Ninjas casamenteiros

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Charlie estava em uma festa de casamento chique, em um espaço de eventos ridiculamente branco com lustres e enfeites brilhantes. Vestido com uma calça jeans surrada, um tênis daqueles coloridos de professor de educação física e a camisa da Hatsune Miku, com um paletó sujo e cor caqui por cima, sem os chifres e a cauda, parecia um mendigo bêbado que profetizava no meio da rua sobre o fim do mundo com um megafone estampado com a bandeira do Brasil, o que não era surpreendente já que a noção de moda dos demônios é tão ruim quanto de uma criança no guarda roupa da mãe usando batom vermelho como blush. Era uma imagem bem destoante em relação a toda a pompa de uma festa de casamento milionária, aonde música dos anos 80 tocava no fundo, já que a banda contratada passava o som, enquanto algumas luzes de holofote rodopiavam pelo salão preenchido pelo barulho das vozes dos inúmeros convidados. Frank estava ao lado do demônio, entretido com uma tacinha pequena que continha uma bebida transparente e uma azeitona enfiada em um palito dentro, se perguntando porque diabos misturariam bebidas alcoólicas e azeitonas, já que eram coisas tão absurdamente distintas. Vestia um terno idêntico ao que usava de costume, mas este era azul marinho com algum detalhes vermelho sangue. Era sem dúvidas uma dupla extravagante aos olhos.

- Já bati ponto. Posso ir embora. - Murmurou Charlie, encolhido do lado de Frank, os braços cruzados. Faziam exatos quinze dias desde que Cheryl havia lhe chamado para o casamento e nesses últimos tempos nada realmente tinha acontecido para que fosse importante de ser relatado nessa narração, além da insistência incômoda de Demian para que Charlie fosse para a festa, sob o argumento de que se o barman estivesse ao lado dele as pessoas o achariam mais bonito. Demian estava realmente empolgado de achar algum pretendente humano para poder se divertir um pouco.

- Nós acabamos de chegar. Foi difícil vir para essa festa e devemos aproveitar, já que eu nunca fui pra uma festa antes. Você deveria estar feliz por nada do plot principal de sua maldição ter acontecido ainda, para poder admirar essas tacinhas minúsculas com essas azeitonas dentro e toda essa gente bem vestida. - Frank estava mesmo interessado na investigação da taça de azeitona, a encarando determinadamente enquanto falava, colocando em prova seu olhar clínico.

- Só tivemos problemas para chegar porquê todo mundo resolveu me obrigar a vir. Se eu não viesse, não teria problemas para chegar, já que eu não teria vindo. - Murmurou, com a cara enfezada.

Frank deu alguns tapinhas na cabeça de Charlie, como uma espécie de consolo para o desapontamento juvenil do demônio de 800 anos. A festa estava apenas no começo, então não tinha aparecido ninguém que eles conheciam, que eram uma lista longínqua de duas pessoas: Demian e a noiva.

- Casamentos são deprimentes. São pessoas se juntando pra sempre, só que nunca é pra sempre, e esse muito menos já que a Cheryl é burra em casar com um humano. Só é um grande evento pra jogar dinheiro fora, e dançar música melosa como se estivessem felizes. Podiam muito bem gastar o dinheiro ou doar pra mim, que eu usaria pra coisa melhor - Disse Charlie, ainda de braços cruzados e meio puto, enquanto fazia a sua análise sociológica das festas de casamento ao mesmo tempo que recebia os tapinhas carinhosos de Frank, que tentava acalmar o demônio revoltado sobre o uso indevido de dinheiro que poderia ir para a conta dele e ser usado de formas melhores, mesmo que todos nós sabaimos que ele gastaria todo o dinheiro em mangá de hentai.

- Não seja mal. Todo mundo está feliz na festa. Se esses seres humanos gostam de gastar as cédulas verdes que eles inventaram para manter a sociedade em festas bonitas assim, ao menos vale a pena, já que eu posso usar meu terno chique.

- Você usa um terno o tempo todo, não vejo problema de usar essa porcaria dentro de casa.

- O problema é que não teria ninguém pra admirar. Aqui tem. - Disse, dando um golinho na taça, observando os arredores. - Mas vir a esta festa me preocupa um pouco. Se passou um bom período de tempo sem nenhum acontecimento, mesmo que a minha percepção de tempo seja bem ruim comparada a dos outros, e pelo o que eu entendi do pdf que Ulukie me mandou explicando o que eu deveria saber para lhe manter em segurança até que achassem o culpado da maldição, é que já passamos da parte de apresentação dos personagens e agora seria a apresentação de um problema principal, e eu acho que uma festa como essa seria uma boa oportunidade para o apocalipse, que é a coisa que eu mais temo, já que eu já li livros sobre apocalipse e todos eles são muito deprimentes e violentos. Se for o fim, foi muito bom lhe conhecer Charlie, e perdoe o departamento de Maldições e Sentenças de Morte pela falta de capacidade de evitar tamanha fatalidade. - Terminou, um tanto emocionado.

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