Era verão, dias ensolarados de céu límpido e brisas suaves. Todos os dias foram assim, menos este. Uma forte chuva estava para começar e castigar quem quer que estivesse sem proteção. Tanner deu uma olhada da porta de sua casa para ver se tudo estava em ordem.
Um trovão retumbou nas nuvens. O som era agressivo, atordoante. Crow pode escutar algo vindo do canavial. Um grito agudo, em desespero. "Logo na plantação de cana!" Pensou. Era alguém precisando de ajuda. Os pingos grossos da chuva começavam a tombar à terra. O Corvo agarrou o casaco atrás da porta e o pôs enquanto corria.
A questão de se andar na plantação de cana é, sua folha é tão afiada que corta como um facão, por isso o equipamento para colher a planta inclui uma vestimenta de couro dos pés a cabeça e um óculos, coisa que não estava usando. Mais um trovão ribombou, e a voz gritou novamente. Já estava enfiado no mato dos pés a cabeça quando achou quem estava perdido.
Era Haley, estava assustada e não sabia o que fazer. A chuva começava a ficar mais forte. O garoto da cidade enrolou a loira em seu casaco o melhor que pôde e a carregou para fora do canavial à sua cabana. Foi um alívio para ele quando pôs os pés para dentro de casa.
A irmã de Emily reclamava de estar molhada. Ela se sentou no banco do balcão da cozinha. Depois de ficar uns minutos com a cara emburrada para a parede, ela se queixou de uma dor, um palmo acima do tornozelo. Havia se cortado no único lugar que não tinha sido protegido. Sem ligar para as reclamações, ele caçou um kit de primeiros socorros e agachou aos pés do banco. Estava com uma garrafa de álcool e uns rolos de gaze.
-Isso vai arder.
Haley agarrou a barra de sua saia cor de rosa e a apertou com força quando o álcool foi aplicado. A gaze, então, foi enrolada sobre o ferimento. Tanner olhou para ela, sorrindo tranquilizador. Ela olhou de volta, sua cabeça foi a mil.
Tanner havia um corte horizontal no nariz, na linha dos olhos, e outro na bochecha esquerda. Ambos seus antebraços estavam com cortes, sem contar um mais prolongado em seu abdômen. O garo- o homem que ela tratara com tanto desprezo estava com machucados sérios em todo o corpo pois foi lhe ajudar. Mesmo assim ele fez os curativos nela, primeiro, que tinha apenas um pequeno corte na perna. Por que era tão gentil? Seria mais fácil se fosse um imbecil, mas não entendia porque fazia aquilo. Por que estava ali por ela? Sentiu um aperto em seu peito.
Agora ele estava fazendo os primeiros socorros em sí. Três Band Aids para o rosto, um para o nariz e dois para a bochecha. Faixas para os braços e o abdômen. Se de manhã, a chuva parasse, ele iria ver Harvey, o médico. Ele ajudou Haley a andar até o sofá e a deitou em seguida. Ele foi se deitar em sua cama, mas ela chamou.
-Ei, senta aqui.
Ela chegou para frente, pondo um pouco mais dos pés para fora do sofá. Ele voltou e se sentou no espaço livre. A garota voltou um pouco e deitou a cabeça no colo do ruivo. Tanner ligou a TV e começou um noticiário. Ele fazia carinho em seus cabelos, o que a fazia se derreter por dentro. Seu coração estava pesado e tinha vontade de chorar. "Por que?" Murmurou.
-Por quê, o que?
-Por quê é tão bom comigo? Eu, eu te maltratei desde que chegou.
-Porque eu achei que se te tratasse bem, você iria me tratar bem de volta.
Estava magoada, triste por dentro. Ela mesma causava sua dor. Seu orgulho era como uma navalha raspando seu coração. Virou o rosto para o espaldar do sofá e soluçou um pouquinho. Tanner alcançou um pacote de lenços na mesinha de centro e entregou para ela. Por um tempo, a televisão ficou muda na transição de programas. As telhas eram marteladas pela chuva. Crow pediu que sentasse para que ele pudesse levantar e pegar uma coisa. Sua velha ocarina azul. Voltou para a mesma posição, com a cabeça de Haley em seu colo.
A chuva seguia o ritmo animado da canção da tempestade, seus pingos ficaram mais finos, porém mais velozes. Era uma troca, portanto, a chuva duraria mais tempo. O ruivo voltou a acariciar as longas mechas loiras de sua amiga. Era como se afundasse sua mão na coisa mais macia do mundo. Era escovado todos os dias, com certeza, sempre que possível. Algumas partes ainda estavam molhadas, o que fizera ela reclamar mais cedo. Sua mão chegou em seu ombro e a balançou um pouco.
-Tá com fome?
Fez que sim, de olhos fechados e um sorrisinho no rosto.
-Que tal comida japonesa?
-Você sabe fazer? Como?
Ele se levantou e foi até a cozinha. Ela, teve dificuldades de andar até o balcão. Ficar ali deitada a fez esquecer da dor do corte. Tanner procurava as facas e tábuas que usaria. Os molhos que tinha preparado uns dias atrás ele tirou da geladeira.
-Eu trabalhei em um restaurante pra pagar a faculdade. Eu via a chef trabalhando com comida japonesa o dia inteiro. E da sempre pra aprender alguma coisa nova.
Passou-se uma hora e havia preparado todo o banquete e posto sobre o balcão de mármore. Serviram-se as bebidas e puseram o resto das coisas.
Estavam prontos para comer. Haley se esticou e pegou uma tigela e abocanhou o que quer que estivesse dentro, antes mesmo que Tanner conseguisse dizer para não fazê-lo. A loira contorceu o rosto e se engasgou.
-Não era pra você comer isso, eu tinha feito de teste - ele disse envergonhado.
-Não faça mais isso sem me avisar, então!
-Quer dizer que eu vou cozinhar pra você de novo?
-O quê? Não! Sim! Se você quiser...
Ele riu. O rosto pálido dela esquentou ao rubro e ela tentou encondê-lo atrás do copo de refrigerante. Depois do fracasso que foi o prato experimental, ela precisou de um pouco de coragem para catar outra coisa do prato à frente. Tanner falava das coisas de seu dia a dia e de sua vida na cidade, enquanto ela ainda tentava entender como se metera na casa de um fazendeiro sem classe alguma. Claro, ele era respeitoso, divertido, tinha um cabelo incrível, olhos hipnotizantes e um sorriso sempre presente. Quem ela quer enganar, além de si? Para ela, estava se enganando muito bem.
Eles comeram em silêncio o resto dos pratos. Estavam pesados após a janta e tudo o que queriam era uma noite de sono. Tanner insistiu que passasse a noite e que no dia seguinte, após a chuva ela fosse para casa. Estava escuro e ainda haviam pingos grossos teimando em bater no telhado combastante frequência.
Cambaleantes, eles arrumaram espaço para dormir, Crow cedeu sua cama e ele dormiu no sofá,embrulhado em um endredom confortável e grosso, e Haley fez o mesmo. O relógio batia altas horas e a lenha na lareira da sala estalava ao alimentar o fogo. Havia sido um dia longo e monótono, mas divertido pela calmaria compartilhada entre os habitantes daquela pequena vila.
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O que vem da implicância?
RandomTanner Crow desiste de sua cansativa vida na cidade grande. Os carros, barulho, seu horrivel chefe na corporação Joja... Tudo o leva ao passado, quando viu que era chegada a hora de abrir o presente de seu avô. O peso da vida urbana chegou ao seu áp...