Capítulo 1 - Não aprendi a dizer adeus

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— Vem cá, meu neném, vem cá! — Eu abro o portão pesado de madeira que a mantém presa.
Ela se aproxima de um modo espalhafatoso, o que me faz rir. Às vezes esqueço que meu neném é uma porca de 150 quilos.

— Vem, Pippa! — eu chamo novamente.

Pippa me olha com uma expressão estranha, mas continua vindo na minha direção e caminha como um gigante de salto alto. Meu coração se encolhe um pouco. Não estou preparada para fazer o que vim fazer.

Ela para na minha frente. Seus olhos encontram os meus e eu enrolo os braços em seu corpo rosa gigante e pesado, mas ela desvia do meu abraço, o que me faz cair no chão enlameado.

— Pippa! — eu exclamo, sentindo a terra e a lama roçarem em meus olhos e grudarem no meu cabelo.

Me levanto e a encaro, séria.

— Meu amor, por que você fez isso?! Que coisa feia!

Ela me olha de novo e sinto um arrepio.  Parece saber o que está prestes a acontecer. Pippa nunca tinha me negado um abraço antes.

— Ei, toma isso — eu digo, entregando-lhe uma banana.

Ela destrói a banana com casca em duas enormes mordidas, e eu rio com a falta de graciosidade da minha princesa.

— Filha... — eu digo, fazendo um carinho em sua barriga. — A mamãe vai viajar. A gente vai ficar um tempo sem se ver... Mas todo mundo vai cuidar de você, tá bom?

Ela me encara. Nunca vi seus olhos tão profundos, e sei que compreende o que acabei de dizer. Ela sabe que isso é uma despedida.
Eu beijo o topo de sua cabeça e fecho o portão de seu cantinho. Não quero me demorar, porque sei que a chance de desistir é maior.

Entro em casa, e minhas malas estão prontas no chão da sala. Mônica está sentada no sofá, encarando as malas como se elas fossem uma visita indesejada.

— Como foi? — ela me pergunta. Começo a chorar no mesmo instante, e ela passa as mãos nos meus cabelos para tirar pedacinhos de barro que ficaram presos entre os fios.

— Ela vai me odiar pra sempre — eu digo. Mônica ri da minha cara, mas me abraça.

— Deixa de ser ridícula. Você é a melhor mãe do mundo. Ela não vai se esquecer de você.

Abro a boca para responder, mas Porthos entra na casa com as chaves do carro nas mãos, e diz:

— Vamos, Paula?

Eu assinto. Meus pais e Nancy me esperam no lado de fora. Todos me abraçam ao mesmo tempo.

— Eu amo vocês — digo, sem conseguir segurar as lágrimas. — Cuidem da Pippa.

— Pode deixar — diz Porthos. — Amanhã vamos ter bacon no café da manhã.

Eu dou um soco no braço dele, e digo:

— Larga de ser ridículo.

— Não se preocupe, Paulinha — diz Mônica, enlaçando o braço em volta do meu pescoço. — Vou garantir que ele coma só biscoito no café.

Eu rio. Vou sentir falta dessas implicâncias.

— Boa viagem, meu amor — meu pai fala. —Você é mais forte do que imagina. Vai se sair muito bem.

— Mas não precisa exagerar nas provas de resistência! — minha mãe completa. — Se você não estiver aguentando mais, desista. Sua saúde é mais importante do que qualquer prêmio.

— Sim, senhora — eu digo, mas sei que vou ignorar completamente esse conselho dela. Só aceitei participar dessa loucura para ajudar minha família, então vou lutar até o fim pelos meus objetivos.

Ayla Onde histórias criam vida. Descubra agora