Hard times

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   Nem mesmo com a apresentação feita pelo instrutor, o rapaz irritadiço, que agora ele sabia se chamar Katsuki, devolveu o cumprimento. Eijirou inspirou profundamente, sem estar disposto a deixar o clima ruim tomar conta e decidido a tentar novamente estabelecer uma conversa com aquele que seria seu "colega de quarto" por 10 dias.

   —Espero que o clima na África esteja legal —arriscou, lembrando que sua mãe dizia que, na época dela, conversas sobre o tempo e amenidades eram boas para quebrar o gelo. Talvez estivesse um pouco desatualizado, concluiu.

   —Você não vai calar a boca, pelo visto —Katsuki murmurou baixa e rispidamente —Porque você não me deixa em paz e volta para a sua casa, cabelo de merda?

   A maneira como Bakugou atacou seu cabelo quase o atingiu. Quase.

   —Talvez porque eu esteja pagando por esta viagem da mesma forma que você...? —ele acentuou um questionamento no final, ficando irritado aos poucos. Teve que se lembrar de respirar fundo e não se estressar. Ele não era uma pessoa que se estressava; era uma pessoa que facilmente ficava chateado, mas não se estressava. "Nada de perder a cabeça, Eijirou. Você tem que manter um bom relacionamento com o cara, pelo seu próprio bem, durante 10 dias".

   —Vai se foder —retrucou.

   E com isto, a vontade de interagir foi para o ralo. Kirishima recostou-se ereto na cadeira e tentou manter o rosto com uma expressão positiva, mesmo que a vontade de chorar e voltar para casa fosse grande. Ele sabia que precisava fazer aquele dinheiro gasto valer a pena.

   Passou a hora seguinte completamente estático na cadeira, apenas esperando pela hora do embarque e tentando conter a vontade de sair correndo. Sua ideia era aguentar pelo menos até o avião decolar, depois podia perder a paciência e ceder ao seu desejo de ir embora, já que, nesse caso, não seria mais possível —a menos que saltasse com um paraquedas do avião, coisa que não faria nunca na vida, nem se lhe dessem um reembolso completo pela viagem.

   Quando tudo isso aconteceu, como o previsto, e Eijirou sentou-se na poltrona, apertando os cintos e reclinando-se para dormir, ele realmente acreditou que não seria tão difícil. Bakugou havia pego a poltrona ao seu lado, já que estavam cadastrados como uma dupla em todos os quesitos do tour, mas não disse uma só palavra sequer desde que mandou Kirishima ir se foder, uma hora e pouco antes.

   Eijirou fechou os olhos. Nunca havia voado de avião na vida e não conseguiu suprimir o xingamento que deixou seus lábios quando sentiu a pressão da aeronave decolando, agarrando-se na poltrona e deixando que suas mãos apertassem tudo o que estava em volta, incluindo o apoio de braços da poltrona de Katsuki —que permanecia com o semblante impassível, sem demonstrar nenhuma emoção até que teve seu espaço invadido —resultando em Bakugou dizendo, não tão baixo, que ia matar Eijirou.

   O grito suprimido de "meu Deus" foi a última coisa que Kirishima teve coragem de dizer, trazendo seus braços para perto de si e sofrendo em silêncio. Pressionou as mãos contra os ouvidos, que doíam pela pressão imensa que sentiam pela primeira vez na vida. Achou que fossem explodir de dentro para fora. Seu desespero só aumentou quando Bakugou remexeu-se e virou para ele, o semblante irritado.

   —Puta que pariu, vem aqui —Ele nem deixou Kirishima reagir antes de esticar os braços, segurar o queixo do ruivo para que ele parasse de se mexer e com a mão livre tampar o nariz de Eijirou. Foi aí que o desespero do outro aumentou. Estava sendo assassinado e ninguém fazia nada!

   Ele gritou, chamando a atenção do resto do avião —se é que, depois de toda aquela movimentação, alguém ainda não estava assistindo a cena.

AdrenalinaWhere stories live. Discover now