Capítulo 4 - Eu não sou a minha voz

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Oie,
Passando aqui rapidinho antes do capítulo começar, só pra pedir que tenham paciência com esses primeiros capítulos. Talvez vocês estejam achando meio maçante esse começo na casa do BBB, mas eu preciso desenvolver um pouco da história delas dentro da casa pra depois desenrolar melhor o pós e conseguir construir as ideias que eu tenho - até porque vai ser dentro da casa que vou soltar alguns detalhes importantes do passado das meninas que vão ser fundamentais no pós. Mas prometo não me demorar muito nessa parte dentro do BBB, pra não ficar cansativo.

Pelas minhas contas, são quase seis horas da tarde.  Minha lombar lateja e implora por um alongamento e meus pés estão inchados dentro dos sapatos, mas eu ignoro esses detalhes insignificantes. Me concentro apenas em mim mesma, e no carro em que estou sentada.
Eu só saio daqui quando a última pessoa desistir.

Não estou fazendo isso apenas pelo carro, ou pela imunidade que vou conquistar se resistir por mais tempo. Estou fazendo isso porque duvidaram de mim.

Essa é a primeira prova de resistência do Big Brother. Tivemos que montar times para preencher três carros onde deveríamos nos sentar. Se um do time desistisse, todo mundo do carro teria que sair.

Ninguém me queria no time. Ninguém sequer pensou na possibilidade de Paula Von Sperling como ganhadora dessa prova. Com essa vozinha, ela vai desistir rápido - foi o que disseram.

Mas se esqueceram de um detalhe: eu não sou a minha voz. E essa é minha chance de provar isso.

Eu olho para o teto do carro e deixo minha mente vagar pelas minhas lembranças.

Era um dia normal de verão, em que eu trocava minhas férias por trabalho extra no escritório de advocacia que dividia com minha irmã. Um homem desesperado chegou até nós, implorando para que fizéssemos algo pelo seu irmão, que havia sido preso injustamente.
Eu fiquei com o caso, porque Mônica já estava sobrecarregada com outros serviços. Era para ser um caso extremamente fácil, o garoto era inocente e eu tinha muitas provas a meu favor.

Mas aí chegou o dia do julgamento. Lá estava eu, sentada ao lado do meu cliente, esperando minha hora de falar e expor tudo o que o juiz precisava saber. Eu estava extremamente confiante, tinha certeza de que daria tudo certo.

Mas não deu.

Assim que eu comecei a falar, senti o olhar irônico do juiz sobre mim. Ele me olhava como se eu estivesse contando uma piada, como se nada daquilo fosse sério, como se um garoto inocente não estivesse pagando caro por um erro que não cometeu.

Mas a verdade era que, para ele, a piada ali era eu. Depois que eu terminei meu depoimento, ele concluiu apenas que não  tínhamos provas suficientes e que não conseguia sentir credibilidade nas minhas palavras... ele não conseguia me levar a sério. Por causa da minha voz.

Eu perdi uma ação por conta da minha voz.
Isso significou para o garoto inocente um ano de prisão injusta. Para mim, significou dias chorando escondida no quarto. Eu sabia bem que o problema não era apenas minha voz... Ele simplesmente acreditava que eu não era capaz de estar ali, e não se importou com o fato de suas implicâncias se transformarem em acusações contra uma pessoa inocente.

Eu jurei a mim mesma que um dia recompensaria o garoto e mostraria minha força não só ao juiz, mas a todos que um dia duvidaram de mim.

Hoje sei que esse dia chegou.

Agora somos só Carol e eu na prova. Todos que desacreditaram de mim já desistiram.

Eu olho através da janela do carro, e me pergunto o que Hari deve estar fazendo nesse momento. Ela não sabe, mas foi ela quem me deu o combustível de que eu precisava para aguentar firme até agora: um coraçãozinho com as mãos, mandado a mim através da janela do carro em que ela estava. Pode parecer um gesto bobo ou insignificante, mas para mim foi especial. Porque ali eu soube que há alguém por quem lutar aqui dentro.

— Produção, eu quero desistir — eu ouço Carol dizer. Levo alguns segundos para compreender o que isso significa.

Carol vem correndo até o meu carro e abre a porta para mim. 

— É teu, Paulinha — ela diz. — O carro é teu!

Eu saio do carro, sentindo a coluna protestar com o ato, e abraço Carol. Aos poucos, os outros participantes vêm até nós e nos parabenizam pelo tempo de prova.

— Você conseguiu, amiguinha! Parabéns!

Eu me viro para onde está a dona da voz, e vejo Hari com os braços estendidos ao meu lado.

— Obrigada — eu digo, e me afundo em seu abraço, que parece repor todas as minhas energias e me faz esquecer das dores no corpo.

Outras pessoas vêm me abraçar também, e eu sorrio por dentro e por fora. Porque mostrei a todo mundo o que vim fazer aqui. Minha missão foi cumprida. E eu aprendi a nunca mais duvidar de mim mesma.

Ayla Onde histórias criam vida. Descubra agora