Capítulo 25

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— Roberto?

— Companheiro?

A Aline e a Raíssa perguntaram ao mesmo tempo, e a enfermeira continuou:

— Ele é gay?

Se inspirando nas técnicas de atuação do ex-marido, a Bia assentiu com o que ela esperava que fosse sua melhor expressão de pesar solidário.

— Claro que ele é gay! — A Raíssa bebeu o resto do líquido esverdeado do copo dela de uma vez, e o colocou de volta na mesa com um baque. — Todos os melhores ou são gays, ou proibidos! — Ela terminou com uma olhadinha para o Henrique, que a Bia podia jurar, se encolheu imperceptivelmente na cadeira.

— Já tem tão pouco homem no mundo! — A Aline pôs as mãos no quadril, olhando do Henrique para o Roger. — Continua virando gay, continua! Mas depois não reclama quando a população do mundo acabar, porque a gente tem banco de esperma, mas ainda não inventaram útero artificial!

A Bia apertou os lábios entre os dentes para não rir enquanto o Henrique e o Roger trocavam um olhar perplexo por estarem recebendo a acusação absurda.

— Vamos pegar outra bebida. — A Aline levantou e puxou o braço da amiga. — Pelo menos o álcool é fiel e nunca deixa a gente na mão.

Assim que as duas moças foram embora, a Milena caiu na gargalhada.

Virar gay? — Ela pôs as mãos na barriga, rindo mais. — Inacreditável! Pleno século vinte e um e ainda tem gente com o pensamento tão pequeno.

— De verdade? — O doutor Henrique deu uma risadinha também — Eu tô tentando me decidir se eu fico ofendido ou aliviado por ser "proibido". — Ele fez sinal de aspas com os dedos na última palavra.

— Aliviado, Henrique. — A Milena recuperou o fôlego para falar. — Sempre aliviado. E agora que as crianças foram embora, os adultos podem ter uma conversa que presta. Me conta, Bia, essa tatuagem parece recente. Quando você fez?

Dando sua resposta, ela tentou se desligar do Lourenço. Não tinha sido sua intenção passar a noite inteira sentada na outra ponta da mesa, mas tinha acontecido e devia ser um sinal de que era para ela continuar firme na sua decisão de se manter afastada. Além de ficar mais fácil resistir ao impulso de afastar todas as mulheres mal-intencionadas de perto dele. Ela não tinha ido ali para servir de babá de um homem que não iria nem apreciar seu esforço, pelo contrário. Livre, leve e solto, ele tinha o direito de terminar a noite como quisesse. Sozinho ou acompanhado.

E ela iria repetir até entrar naquela sua cabeça dura: melhor assim!

Ela era perita em seguir seus planos à risca e, envolvida no papo agradável, ela conseguiu se distrair e não vigiar o Lourenço. Um anestesista, que também tinha se juntado recentemente à clínica, e a esposa, ocuparam as cadeiras abandonadas pela Aline e a Raíssa, e claro, não tinha como o assunto não acabar sendo o trabalho, mas a Bia não se importou. Ela estava gostando de ouvir sobre o dia a dia da clínica. De certa maneira, aquele ainda era o esforço do pai rendendo frutos.

— O show vai começar! — A Milena bateu palmas quando a música parou e um dedilhado de guitarra flutuou até eles. — Eu ouvi dizer que esse conjunto é o ó!

— Não repara o entusiasmo da minha mulher — o Roger disse com uma risada. — Quem vê pensa que a gente nunca sai, mas ela acha que depois que o neném nascer a gente nunca mais vai se divertir.

Nunca mais é exagero, mas não vai ser a mesma coisa. E eu não tô reclamando, eu vou adorar ficar em casa trocando fralda... — O olhar dela se suavizou por alguns segundos na direção do marido, e ela ficou de pé. — Mas hoje eu vou dançar até o dia clarear!

Bem Te Quero [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora