Capitulo 11

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Ele pareceu achar o mesmo quando fechou os olhos após ter encontrado o meu olhar como se o tivessem esbofeteado - o que não era nada uma má ideia.

Suspirou e olhou para o resto das pessoas. Já eu não consegui desviar o olhar. Dei por mim a admirar o seu perfil. Era incrivelmente bonito. O seu alargador preso no lóbulo da sua orelha. O seu cabelo por trás da mesma. Era preto e despenteado para cima. O seu corte era diferente... só era cumprido à frente, deixando a parte de trás curta. Ficava-lhe bem.

A sua pele pálida em contraste com os olhos. O nariz gozando a sua linha perfeita. 

- Mayen Imogen - o meu nome soou.

Acordando para a realidade respondi:

- Oh... presente.

Ele escrevinhou qualquer coisa no caderno que trazia entre mãos. Provavelmente a marcar a minha presença.

Não demorou muito até ele perguntar a cada um de nós o que sabíamos tocar. Fiquei surpreendida quando o Aiden respondeu Nocturne em sustenido C menor; mesmo que eu não fizesse a mínima do que significava.

Quando chegou a minha vez de responder, voltei a olhar para todos.

- Eu? Eu não sei tocar nada... - respondi. Se me inscrevi, era porque queria aprender não? Não lhe dei a oportunidade de voltar a falar quando o interrompi - espera. Sei tocar Happy Birthday - sorri.

A turma riu-se e eu sorri ainda mais. Não era uma piada. Era mesmo a única música que eu sabia tocar. Pensei em acrescentar que a música de Natal ficou-me a meio; mas passei-lhe a palavra.

Ele pareceu debater-se consigo mesmo. Cerrando o maxilar respondeu-me:

- Adorável - sorriu - Deus, é o sorriso mais forçado que alguma vez vi na minha vida.

Pensei que ele ia ofender-me. Mas sorri - o máximo que pude - quando entendi o porque de não o ter feito. Ele estava a dar uma aula. Não podia ser mal criado com qualquer um de nós.

- Eu sou o Mathew Thomas e serei o vosso professor de piano clássico - formal.

- Que formal - inclinei a cabeça num sorriso. 

- Não me queiras irritar - respondeu entre dentes.

- Nada disso - sorri mais ainda - professor - carreguei nesta última palavra.

Ele respirou fundo e começou a explicar à turma os planos para as suas aulas. Nas férias de Natal as aulas seriam de terça a sexta-feira. Com o Natal à porta, as nossas aulas retomariam lugar no dia 27. Mesmo no ano novo teríamos aulas - quão injusto ele é.

- No ano novo? E quem não estiver aqui? - Protestei. Ele não tinha que saber que eu ficaria em casa a deprimir contra um filme no ombro fino de Emmalyn. Mas também não me ia obrigar a aparecer num dia onde menos me apetecia vestir.

- Eu esclareci as indicações. Passei-vos a informação que me foi dada - olhou-me. O seu olhar frio nos meus - vocês fazem dela o que bem entenderem.

Estava pronta para voltar a protestar quando Aiden me puxou pelo braço.

- O professor parece pronto para te arrancar as tripas - avisou - é melhor manteres-te calma.

Se ele me arrancasse as tripas eu... sela. Decidi seguir o concelho de Aiden, e calar-me. 

Ele nem devia ser professor. Ele não parecia ser muito mais velho do que eu. Nem parecia encontrar-se na casa dos vinte, o que estava ele aqui a fazer de qualquer das maneiras? 

A aula não durou - pois foi a apresentação. Mas no seu decorrer eu lançava comentários propositados; pois sabia que ele não podia ser rude.

Ele acrescentou que a aula de amanhã seria adiada para as cinco em vez das três e meia. Todos assentimos.

Eu só teria que assistir às aulas desta semana e pelo menos a mais duas da próxima; para que a minha mãe me permitisse desistir desta estúpida ideia. Ela deserdava-me se eu desistisse após uma só aula, depois de tanto ter implorado para que me deixasse inscrever. O que me implicaria - esta quarta feira, quinta feira, sexta feira, a próxima quarta-feira e a próxima quinta-feira. Duas quartas-feiras, duas quintas-feiras e uma sexta-feira - cinco dias. Eu aguentava.

Segunda seria Natal. A minha cabeça gritava Natal e prendas. Tinha compras para fazer!

Toda a turma começou a dirigir-se para a porta por onde entraram antes. Copiei o gesto das pessoas, pronta para deixar a sala quando um par de dedos frios agarrou-me o braço.

- Qual é a tua? - Perguntou-me um par de olhos azuis.

O meu corpo paralisou com a visão. Mathew. 

- Desculpa? - Deixei escapar.

Ele ainda agarrava o meu braço.

- Para quê aquelas piadas durante a aula?

Sorri soltando-me do seu aperto.

- Não gostas-te? - A minha cara num beicinho não treinado - Eu que as estudei com cuidado.

Cerrou o maxilar.

- Para a próxima tenta manter-te simplesmente calada - ele disse.

Só isso?

- Só tens que me aturar cinco aulas - comecei - se eu aguento, tu também.

Procurei o seu olhar e surpreendi-me quando ele pareceu confuso - vi uma expressão nele; mesmo que essa expressão fosse a confusão.

- Cinco aulas? - Ele perguntou.

Assenti em resposta. Ele olhava-me nos olhos com aquele olhar azul. Senti o meu sangue a subir.

Respondi-lhe à questão: porquê; antes mesmo de ele a pronunciar.

- Não pensei que fosses o professor - iria desiludir o meu pai, eu sabia disso. Mas esperava que ele compreendesse que existem certas coisas que não consigo suportar. Ele era uma delas - logo irei desistir das aulas.

Ele ainda não tinha desviado o seu olhar do meu, arrepiando-me. A cor dos seus olhos era linda. Para além daquele azul forte... existia algo mais. Aquela cor verde por de baixo do azul. Era incrível.

- Não vais desistir das aulas - ele disse bufando.

Olhei para ele semicerrando os olhos. O que queria ele dizer com isso?

- Irei pois - declarei. Clareei a voz para acrescentar - brevemente.

- Não sabes o que dizes - wow.

- Tu é que não sabes o que dizes - retorqui chateada quase levantando a voz.

Bolas, lá estava eu a irritar-me. Sentia as bochechas quentes percebendo logo que estariam rosa.

- Eu vou desistir - repeti sem me aperceber que me aproximava dele.

Ele deu um paço em frente olhando-me nos olhos. Uns seís centímetros entre nós.

- Não vais - sorriu. A sua linha de dentes perfeitos - e sabes porque?

Abanei a cabeça sem expressão.

- Porque nessa altura - ele começou - estarás tão vidrada em mim, que não vais conseguir desistir.

O meu corpo estagnou. O meu sangue subiu totalmente para a cabeça. As minhas bochechas estariam vermelhas quase de certeza. O meu coração a um nível que pensei ser impossível. 

Antes que pudesse expressar qualquer palavra que fosse a decifrar ele sorriu novamente roubando-as de mim. Não consegui responder.

O que queria ele dizer com aquilo? Vidrada nele? Mas que... convencido não era a palavra certa!

Os meus pulmões decidiram doar-me ar para respirar deixando-me assim recuperar.

Quando finalmente consegui decifrar um "Explica-te", ele já não se encontrava na sala.

Estava sozinha, espectada a olhar para o nada e a recuperar de qualquer coisa que ainda não percebia o quê. 

Quando percebi o quanto ele me afetou - já eu me encontrava na escuridão.

Desperta-me || PausaOnde histórias criam vida. Descubra agora