais rápido se as voltares a repetir, do que te pores a gritar comigo - disse chateada. Porque é que as pessoas adoram discutir?

Ele suspirou e eu rolei os olhos. Que coisa. 

Começou a tocar as teclas novamente, desta vez comigo mais atenta, e eu copiei-as acertando. Não pude esconder o meu entusiasmo. Finamente.

Ele lançou-me um sorriso em modo de aprovação obrigando os meus lábios a sorrirem-lhe involuntariamente.

Começou a tocar outras teclas complicando cada vez mais, à medida que a música se tornava mais aguda. Quem diria que tocar piano requeria tanto treino como ser atleta. Comecei a confundir tudo e a ficar rabugenta.

- Esquece - comecei - já nada vai entrar nesta cabeça hoje.

Mathew olhou para mim antes de olhar para longe.

Estava frustrada comigo mesma. Graças ao piano não pude treinar. Graças ao piano estava nisto à mais de uma hora. Graças ao piano irrito-me. Graças ao piano terei aulas extras. Graças ao piano não fui ter com o David. Graças ao pian... David!

- Bem, queres ir comer alguma c... - Mathew começou.

- Eu tenho que ir - cortei-o apressada. Peguei na minha mala enquanto corria para o lado de fora. Quando cheguei ao parque de estacionamento este encontrava-se vazio - bem, com carros, mas vazio. Desanimei e peguei no meu telemóvel. Mas antes de o tirar sequer da mala, algo bateu-me: O Mathew acabou de me convidar... para comer algo? Só tive tempo de raciocinar esta pergunta antes de o meu corpo correr de volta para dentro quase involuntariamente. Não sabia bem porque estava tão empolgada, mas sei que estava. Comecei a subir as escadas duas a duas. Credo Mayen, acalma-te. Tu nem sabes se ouviste bem. 

No cimo das escadas Mathew já se encontrava a trancar a porta de ensaios. Depois de rodar a chave e retirá-la da fechadura, deu de caras comigo. Levantou uma sobrancelha surpreendido.

- Não tinhas de ir? - Perguntou inclinando ligeiramente a cabeça. Noto que ele faz muito esse movimento.

- Convidaste-me para ir comer algo? - Ignorei completamente a sua pergunta. Estava sem fôlego por ter corrido, mesmo que pouca distância, à pouco tempo.

Desperta-me || PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora