Capítulo 2 - O começo de um sonho

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Meu Deus, onde foi que eu me enfiei?! , é a primeira coisa que penso assim que coloco os pés no jardim da casa. Tem muita gente aqui. Muita gente disposta a fazer qualquer coisa por um milhão e meio de reais. Eu sinto um frio na barriga. E se ninguém gostar de mim?
E se acharem minha voz muito irritante?

Um garoto se aproxima de mim e estende a mão, e eu trato de ignorar no mesmo segundo esses pensamentos negativos.

— Oi, meu nome é Danrley — ele diz. Ah, eu só queria ter uma agendinha pra anotar o nome de todo mundo. Boninho podia liberar uma caneta para mim.

— Oi Danrley, eu sou a Paula — eu digo, retribuindo o aperto de mão. Danrley sorri e desaparece no meio dos outros participantes, e e eu faço o mesmo. 

Respiro fundo, pensando no tanto de gente que queria estar no meu lugar. Não é hora de insegurança ou medos bobos. Se eu estou aqui, vou honrar o nome da família Von Sperling. Eu me viro para os outros participantes, que estão se cumprimentando e se apresentando.

— Prazer, Hariany — uma voz fala atrás de mim. Socorro. Por que todo mundo tem nomes tão difíceis? Por que ninguém se chama Maria, João, José..? Como é que eu vou decorar esse tanto de nome diferente?!

Eu me viro e encaro a dona da voz. É uma menina loira, magrinha, com uma pinta no queixo e um sorriso lindo.

— Prazer, Paula, mas pode me chamar de Paulinha — eu respondo, engrossando um pouco a voz, e por um momento não sei se devo estender a mão a ela ou cumprimentar com um abracinho.

Ela acaba decidindo por nós e me dá um abraço rápido. Só consigo pensar que ela tem um cheirinho muito bom, e por algum motivo isso faz com que eu não esqueça seu nome.

Hariany se vira para cumprimentar outras pessoas e eu faço o mesmo. Depois dela passam por mim Alan, Carol, Rodrigo, Alana... ou será Elana? Não me lembro mais!
Juro que vou aprender o nome de todos até semana que vem.

Se eu não for a primeira eliminada.

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— E minha melhor amiga é minha filha — ela diz, o que me faz erguer os olhos. — Uma porca de 150 quilos chamada Pippa.

Uma porca?! Essa garota tem uma porca de estimação?

Eu deixo escapar uma risadinha, mas acho que ela nem percebe. Todos nós estamos sentados numa rodinha de apresentação. Confesso que não estou prestando muita atenção no que esse tanto de gente está falando, mas não tem como ignorar essa menina.

O nome dela é Paula, se bem me lembro. Paula, mas pode chamar de Paulinha, era isso que ela tinha dito quando nos apresentamos. Meu Deus, eu pensei que ela fosse uma patricinha. Mas que patricinha mora numa fazenda e fica agarrada numa porca gigante?
Ela vem de uma cidadezinha pequena, igual a mim. E não tem amigos.

Ela continua falando, e por algum milagre eu continuo prestando atenção. Algo parece mudar dentro de mim, e uma sensação estranha me preenche. Parece... parece que eu já conheço essa garota.

Não viaja, Hariany, eu penso. Não faz o menor sentido. Isso só é um sintoma de que já estou com saudade de casa.

Eu respiro fundo. Confesso que estou com um pouquinho de medo. Nem todo mundo me entende e tem paciência comigo. E se ninguém gostar de mim?
Discretamente, eu toco o crucifixo que minha mãe me deu antes de eu ir embora. Só quero poder chamar de amigo um desses rostos desconhecidos.

É nessa hora que Paula me olha e sorri. Eu sinto minhas bochechas esquentarem e me apresso a guardar o crucifixo. Digo a mim mesma que foi só coincidência, que o fato de Paula olhar para mim bem na hora que pedi um amigo é só um fato aleatório.
Ela deve achar que sou doida. Doida e desatenta.

Eu demoro a perceber que um silêncio sepulcral se instalou na rodinha de apresentação, e só me dou conta que está todo mundo me olhando depois de alguns segundos.

— É sua vez — uma garota diz. Se eu não me engano, o nome dela é Hana.

— Ah — eu digo, me sentindo completamente idiota. — Meu nome é Hariany, eu tenho 21 anos e venho de uma cidadezinha bem pequeninha chamada Senador Canedo, e é por isso que eu me identifico com ela. —  Eu aponto para Paula, mas me arrependo no mesmo segundo. Que droga, estou pedindo para ela me achar uma desesperada!

Ela sorri pra mim e eu continuo contando minha história, e acho que é só nesse momento que me dou conta de onde estou e do que isso significa. É nesse momento que eu tenho a certeza de estar vivendo o começo de um grande sonho.
E, se depender de mim, não vou acordar dele nunca mais.

Ayla Onde histórias criam vida. Descubra agora