Capítulo 6 - O amor dá dor de cabeça

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Eu abro a porta da dispensa em busca de um comprimido para enxaqueca que Hari me pediu. Meu coração se encolhe toda vez que ela tem essas crises, e elas têm se repetido muito ultimamente.

Estamos no fim da terceira semana do programa, e eu já senti na pele o medo de perdê-la duas vezes. Espero não ter que sentir isso novamente tão cedo.
Eu saio da dispensa com o comprimido nas mãos e caminho em direção à cozinha para pegar um copo d'água.

Rizia, Rodrigo, Tereza e Danrley estão conversando na mesa, e não reparam na minha presença se aproximando.

— Meu voto vai ser sempre nelas — eu escuto Danrley dizer.

Um pressentimento ruim passa pela minha cabeça, e eu aproveito o fato de não ter sido notada para me esconder atrás de um armário.
De quem eles estão falando?

— Elas não falam com quase ninguém — diz Tereza. — Ficam muito fechadas no mundinho delas. Eu já tentei conversar, mas sabe quando a gente percebe que não é bem vindo?

Rodrigo assente.

— Sim... As duas são muito fechadas.

— Principalmente a Hariany — Danrley diz.

Eu sinto um nó se formar no meu estômago. Não estou gostando do que estou ouvindo.

— Acho que lá fora as pessoas não gostam disso. Desse grude todo. Eles gostam de pessoas que interagem com todo mundo — Tereza fala.

— É — Rizia concorda, abrindo a boca pela primeira vez na conversa.

— Não gosto de combinar voto, — diz Rodrigo — mas também vou nelas.

Eu prendo minha respiração. É isso o que eles pensam de nós?! Que somos alvos fáceis?

— Eu também — fala Tereza.

— Se a gente tirar uma delas, a outra sai na próxima semana — Danrley fala. — Uma não consegue ficar aqui sem a outra. Isso garante duas semanas sem preocupação para nós.

— Mas a gente não pode dividir voto — Rodrigo diz. — Temos que mirar em uma primeiro.

— Hariany — diz Danrley. — A Paula vai surtar sem ela aqui.

Eu reprimo um grito na garganta. O jeito que eles estão falando... É horrível.
Mas eu não quero passar pelo que eu passei de novo. Não vou deixar mandarem a Hari para o paredão outra vez.
Eu tenho que fazer alguma coisa pra proteger nós duas.

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Eu me remexo na cama, sentindo minha cabeça explodir a cada movimento que eu faço, e imploro para que Paula volte logo com meu remédio.
Como se lesse meus pensamentos, ela aparece pelo vão da porta, com um comprimido numa mão e o copo d'água no outro.

Eu me sento na cama.

— Obrigada — digo.

Ela dá um sorriso tenso e enrola uma mecha do cabelo atrás da orelha. Parece estar escondendo alguma coisa.

—  Como você está? — ela pergunta.

— Acho que vou melhorar com o remédio — eu digo, engolindo o comprimindo com a água.
Me viro de lado e me deito na cama. Ela se deita ao meu lado, e faz um carinho na minha cabeça.

— Acho melhor eu te deixar descansando.

— Não — eu digo. — Fica aqui comigo.

Ela sorri de novo, mas eu vejo nos seus olhos que tem algo errado.

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