Itzel não sentia mais o ar entrar em seus pulmões.
Ela o buscou. Buscou o ar com todas as forças que ela tinha, mas ele nunca chegava a ela.
Então, depois de sentir seu corpo se banhando em desespero, Itzel finalmente percebeu que ela não precisava mais do ar. Ela era imortal, e imortais não morrem de asfixia, então o que ela estava fazendo? Pra que tanta agonia? Era apenas o susto. Era apenas o seu corpo reagindo como reagiria quando era mortal. Ela apenas precisava se acalmar, e se acostumar a não ter o ar ali consigo. Itzel já havia chegado tão longe, porquê um tiro na altura do pulmão a derrotaria?
Itzel foi parando de se forçar a respirar. E foi se levantando. Ela estava sangrando feito um animal, mas mesmo assim ainda agradecia a qualquer deus maldito que lhe escutasse naquele momento pelas balas não terem lhe atravessado. Daria pra continuar daquele jeito. Daria sim.
Itzel se levantou, se apoiando na espada e começou a andar, tentando fingir normalidade, mesmo que sentisse que algo estava estranho. Era como se algo houvesse morrido dentro dela, como se ela não estivesse mais ali, ou até como se ela estivesse em um sonho estranho. Itzel não se sentia bem.
Continuou andando, e seus lábios começaram a ficar roxos. Também passou a não sentir mais as pontas dos dedos. Tudo doía. Itzel era imortal, mas seu corpo não, então doía. Doía muito. Ela se sentia um zumbi, uma coisa sem rumo presa dentro de um corpo quebrado. A visão estava se estreitando um pouco, e ela teve medo, pela primeira vez depois de tantos anos, de estar realmente perdendo O Controle.
Por que ela estava continuando com isso? Por que aquilo não melhorava? Por que ela sentia que ela estava caminhando na beira de um abismo, apenas na espera de um vento forte demais aparecer para que ela não pudesse mais se segurar em pé?
Illa gostaria de encontrar um zumbi quando tudo aquilo acabasse?
Itzel apertou o passo, balançado a espada dourada manchada de sangue seco. Seu próprio sangue pingava no chão, manchando as rochas alaranjadas. Itzel começou a seguir um outro cheiro de sangue, que não era dela, pois pensar logicamente não parecia estar funcionando mais, então seus instintos começaram a vencer um pouco. Ela seguiu o segundo cheiro de sangue feito um urubu segue o cheiro de carniça, e a espada já havia caído no chão faz muito tempo quando ela atacou sua primeira presa.
Itzel não estava pensando direito. Ela também não estava respirando. Seria falta de oxigênio no cérebro, ou era apenas ela virando uma besta demoníaca para sempre?
Os nahuatl, ao perderem O Controle, perdiam o resto de humanidade que lhes cabiam. Foi isso que Ulukie viu quando uma criatura meio humanoide que um dia foi Itzel se jogou em cima dele, cravando as unhas em seu ombros.
As presas estavam maiores, a boca babava, e mais um par de olhos vermelhos haviam surgido, agora embaixo dos que já estavam lá. Itzel era pequena e magrinha, mas agora parecia ter dobrado de tamanho e força, e Ulukie pensou que aquilo tudo só podia ser uma coisa: Karma. Não por parte de Itzel, mas sim por parte dele, por ser um desgraçado problemático deprimido e inútil que não se importava com os outros pois estava tentando se proteger de merdas que ele nunca iria conseguir se desvencilhar, então agora o universo mandava o capiroto em carne e osso para o aniquilar.
Mesmo assim, Ulukie tentou fazer alguma coisa. Tentou se mexer, recarregar as balas na arma, ou até sei lá, dar um soco na cara do bicho. Mas não dava. Ele era pequeno demais, e as garras estavam afundando em sua carne de uma forma que não o deixava mexer os braços, nem mesmo se quisesse. Ulukie estremeceu. Um fio de saliva do bicho que Itzel havia se tornado caiu bem em cima de sua boca.
A alguns metros de distância, no fundo do corredor, Charlie assistia toda a cena enquanto pegava fogo, com a esfera de magia morta incandescente em mãos, a qual estava cada vez mais próxima de explodir. No canto da varanda, Aretha continuava semiconsciente no chão, enquanto a neve caía sob suas queimaduras lhe causando um pouco de conforto.
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Demônios, maldições, e todas essas coisas que jovens gostam.
ParanormaleCharlie não tinha nenhuma grande expectativa de vida. Ele estava condenado a viver no Vazio, em um bar abandonado e sem clientes, tendo como única companhia um cacto chamado Tiffany e um gameboy quase sem bateria. Mas então, um elevador apareceu e e...