O reino Diberkati-Merah era um lugarzinho complicado localizado em uma dimensão meio deprimente. As pessoas desse reino ainda estavam ocupadas demais se acostumando em viverem juntas, já que haviam passado séculos em uma segregação baseada em cor de sangue, e por isso não tinham tempo para descarregar o ódio de seus corações em vilões de novela ou brigas políticas. A verdade era que no Reino Diberkati-Merah não havia novelas, e como o poder era absolutista e ninguém era doido, também não haviam brigas políticas, e todos esses fatores faziam deles um povo muito raivoso.
Por isso hoje era um dia tão importante. O dia da luta pelo trono. Um dia em que todos os jovens raivosos poderiam usar seus poderes e armas para tentar matar seu governante e tomar o poder, em uma verdadeira utopia do proletariado. Um dia em que dezenas de pessoas iam bater umas nas outras por diversão, em um estádio tão pomposo quanto o Coliseu, e as crianças iriam comer cachorro-quente e outras coisas piores.
Também era o dia em que o cronômetro no peito de Sirius Ulukie, o Príncipe herdeiro, iria zerar.
Mas ninguém ali dava a mínima pra isso. Eram três horas da manhã e todos estavam histéricos demais para dar a mínima ou ao menos lembrar que o rei havia tido um filho.
Ao contrário do povo do reino Diberkati-Merah, Ulukie estava dando muito mais do que a mínima para isso, e não havia conseguido dormir nos últimos dias exatamente por esse motivo. E agora, ele estava ali, no meio da multidão, junto com um estagiário que também dava muito mais do que a mínima e um demônio que dava a mínima, mas não tanto assim.
Ulukie estava tão pálido que Frank havia começado a ficar com medo de que ele morresse antes da hora. Seu cronômetro ainda marcava 10 horas, o que significava que iria zerar às 13:00 da tarde, logo na hora do almoço. Ninguém ali estava emocionalmente preparado pra quando aquilo viesse a acontecer. Frank havia tentando perguntar para Ulukie se ele queria ser cremado, se queria um vinho de cobra como tributo à sua alma ou se preferia flores, mas sempre parecia estranho demais perguntar isso para alguém e ele desistia. Charlie havia se fingido de doido e não havia tocado nenhuma vez no assunto, e foi nessas de se fingir de doido que havia ido parar ali. Ele não devia estar indo ver aquela luta, já que não era nada perto de alguma coisa parecida com um apoio emocional para o cara que ia morrer, e muito menos estava com vontade de ir assistir uma rinha de gente em outra dimensão. A única razão que ele tinha para estar ali era que era um lugar com muita gente e muita muvuca, perfeito para se cometer um assassinato, e ele estava com tempo contado para que cometesse um.
Depois de quase duas horas, finalmente conseguiram entrar no estádio.
Era ridículo de grande e ridículo de lotado.
Andaram mais meia hora para conseguirem achar três lugares juntos para se sentarem, e bem, não acharam. Charlie acabou sentando na fileira do fundo, entre duas crianças catarrentas que conversavam energeticamente, e acabou se acostumando com a situação até que rápido, apesar do ódio. Comeu um pacote de amendoim que havia roubado em uma barraquinha durante sua trajetória até ali e começou a pensar em tudo que devia ser pensado, como, por exemplo: Quem ele iria matar, como ele iria matar e onde ele iria fazer isso. Também pensou no que iria fazer quando Ulukie morresse ali no estádio, de forma pública e idiota, e percebeu que terem ido para aquele evento durante aquela situação complicada havia sido uma ideia de jerico.
Ulukie jogou um pacote de amendoim na cara de um adolescente emo e o expulsou de seu lugar. A algazarra da multidão ao seu redor estava lhe dando nos nervos e ele sabia que estava sendo um filho da puta, mas tinha vomitado sangue a noite toda e não estava com a mínima disposição para dizer palavras agradáveis e pedir licença. Além do mais, ele era da família real e não era tratado nem como algo perto de um pires chique do palácio real, quem dirá um príncipe, e apesar disso nunca ter lhe incomodado, estar ali de novo em um dia tão intenso havia lhe inflamado sentimentos complicados. Talvez fosse por estar perto de morrer e seu pai ainda não ter lhe dito uma única palavra de consolação, ou por não ter recebido nenhum tapinha nas costas ou tratamento especial. Ulukie sabia que era tão especial quanto um pão de milho, mas até pães de milho são elogiados às vezes. Até pães de milho ouvem "Você fez um bom trabalho e vai ficar tudo bem, mesmo que agora você vá virar torrada."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Demônios, maldições, e todas essas coisas que jovens gostam.
ParanormalCharlie não tinha nenhuma grande expectativa de vida. Ele estava condenado a viver no Vazio, em um bar abandonado e sem clientes, tendo como única companhia um cacto chamado Tiffany e um gameboy quase sem bateria. Mas então, um elevador apareceu e e...