Capítulo 10 SOMENTE 15 CAPÍTULOS POSTADOS - DISPONÍVEL NA AMAZON

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           Richard lia os prontuários dos seus pacientes e escrevia neles, dando seu parecer sobre cada um. Estava cansado, se é que cansado era um adjetivo que ele poderia usar para a sua condição atual.

Esticou-se na cadeira e não gostou nenhum pouco do barulho que suas costas fizeram. Tudo que ele não precisava naquele momento era de uma dor nas costas, tipo aquela que o fez fazer fisioterapia por algumas semanas.

Levantou e esticou as pernas. Caminhou por entre o quarto por algumas voltas e chegou perto da cama de Letícia, onde ela ainda dormia profundamente.

Que dia!

Richard tocou o rosto dela de leve. Tão perfeita, tão macio, tão perfeito.... Ele suspirou pesadamente, lembrando do momento de desespero que viveu naqueles minutos até a ambulância finalmente chegar e levá-los ao hospital local. Richard assumiu o comando de tudo ao que se referia à Letícia. Chegou até mesmo a brigar com o plantonista do pronto-socorro por um excesso de zelo de sua parte. Era claro que ele não iria deixar de encaminhar Letícia para o seu hospital, depois de atestar que ela estava em condições de ser transportada.

Ele queria uma UTI móvel, era claro. Não sairia do hospital com menos do que isso. Um exagero, segundo o plantonista, Letícia estava estável e sem risco de complicações. Não era necessário tirar uma UTI móvel da cidade para um caso de atropelamento. Richard até mesmo agradeceu todos aqueles anos que foi alvo de todas as iras de Liana, ele aprendeu exatamente como agir quando queria alguma coisa. E obteve êxito.

Embarcado na UTI, junto com Letícia na maca, Liana e Marina junto com o motorista, encaminharam-se para o hospital em que Richard trabalhava e já mantinha contato com todos os colegas médicos que estavam lá e outros que deixou sobre aviso. Avisou com certo anseio o pediatra de Marina, junto com o endócrino e deixou Liana com ambos enquanto ele corria para o lado de Letícia e acompanhar os exames mais aprofundados que ela faria.

No fim, em ambos os casos, tudo estava perfeitamente bem. Apesar de Letícia ter fraturado um dos braços e uma costela. Nada que não se recuperasse com êxito, apesar de um pouco de dor mais elevada. E quanto à Marina, tirando um arranhão de leve e um roxo, estava ótima.

— Está tudo bem — disse Richard ao se despedir de Ricardo, que foi buscar Liana e Marina. — Apenas o susto e as dores da Letícia.

— Ela já acordou? — Liana questionou, ainda com Marina em seu colo. Talvez não fosse só Richard que tivesse dor nas costas nos próximos dias.

— Não, ainda não — Richard se aproximou e beijou os cabelos da filha, que estava agarrada em Liana, como um canguru. — E a senhorita, em casa a gente vai conversar e muito sério.

Marina choramingou no colo de Liana e não quis encarar o pai. Num último acesso de receio por tudo que havia passado aquele dia, esticou os braços para Ricardo que a agarrou no colo e a tirou de perto dos pais.

— Jesus, eu pensei que fosse morrer — Liana se atirou nos braços de Richard, segurando as suas lágrimas. Não queria desabar na frente da filha.

— Foi só um susto, Li — Richard a consolou.

— Um puta susto do cacete — Ela rebateu o soltando e limpando uma lágrima teimosa que havia escapado de seus olhos. — Estou com uma raiva que nem sei o que fazer.

— Vai para a casa do Kado e a Bia, toma um banho, come alguma coisa e tenta fazer as mesmas coisas com Marina. A glicose dela...

— Eu sei, está ótima, mas ela já está a um bom tempo sem comer. — Liana suspirou — Vou tentar fazer isso e não surtar mais com a Marina.

— É isso aí, e eu vou ficar aqui, com a Letícia.

Richard ficou. E ainda estava lá, esperando os medicamentos de Letícia passar o efeito e ela acordar para os dois conversarem.

Ele não tinha a mínima ideia do que dizer para ela. Obrigado era muito pouco, não haveria gratidão no mundo que expressasse o sentimento de Richard por ela, depois daquele ato.

Letícia havia salvado a vida de Marina. Simples assim. Se ela tivesse sido atingida pelo carro, com certeza Richard estaria despedaçado naquele momento. Como médico, cirurgião pediátrico ainda por cima, sabia o que significava um acidente para Marina. As chance dela.... Bom, ele nem queria pensar naquilo.

O pior havia passado. Até mesmo para Letícia, as escoriações e os ossos fraturados curariam com o tempo. A dor seria amenizada com os melhores remédios que Richard disponibilizaria para ela. Contudo, sua gratidão seria eterna. A vida de Marina estava salva e Richard nunca conseguiria recompensar Letícia por tal ato de bravura.

Letícia estava longe. Porém perto. Não conseguia distinguir onde se encaixava no espaço-tempo que ela se encontrava. Sabia apenas que era aconchegante o suficiente para que ela não quisesse sair de onde estava. Seria o paraíso, ao qual a mãe sempre falava que Letícia nunca iria com aqueles modos que ela tinha?

Não. Letícia sabia que não tinha ascensão ao paraíso. Havia abandonado a fé e a Deus no momento em que o caixão de sua mãe tinha sido lacrado. Sua vida não era mais devoção cega. Letícia era dona de si própria e comandava o seu destino. Não agradecia aos céus por cada passo que dava e se desculpava na mesma proporção.

Aquilo não era o paraíso e nunca poderia ser. Letícia sentia dor. Uma dor forte e que a puxava cada vez para mais longe daquele lugar tranquilo em que ela estava. Era demais, ela não suportaria. Estava por explodir a cada segundo que se passava.

Abriu os olhos e se imaginou realmente no paraíso, com um anjo a observando de perto.

— Letícia, meu amor — Richard disse baixinho para ela que se acostumava com a luminosidade do quarto. — Tu acordou. Finalmente.

Richard estava sorrindo. Acariciando o rosto de Letícia, que começava a formar um hematoma em uma das bochechas.

— Bem-vinda de volta, minha querida. — Os olhos dele brilhavam ao encarar Letícia acordada. — Olha aqui para mim. — Ele colocou uma luz forte nos seus olhos e a balançou. — Tudo ótimo, graças aos céus.

Letícia não sabia onde estava. Era um quarto amplo, claro demais e aparentemente vazio. Que lugar era aquele?

— Onde... Onde...? — Sua dor era tanta que ela nem conseguia formular uma frase, quem dirá pensar direito.

— Onde tu está? No hospital, Letícia. — Richard respondeu calmamente.

Ela o encarou. Hospital? Como havia chegado ali?

— Não lembra?

Richard sentou na cama e pegou a mão dela, a que não estava enfaixada, mas com o um acesso de soro, que pingava lentamente.

— Estávamos conversando na frente do teu salão, lembra disso?

Letícia assentiu e logo se arrependeu, a dor era intensa.

— E a Marina me viu, se soltou do Maurício e começou a correr em nossa direção. Um carro estava passando e...

A lembrança veio tão forte como o impacto que ela sentiu no seu corpo. Ela havia sido atropelada. E este fato explicava todas as dúvidas de Letícia que estava a ter naquele primeiro momento.

— Letícia — Richard continuou — Tem noção do que tu fez? — Ele sorriu amavelmente — Tu salvou a vida da Marina. A vida da minha filha.

— Como....? — A dor ameaçava a tirar a sua consciência.

— Como ela está? — Um riso escapou dos lábios de Richard — Se ela não voltou para cá até agora pelas mãos da Liana, muito bem. Apenas um joelho ralado e um roxo em uma perna. Tu absorveu todo o impacto, Letícia. Todo o impacto que a Marina iria receber no seu corpinho. Tenho a plena convicção de que ela não iria aguentar. Se não fosse pelo impacto, seria pelos ferimentos.

Richard era mais centrado que Liana, mas nem por isso deixou as lágrimas escorrem até aquele momento. E quando Letícia viu uma escorrer pelo rosto dele, apagou novamente. 

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