Ayla

Capítulo 7 - Mas eu me mordo de ciúmes

A Hariany entendeu tudo errado. Tudo errado. Eu só estou tentando nos proteger, porque não suportaria que algo acontecesse com a gente. Prometi a mim mesma que vamos lutar juntas até o final, e vou fazer o que for preciso para manter a minha palavra. Mesmo que isso signifique brigar com ela.

O som alto da música me incomoda. Eu só queria estar dormindo agora. Sem a Hari na festa, tudo fica sem graça. Não sinto vontade de beber ou dançar. Só quero ficar aqui, jogada nessas poltronas até poder voltar para o meu quarto.
Ela está lá, dançando com Diego e Isabella, mas não parece muito feliz. Ou sou eu que não quero que ela esteja feliz.

Sei lá. É estranho. A falta que ela me faz é quase uma dor física. Eu nunca senti isso com amiga nenhuma... não que eu já tenha tido muitas amigas ao longo da vida.
Eu queria ser menos orgulhosa e ir até lá falar com ela, mas não consigo. Não agora.

— Ei, o que você está fazendo sentada aí? — Maycon me pergunta, me tirando dos pensamentos, e se senta ao meu lado.

Eu olho para ele.

— Só não estou muito bem hoje.

Ele olha para onde Hari está.

— Vocês brigaram, né?

Eu assinto.

— Todo mundo está falando disso. O que aconteceu?

— Nada demais — eu digo, tentando cortar o assunto.

— Então se acertem logo, porque essa festa está muito chata sem vocês.

Eu dou um sorriso cansado para ele.

— Tá bom.

– Ei, acho que você vai adorar uma comida que tem aqui — ele fala, e se levanta da poltrona onde estava sentado. — Espera aí.

Eu o acompanho com os olhos. Ele vai até a mesa das comidas e tira uma lasca de algo que não consigo identificar. Quando volta, está com um sorriso debochado no rosto.

— Ó, para você lembrar da sua filha. — Ele me estende o alimento.

É bacon.
Ah, como eu queria poder bater nele sem ser expulsa.

— Seu idiota — eu digo, e devolvo o pedaço de bacon para ele. — Parece meu irmão.

Ele se senta ao meu lado novamente, e ri com o bacon na boca.

— Uai, achei que você queria matar a saudade dela.

— Vai dançar, vai Maycon —,eu digo, mas não escondo o riso.

— Ó, viu, funcionou. Você sorriu. Quero ver esse sorriso mais vezes nessa noite, entendeu?

Eu sorrio de novo.

— Entendi.

— Então vai lá e se resolve com a Hari.

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Ela parece estar ótima sem mim. Está lá, rindo com o Maycon, como se nada tivesse acontecido.
Talvez nada tenha acontecido para ela mesmo.
Talvez já tenha me substituído por outro amiguinho.

— Em que você está pensando? — Diego me pergunta. Ele e Bella estão me fazendo companhia, mas não é a mesma coisa que com Paula. Eu queria poder estar bebendo com ela agora, falando nossas merdas, dançando sem me preocupar com o amanhã. Mas, se ela quer ficar longe de mim, então eu vou ficar o mais longe possível.

— Em nada — eu falo. — Não estou pensando em nada.

— Então por que seus olhos estão lá na Paulinha, hein? —, Bella me pergunta. — O que rolou entre vocês?

— Nada — eu retruco. — Nem estou olhando para ela. Só estou olhando a decoração da festa.

— Aham —, Bella diz. — Vou fingir que acredito.

Eu engulo em seco. Queria ser menos descarada.
Eu desvio o olhar de Paula e tento me concentrar na música, mas ela parece só um barulho insignificante pra mim.
Não sei porque estou me sentindo tão mal. Quer dizer, a Paula é só minha... amiga, não é?
Por que parece que meu coração está em mil pedaços, então?

Eu interrompo meus pensamentos ao ver que ela se levantou de onde estava e está vindo na minha direção. Maycon não está mais com ela.
Ah, mas se ela acha que vamos fazer as pazes assim, do nada, ela está enganada.
Se ela quer que a gente interaja com outras pessoas, então é isso que ela vai receber.

— Diego, vem aqui — eu falo.

Ele me olha com olhos curiosos, mas vem até mim.

— O que foi?

Eu não o respondo, apenas me inclino para beijá-lo.

Ele arregala os olhos de surpresa, mas corresponde o meu beijo. Suas mãos são firmes em minha cintura, e eu entrelaço minhas mãos em seu pescoço.
Não é um beijo ruim, mas não sinto nada por ele. Estou fazendo isso só pra mostrar a Paula que estou ocupada.

Quando a gente se solta, eu me viro para onde ela estava.
Ela está me encarando, e eu quase posso jurar que vejo seus olhos cheios d'água. Mas por que ela estaria chorando por conta de um beijo?
Deve ser só a minha imaginação.
Eu olho para ela, mas ela desvia os olhos e entra na casa. Eu me sinto estranha.

— Uau — Diego diz. — O que foi isso?

— Não sei... — eu falo, e sinto que estou prestes a chorar. Eu o abraço. — Desculpa.

Ele retribui o abraço, e isso me conforta um pouco.

— Tudo bem. Foi muito bom.

Eu sinto minhas bochechas pegando fogo. Não consigo olhar para os outros, mas sei que os olhos de todo mundo estão sobre nós.
O que é que eu acabei de fazer?!
Um pensamento sombrio passa pela minha mente.
Ele deve ter visto isso, na gigante televisão de seu quarto. Se não viu agora, vai ver amanhã.
E vai ficar com muita raiva de mim.