Capítulo 33

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Na manhã de Natal, a Bia estava sentada no sofá com o Fred, observando as meninas brincando com os presentes novos, a Mariana distraída no celular na poltrona perto deles.

Seu contentamento só não era completo pela ausência do Lourenço. Apesar de toda a provocação da noite anterior, a Bia não pôde ir visitá-lo no quarto dele, sem sutiã e sem calcinha como ele tinha exigido, porque ele não tinha dormido lá.

O seu Rodolfo, que também não bebia nada alcoólico por causa dos remédios que tomava, e era o motorista designado para levá-los de volta a Copacabana, tinha esquecido de levar o remédio da pressão e, na hora de ir embora, declarou que não estava se sentindo bem para dirigir.

Depois de uma animada discussão, em que a possibilidade de eles dormirem na casa do Fred foi cogitada e descartada, principalmente porque o seu Rodolfo precisava tomar o bendito remédio, o Lourenço se declarou o mais apto a levá-los, já que tinha tomado só uma taça de vinho na hora do jantar. Na verdade, a Bia era a mais apta, mas ninguém levou em consideração sua oferta de ir dirigindo para Copacabana àquela hora da madrugada. Eles tinham se espremido no carro, e como não fazia sentido o Lourenço ficar indo e vindo, ele decidiu dormir lá e voltar com eles para o almoço.

Que a Bia teve dificuldades para dormir, não foi novidade, o motivo é que foi inédito. Deitada entre as duas filhas, que também custaram a pegar no sono — no caso delas, culpa da injustiça da mãe em exigir que elas esperassem até o dia seguinte para brincar com a quantidade enorme de presentes que elas tinham ganhado — ela não conseguia parar de sentir falta do Lourenço, pensando no que eles estariam fazendo se ele estivesse ali. 

Mesma angústia que apertava o seu peito enquanto esperava ele chegar. Ela tinha prometido a ele um dia de cada vez, mas como não se preocupar com o futuro? Se a falta dele por uma noite estava sendo uma tortura, como seria dali a três dias quando ele fosse embora? Tudo bem, eles iam conversar, planejar, mas ainda que os planos incluíssem uma volta dele ao Rio, tinha a viagem dela com o Fred e as meninas para Fortaleza logo depois do ano novo.

Quatro mil e duzentos quilômetros de distância entre ela e o Lourenço por, no mínimo, quinze dias.

É, ela tinha pesquisado.

Quem sabe ela não fazia uma surpresa para ele e ia passar o réveillon em Porto Alegre?

— Onde você vai passar o ano novo? — a Bia perguntou ao irmão, que desviou o olhar da Alícia, sentada na mesa forrada com a toalha manchada de suco, com o kit de telas, pinceis e tintas, presente do Lourenço, tentando reproduzir uma miniatura de árvore de Natal. A Amanda tinha ganhado um igual, mas tinha preferido brincar no chão com a casinha e as bonecas que o Papai Noel tinha trazido para ela.

— O Diego vai ficar com as meninas?

— Foi o que a gente combinou, Natal comigo e ano novo com ele.

— Eu tenho uns convites pra algumas festas, mas claro que eu só vou se você for também — o Fred respondeu.

Ela teria que arrumar uma excelente desculpa para não passar o ano novo com o irmão, principalmente se ela não quisesse contar sobre o Lourenço e esconder que estava indo para o Sul, mas ela não precisava decidir ainda. Depois da conversa com o Lourenço, ela pensava melhor.

— O doutor Lemmer já arrumou o laboratório pra você fazer os seus exames em Fortaleza? — o Fred mudou de assunto.

— Tá tudo certo. Ele já me passou o endereço e tudo.

— Tô gostando de ver a animação — ele implicou com o tom desanimado da Bia. — Você quer desistir de ir?

— Não é isso, Fred. É que... você sabe. — A Bia não queria mais ficar reclamando, o irmão sabia que as férias poderiam ser sua última oportunidade de ficar com as filhas por um bom tempo. Uma semana depois da volta deles, era a audiência. Seria difícil relaxar e aproveitar a viagem sem aquela sombra pairando sobre a cabeça. 

Bem Te Quero [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora