Quando criança, Ulukie não fazia ideia de quanto tempo uma pessoa aguentava ficar sem respirar. Mesmo não sabendo, ele tinha quase certeza de que estava bem perto de descobrir.
Desde que a mãe dele havia morrido e ele tinha sido, como o pai dele tinha dito; "Amaldiçoado", toda vez que deitava para dormir era difícil de respirar. Tinha virado rotina. Talvez fosse o medo proporcionado por ele quase conseguir ouvir o tic tac da coisa em seu peito, talvez fosse a confusão que aquilo lhe trazia ou talvez fosse apenas por ele estar se sentindo muito sozinho o tempo todo. Sozinho de uma forma que mesmo não tendo visto muita coisa da vida, mal conseguia respirar só de pensar que estava pra morrer. Ulukie era uma criança, e todo o mundo dele havia virado de cabeça pra baixo de um jeito que fazia com que as vezes ele se sentisse tão mal que chorava até conseguir dormir, rezando para que não parasse de respirar durante o sono.
Aldebaran tinha dito que aquele conômetro marcava o dia em que Ulukie iria morrer, e mesmo que com seus cinco anos de idade o menino não entendesse como o pai sabia tanto sobre aquele assunto, ele acreditou. O que ele faria? Não havia lhe sobrado nenhuma figura de autoridade para confiar ou lhe consolar, e mesmo que o rei não fosse um bom exemplo na segunda opção, ele era um adulto e falava com tanta propriedade das coisas que era difícil não confiar.
E também a única vez que Aldebaran se importou com Ulukie desde que Alhena havia morrido foi quando aquela maldição apareceu.
Não foi de um jeito paterno e emotivo. Foi mais uma curiosidade disfarçada de pena. Mesmo que ele odiasse a criatura, aquilo era meio trágico demais para não fingir dar alguma importância, e mesmo que a criança tivesse vindo com milhares de superstições lhe envolvendo e com um sangue de cor esquisita, aquele menino ainda era fruto de um casamento político, então jogá-lo em um bueiro não parecia uma decisão certa a se fazer. A distância emocional a qual Aldebaran se mantinha do filho deveria ser o suficiente para que ele não morresse como todos os outros que ousaram se aproximar do menino durante toda sua vida.
Não fazia bem para Ulukie que começou a ser criado pelas paredes, mas ao menos o rei se autopreservaria.
***
Depois de um mês e meio com um cronômetro no peito e dois meses orfão de mãe, Ulukie aprendeu que tinha que se virar sozinho. Ele só não sabia como se virar sozinho quando a porta de seu quarto se abriu em um barulho estranho.
O menino estava sentado na cama, lendo um gibi, quando ouviu um PLIM junto com uma música baixinha. Logo, uma segunda porta de ferro se abriu, revelando uma mulher peixe com um chifre de unicórnio e um homem alto com um cabelo preto bem comprido preso em uma trança. O homem tinha uma boca esquisita com presas também esquisitas e quatro olhos cor de rosa, além de uma expressão impassível. A mulher, que no caso era Ty em seus plenos 28 anos de idade, carregava um guarda chuva amarelo e apontava ele como se fosse uma lança para o homem que a acompanhava, enquanto se mantinha o mais distante possível do mesmo. Depois de quase dez segundos de puro silêncio, ela o cutucou com a ponta do objeto.
- Juno. A gente chegou.
Juno carregava uma pasta preta lotada de papéis e quase as derrubou com o cutucão. Ele se recompôs rápido, se apoiando um pouco na parede do elevador. Ele encarava todo o lugar meio confuso.
- Quando a gente tá?
Ty suspirou. Era muito difícil ser a babá do cara sendo que a única coisa que podia fazer para direcioná-lo era bater nele com um guarda-chuva.
- Primeira vez na casa do menino.
Juno acabou apenas concordando com a cabeça, logo saindo do elevador. Aquela seria a parte complicada. Era um ambiente novo, e mesmo que ele já o tivesse visto em outras memórias, nunca havia estado ali de verdade para se acostumar. Ty foi atrás dele, com o guarda-chuva aberto feito um escudo para se proteger de qualquer pessoa que resolvesse tocar nela, pois isso acabaria transformando-as em pó. Ela estava odiando o fato de ser obrigada a sair do escritório até que achassem outra pessoa para impedir que Juno se perdesse no tempo no meio de qualquer missão, pois a partir do momento em que ela pisava para fora daquela sala e ia para um lugar com pessoas desconhecidas, qualquer deslize acabaria fazendo com que houvessem mais vitimas de sua maldição.
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Demônios, maldições, e todas essas coisas que jovens gostam.
ParanormalCharlie não tinha nenhuma grande expectativa de vida. Ele estava condenado a viver no Vazio, em um bar abandonado e sem clientes, tendo como única companhia um cacto chamado Tiffany e um gameboy quase sem bateria. Mas então, um elevador apareceu e e...