Para Kirishima Eijirou, era incrível como tanta coisa podia dar errado em tão pouco tempo. Os documentos levemente amassados em sua mão apenas serviam para lembrá-lo do quão idiota e negligente havia sido.
Ele retornava do campus da faculdade que desejava ingressar, cabisbaixo, segurando a papelada da inscrição. Nem sequer teve uma chance de entrar, já que optou por deixar para a última hora e perdeu a data correta de comparecer na universidade para fazer a prova de teste. Sabia reconhecer que aquilo era sua culpa e de mais ninguém e também sabia que os motivos que o levaram a adiar a preparação eram pífios.
No dia anterior, ao invés de conferir seus compromissos, decidiu ir para o festival cultural que acontecia no parque central de sua cidade, apenas para encontrar o seu ponto fraco: um garoto de cabelos azuis, que vinha lhe tirando o sono nos últimos meses. Kirishima nem sabia o nome do rapaz mas, ainda assim, em sua cabeça de vento, achou que seria sensato passar uma tarde toda tentando se aproximar de seu alvo.
E o karma veio lhe cobrar a negligência.
Não só perdeu completamente a data de inscrição da faculdade, como também foi recusado publicamente pelo rapaz, que fez questão de causar uma pequena comoção no meio do evento para negar e repelir Kirishima.
Envergonhado e vulnerável, Eijirou deixou o lugar às pressas e correu para sua casa, buscando o conforto da única pessoa com quem podia contar na face da terra: sua mãe. A Senhora Kirishima amava seu filho único mais do que tudo no mundo e nunca hesitou em dar apoio incondicional para ele. Ela jamais o renegou. Nem quando ele decidiu que queria fazer fotografia como faculdade, mesmo com ela esperando um curso de renome; nem quando ele dirigiu inconsequentemente sua moto e sofreu um pequeno acidente, perdendo completamente o único veículo da família no processo; nem quando ele confessou que sentia atração por garotos.
Para ela, parecia que nada daquilo importava. Era Eijirou, afinal, que sempre foi amoroso, o pequeno milagre que veio de si, segundo a mãe. Ela não parecia que deixaria qualquer emoção negativa tomar conta do amor que sentia por seu filho.
Por isso, quando ela viu Kirishima entrando em casa com os papéis da faculdade na mão, bastou uma troca de olhares e ela pareceu saber que algo não havia ido bem. Caminhou até ele e o envolveu com seus braços.
—Oi, mãe —ele cumprimentou baixo, enfiando o rosto no ombro alheio.
—O que houve, querido? —preocupou-se.
Eijirou sentiu as palavras presas na garganta, sufocando-o. A única coisa a deixar seu corpo foram as lágrimas, que vieram em grande quantidade. Ele chorou e chorou e chorou, até soluçar, abraçado em sua mãe. Os dedos enrolando com força o tecido da roupa dela enquanto recebia um afago suave nos cabelos, vindo da outra.
—Eu pisei na bola de novo, mãe —murmurou quando conseguiu alguns segundos sem soluçar, a voz distorcida pela situação —É tudo culpa minha.
E então, envergonhado e arrasado, Eijirou contou para sua mãe tudo o que tinha acontecido no dia, juntando com o motivo do dia anterior, confirmando todas as suas imprudências. A Senhora Kirishima escutou a tudo em silêncio, o semblante franzido em descontentamento, mas sem brigar diretamente com o filho.
Esperou pacientemente que ele se acalmasse em seus braços, o que custou a acontecer. Eijirou nunca havia se sentido tão miserável em toda sua vida, principalmente por saber que tudo era culpa sua. Como ele poderia deixar sua mãe orgulhosa se continuava cometendo deslizes daquela forma? Passaria, pelo menos, mais quatro meses em casa até que a próxima prova seletiva chegasse. Era muito tempo para ficar parado e isso o angustiava.
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Adrenalina
FanfictionUm erro atrás do outro. Era assim que Kirishima levava sua vida. Havia se humilhado na frente de seu interesse amoroso, perdido a data limite de inscrição para sua faculdade, sofrido um acidente de moto e perdido o veículo no processo. Decidido a n...