Capítulo 8 SOMENTE 15 CAPÍTULOS POSTADOS - DISPONÍVEL NA AMAZON

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Letícia estava quebrando a sua cabeça com contas e planos para o futuro. E o resultado que ela esperava nunca chegada, de um jeito ou de outro.

Enquanto varria a calçada em frente ao seu salão ela suspirava pesadamente, tão compenetrada que nem percebeu a presença de alguém quase ao seu lado.

— Bom dia, Letícia! — Sérgio falou animadamente, segurando uma cuia e uma térmica embaixo do braço.

Ela deu um pulo para trás de susto, o fazendo rir.

— Como sempre, assustada com a minha chegada. — Ele tomou um pouco do seu chimarrão.

— Bom dia, Sérgio. Como está a Fernanda e as crianças? — Letícia recuperou o controle do seu corpo e fingiu um sorriso. Estava ansiosa demais com o seu futuro para ser genuína naquele momento.

— Ótimos, obrigado. João está saindo melhor que a encomenda. Dorme como uma pedra e só reclama quando está com fome. Estilo a Liana, sabe? Gritando para a quadra inteira escutar.

Letícia assentiu. Conhecia Liana desde a escola e sim, ela sabia se fazer notada por todos quando queria. Mais cedo mesmo, Letícia havia escutado, do outro lado da rua, ela gritando com a cacatua de Marina, Peteca. Alguma coisa que envolvia alguns brinquedos espalhados. E a briga era ferrenha, pois Letícia escutava a ave gritando também. Um coisa absurdamente normal naquela região.

— Ele é um fofo mesmo — Letícia concordou, segurando a sua vassoura.

Sérgio, ou o Lobo Alfa da família Chiarelli tinha um carinho quase que paterno por Letícia. Desde que a conhecia, junto com sua mãe, queria a ajudar de alguma forma. Mas primeiro precisava ganhar a confiança de Letícia, uma coisa que só aconteceu depois que sua mãe morreu e ela pode respirar além das janelas da sua casa. E quando ela saiu, Sérgio começou a agir.

Agora ele já conseguia conversar com ela sem que Letícia fugisse depois do "oi" inicial. Já trocavam algumas frases e até conversas mais longas. Mas no fundo, Sérgio queria que Letícia se abrisse mais. Sabia, com o seu faro paterno para problemas familiares, que ela precisava de ajuda. E muito, pelo visto. Contudo, Letícia era impenetrável! Sempre que Sérgio perguntava se estava tudo bem, ela fingia e desconversava. Até mesmo sondar Fernanda, cliente fiel de Letícia, ele fez, mas sem sucesso nenhum.

— E como anda o movimento do salão, Letícia?

Ela engoliu em seco. Sérgio sempre questionava como estava o movimento, se ela precisava de alguma coisa e de forma incisiva demais para a pobre Letícia, que sempre ficava sem saber onde se enfiar.

— Bem. Início de semana sempre é mais fraco o movimento. — Ela voltou a movimentar a vassoura enquanto Sérgio servia outra cuia do seu chimarrão.

— Sim. — Concordou ele, mas não acreditando nenhum pouco nas palavras dela. — Bom, vou para o mercado, se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa. Só me grita, Letícia.

— Obrigada, Sérgio.

E ele se afastou suspirando, pensando no que poderia fazer para que Letícia fosse sincera com ele. Tinha uma grande desconfiança que o problema dela era financeiro, assim como de quase todas as pessoas que Sérgio conhecia. Poderia oferecer um emprego de meio expediente para Letícia, estava precisando de uma repositora dos produtos de beleza, ou criaria o cargo. Seria um bom diferencial, deixar uma pessoa responsável pela reposição dos produtos e que conhecesse a função de cada um deles.

Letícia voltou para os seus pensamentos e varrendo a sua calçada, não que ela estivesse suja ou algo do tipo, mas o processo de varrer fazia que ela pensasse em algumas rotas de fuga, ou planos para quando seu tio viesse tirar a sua casa e o seu salão.

Richard caminhava em direção a sua casa lentamente. Havia passado por um plantão tranquilo, graças aos céus. Tinha até conseguido dormir um pouco na sala dos médicos e só entrou em ação nas últimas horas em uma cirurgia simples, mas que o fez perder o ônibus que pretendia pegar, o fazendo chegar mais tarde do que pretendia.

Seguia o seu rumo, cantando mentalmente a música que tocava em seus fones enquanto pensava em se atirar na sua cama e dormir pelo resto da tarde. Ainda estava cansado do casamento e pensativo com a conversa que teve com Ricardo e Jonathan. Sentiria muitas saudade dos dois quando eles se mudassem de vez, e nem gostava de pensar na dor que sentiria ao se despedir de Bia, Paula, e, mais ainda das crianças. Chegou a suspirar alto ao perceber que a da data estava mais próxima a cada dia.

E ao levantar a cabeça, chegou a perder um passo ao ver Letícia parada na frente do salão, agarrada em uma vassoura. Era a chance de não ser ignorado como estava sendo por mensagens. Seu sono e cansaço até desapareceram por alguns instantes. Se aproximou, tentando achar a confiança e a coragem que precisava para resolver aquela situação toda.

— Bom dia, Letícia — disse ao se aproximar sem que ela percebesse.

Pela segunda vez, Letícia deu um pulo tão grande que a vassoura chegou a cair da sua mão. E ao se abaixar para pegar, a mão de Richard encostou na sua quando ele fez o mesmo movimento de levantar a bendita vassoura.

Ela se levantou rapidamente e sem palavras ao vê-lo ali, parado em sua frente, bloqueando a sua passagem, a rota de fuga que tinha para se isolar em seu mundo. Lá tudo era perfeito e comandado pela própria Letícia. Os problemas que ela enfrentava em seu mundo poderiam até ter alguma solução, ou um plano mirabolante em que tudo dava certo.

— Richard... — ela sussurrou assustada.

— Olá, dona moça. Parece que finalmente cansou de me dar vácuo por mensagem.

Letícia ainda o encarava. Era claro que ela estava o ignorando, não queria ter nenhum contato com Richard. De preferência nunca mais na sua insignificante vida.

— Mas eu entendo, minha querida — ele dramaticamente coloca a mão sobre o seu coração. — Entendo com todo o meu coração. E eu não sei nem por onde começar a me desculpar sobre a minha atrocidade contigo.

A cena era interessante, não se era sabido se Letícia segurava a vassoura ou a vassoura segurava Letícia. Richard deu um passo na direção dela.

— Realmente eu peço perdão, Letícia. — Ele pegou a mão dela, a fazendo pelo menos piscar. — Não quero que aquela versão minha bêbada seja a que predomine na sua cabecinha linda.

— Eu....

Letícia estava realmente sem ação. Havia ficado perplexa com a situação em que Richard havia a beijado. O seu primeiro beijo em toda a sua ínfima vida. Ela não queria nada disso. Só queria ficar sozinha no seu quarto. Olhando para a janela no teto do seu quarto, deitada na sai cama, sob a luz das estrelas, quentinha e solitária, como sempre foi em todos aqueles anos.

Não sabia o que fazer. Realmente era uma situação inédita para a pobre Letícia. Uma coisa tão inusitada que a fez desviar o olhar incisivo de Richard em sua direção.

Olhou para outro lado e viu a cena se desenrolar.

Marina vinha caminhando com Maurício, animada e pulando de um lado para o outro, como sempre fazia, feliz. Avistou o pai e antes que Maurício pudesse fazer alguma coisa, a criança começou a correr em direção à rua. Ignorando o fato de que um carro se aproximava cada vez mais.

Letícia não via a cena com bons olhos, e antes que pudesse gritar alguma coisa, saiu correndo em direção à Marina e ao carro que se aproximava cada vez mais da criança.

Simplesmente desligou toda a autopreservação que sempre teve em primeiro lugar em sua vida. Se desvencilhou de Richard o mais rápido que conseguiu e largou a vassoura. Antes que ela chegasse a tocar ao chão, Letícia começou a correr e ao empurrar Marina em direção contrária ao carro, sentiu o impacto dele com o seu corpo magro.

A dor veio e apagou Letícia de forma imediata e o último pensamento dela foi de que se não acordasse, não seria um mau negócio para si. 

Sob a luz das estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora