Capítulo 32

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— Não é a mesma coisa, mas é bom ter a casa cheia, né? — O Fred passou o braço pela cintura da Bia, parada em frente à árvore de Natal, observando a cena da sala.

É verdade, não se comparava com seus Natais de antes, mas era um avanço do ano anterior, quando eles tinham passado na casa dos pais do Diego.

O já esperado pior Natal da sua vida, o primeiro sem os pais, conseguiu ser mais horrível que ela tinha imaginado. O Fred e a esposa tentaram disfarçar o clima ruim entre eles, mas não ajudou como eles ficaram em cantos opostos da sala o tempo todo. Os pais do Diego, embora nunca tivessem tido coragem de dizer nada na sua cara, nem de tratar a Alícia de maneira diferente da Amanda, sempre davam um jeito sutil de fazer a Bia sentir que era um favor eles aceitarem uma mulher que tinha uma filha de outro homem. E a Vivi. O que a Bia tinha considerado a única coisa boa do Natal, a prima não ter ido para a casa da família da mãe dela e ter ficado com eles, tinha passado a ser o pior de tudo depois que a Bia percebeu que foi um subterfúgio da víbora para ficar perto do Diego, já amante dela na época.

Apesar de o aperto no coração de saudades dos pais não ser muito diferente, de não conseguir parar, nem por um minuto, de desejar que eles estivessem ali e do esforço para não deixar sua tristeza contaminar a noite, ter a casa cheia de conversas e risadas, cercada pelos enfeites da mãe como se estivesse recebendo um abraço amoroso dela, era um inesperado e muito bem-vindo upgrade para alguém que, até poucas semanas antes, tinha planejado uma noite melancólica só com o irmão e as filhas.

Os tios do Lourenço eram dois velhinhos que você tinha vontade de colocar no colo de tão fofos. De cabeças branquinhas e falas suaves, eles abraçaram as meninas e fizeram questão de que elas o chamassem de vovô Rodolfo e vovó Marinês. A Bia ainda não tinha escutado a Alícia atendendo ao pedido, já a Amanda tinha aceitado a sugestão de primeira, embora virasse a cabecinha desconfiada cada vez que olhava a barba do seu Rodolfo, achando que todo mundo estava escondendo dela que ele era, na verdade, o Papai Noel.

A Alexa continuava a mesma, falante, efusiva e brincalhona, tinha deixado as meninas à vontade logo de cara. O Lucas, marido dela, era o oposto, quieto e tímido, mas cumprimentou a Bia sem demonstrar nenhum ressentimento por não estar com a própria família no Natal, e o Bento, filho deles, era o centro das atenções com aquela energia inesgotável e cativante que todas as crianças de menos de três anos esbanjam sem esforço.

— É muito bom — a Bia concordou, roubando uma olhada para o Lourenço conversando com os tios.

Não tinha como negar que era a presença dele que tornava aquela noite mais especial, e ainda que ela não pudesse ficar agarradinha nele e tivesse que se contentar com trocas de olhares rápidos e disfarçados, saber que ele estava ali, lhe dava uma segurança e uma sensação de proteção que ela não experimentava há muito tempo.

— Eu estava preocupada com as meninas — a Bia disse, olhando as filhas que não paravam de rondar o Bento, cuidando e brincando com ele como se fosse o bonequinho delas. — É o primeiro Natal delas longe do pai, mas parece que elas estão bem.

— Elas estão ótimas. E você não pode esquecer que, no caso da Alícia, é o primeiro Natal dela com o pai.

— Você andou conversando com a doutora Clarisse? — A Bia sorriu com o peito se aquecendo de contentamento. — Ela que me manda olhar o lado positivo de tudo.

— Não. É a minha inteligência natural falando — ele replicou e arrancou uma gargalhada da Bia.

— Só você pra me fazer rir hoje!

— Um talento pra poucos, eu sei. Pode abusar sempre que quiser.

Com um súbito bolo na garganta, a Bia apertou o braço passado pela cintura dele.

Bem Te Quero [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora