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NORA

De frente ao espelho observo minhas novas curvas, uma sensação completamente nova, me sentia tão feliz com essa transição do meu corpo, mesmo apesar de perder algumas peças do guarda-roupa por conta do volume totalmente avantajado do meu abdômen.

Em meio ao meu transe, admirando meu reflexo, percebo de soslaio Bill me observando a espreita, encostado na porta com o olhar fixo na minha barriga, aparentemente com o pensamento longe.

— Você está aí... — digo envergonhada, sem saber se era pelo seu olhar ou pela invasão de privacidade.

— Eu só... você está tão bonita. — diz entrando por completo no quarto.

— Obrigada. — respondi tímida.

— Está crescendo tão rápido — diz se aproximando. — Eu posso tocar?

— O que? Claro que pode, é seu também. — ri.

Bill fica diante de mim, analisando com o olhar curioso, com receio de me tocar ou talvez sem saber como, buscando por meu consentimento. Sem enrolar segurei sua mão e pus sobre minha barriga, guiando onde o bebê estava.

— Uau, é bem duro.

— Sim. — segurei o riso. — É o corpinho dele ou dela.

— E sente chutar?

— Não, ainda não. As vezes tenho a impressão de que se mexe mas é bem sutil.

— E não te preocupa? São 5 meses, deveria acontecer alguma coisa. — diz ansioso.

— Calma Bill, não é tão anormal assim, o bebê ainda está novinho, no tempo certo vai sentir chutar. — confortei no momento em que recolheu sua mão da minha

— Vou deixar você terminar de se vestir, estarei esperando na sala. — forçou um sorriso antes de ir.

— Tudo bem. — suspirei decepcionada.

Até quando ele vai agir assim?

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BILL

O Para-brisas do carro limpava os resquícios da chuva para que eu pudesse visualizar a estrada, o clima estava bastante frio e chuvoso, nessa época do ano é comum quando acontece os acidentes, sem contar com o inverno que era ainda pior. Nora estava ao meu lado, no banco do carona, vendo a chuva cair da janela.

— No que está pensando? — pergunto curioso.

— Nada. — diz simples. Dei de ombros e volto minha atenção para a pista.

Bill... você acha que um dia, vamos conseguir por um ponto final nisso?

— Nisso o que?

— Você sabe... a máfia e toda essa confusão.

— Com o tempo tudo se ajeita, talvez daqui há alguns anos nem vamos mais lembrar de tudo isso.

— É que eu tenho tanto medo. — acariciou sua barriga. — E se alguma coisa acontecer com o bebê?

— Por que está falando disso? Não tem mais nada para falar?

— Porque é a verdade! Você sabe que eu corro risco e a cada dia o meu medo aumenta. — não respondi, apenas continuo dirigindo.

Quando chegamos na sede Nora desceu primeiro do carro e seguiu em frente sem me esperar, essa mudança de humor repentina dela está insuportável, assim que adentro o ambiente sou abordado por minha parceira Melanie.

Behind Blue EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora