Capítulo 12 SOMENTE 15 CAPÍTULOS POSTADOS - DISPONÍVEL NA AMAZON

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SOMENTE 15 CAPÍTULOS POSTADOS - DISPONÍVEL NA AMAZON

          Mesmo contra a gosto, Richard percebeu que não poderia manter mais Letícia no hospital. Ela estava livre de qualquer complicação que o atropelamento poderia trazer tardiamente. Todos os exames em mais perfeita ordem e as dores, infelizmente, elas continuariam por mais alguns dias, mas já havia passado do pico de intensidade. Agora era repouso e esperar o seu corpo se recuperar completamente.

Voltar para casa foi um alívio, principalmente para Letícia. Estava sentindo-se um pouco sufocada de tantos cuidados assim. Nem mesmo sua mãe havia sido um dia tão atenta às necessidades de Letícia um dia. Ela lembrava de quando era menor e ficava doente, a mãe apenas dizia para a filha pedir a Deus uma cura, se fosse digna Ele a concederia. Ao ficar um pouco maior, Letícia mesmo ia atrás de consultas no posto de saúde da cidade, encarava o médico sozinha e agradecia quando havia o medicamento na farmácia da cidade de forma gratuita.

Mas agora era passado, ela inspirou, até onde sua dor deixou e expirou calmamente, deixando que os ares da sua casa entrasse dentro do seu corpo e a acalmasse.

— Tem tudo que precisa aqui? — Richard falou logo atrás dela, dentro da sua sala.

Letícia estava tão contente por estar ali que nem lembrava que ele estava atrás de si, trazendo a pequena bolsa que Fernanda fez às pressas com alguns itens pessoais que ela teria que agradecer. Era bom ter alguma coisa familiar naquele ambiente tão diferente.

— Tenho, é claro. — Letícia se virou para ele, sorrindo de leve. — Obrigada.

Aquele sorriso mexeu fundo em Richard. Mais do que um dia um sorriso simples daquele poderia mexer com o médico. Principalmente com o roxos que ela tinha no rosto perdendo a coloração forte e se espalhando. Richard sentiu que perdeu a voz, tanto que teve que dar uma limpada na garganta para a recuperar. Deu um passo em direção à Letícia se aproximando.

— Não tem que me agradecer, Letícia — e mais um passo, ficando mais próximo do que o necessário para aquela conversa. — Eu que nunca vou conseguir expressar em palavras toda a gratidão que eu tenho por ti, minha linda.

Letícia sentiu o corpo arrepiar, não de uma forma ruim, apenas de uma forma diferente. A presença de Richard fazia isso com ela. Talvez fosse o fato de os dois terem passado um considerável tempo juntos naqueles últimos dias. Era como se Letícia conseguisse até mesmo respirar, com a dor à parte, mais à vontade ao lado de Richard. Um fato que ela ainda não tinha se dado por conta e nem teria chance para analisar o sentimento. Ela estava em casa. Na sua pequena e solitária casa, ou a que ela ainda podia chamar de sua. No momento em que Richard fosse embora, ela voltaria a ser a Letícia de sempre, um pouco mais quebrada, literalmente, mas a isolada e sozinha do que nunca.

Richard estava tão perto que estava quase perdendo sua estribeiras novamente. Aquele pequeno fio que o fazia manter a sanidade perto de Letícia estava mais desgastado do que o normal, quase arrebentado.

— Pai! Pai! PAAAAAAAAAAAAI! — Os gritos inconfundíveis de Marina chamou a atenção da quadra toda. Fazendo que o pequeno momento entre Letícia e Richard acabasse, antes mesmo de ele poder considerar que fosse realmente um momento dos dois.

— Estamos aqui, Docinho. — Disse ao se afastar de Letícia e ir em direção à porta.

O barulho de alguém pequeno subindo as escadas era nítido e foi o que fez Richard recobrasse sua consciência do que estava por quase fazer. Novamente os pensamentos de agarrar Letícia e a beijar invadiram a sua cabeça e Richard temeu por ele mesmo. Se continuasse daquela forma, mesmo com ela quebrada e com dor, teria que se afastar definitivamente. Uma coisa que ele não queria de jeito nenhum. Tinha que dar toda a assistência para ela e como ela merecia. Não com Richard igual a um adolescente na puberdade que estava perto da garota que gostava.

A porta abriu e Marina entrou como se fosse sua casa. E ao ver Richard, jogou-se nos braços do pai sem cerimônia nenhuma.

— Pai!

— Oi, meu amor! — Richard abraçou a filha, a única razão para que ele levantasse todos os dias da cama e tentava fazer do mundo um lugar mais digno para Marina viver.

Richard poderia ter a vida que quisesse. Morar em uma grande cidade, uma ótima clínica para atender seus pacientes e escolher quem quisesse atender. Mas não. Optou ser pai, viver em uma cidade tão pequena quanto um bairro de uma grande cidade e trabalhar em um hospital em que a grande maioria dos atendimentos para quem realmente precisava e nem sempre poderia arcar com grandes custos de clínicas particulares. Tudo isso para que pudesse ver Marina crescer. Para que pudesse ser pai no resto do seu tempo e ser o melhor que conseguisse.

— Como tu está, meu amor? Cadê a tua mãe?

— Ela me atravessou a rua e eu entrei — Marina olhou para Richard, a miniatura de Liana em seus braços. — Eu nunca mais vou atravessar a rua sem estar de mãos dadas com alguém.

— Acho bom! — E novamente abraçou a filha com todo o amor que existia dentro do seu coração. E para um cara bem grande como Richard, não era nenhum pouco.

Marina se desvencilhou do pai e foi em direção à Letícia que assistia a cena de escanteio.

— Tia Letícia vai precisar de muita maquiagem. — No auge da sua sabedoria, Marina proferiu, fazendo com que Letícia risse até onde a dor deixou.

— E por que a tia Letícia vai precisar de maquiagem, Marina?

A filha olhou para o pai sabendo que o que viria após não era uma coisa muito boa para o seu lado. Já imaginando o esporro, lágrimas surgiram nos seus olhos.

— Por que, Marina?

— Por.... — a torneirinha de lágrimas dela estava em automático — por... porque eu fiz coisa errada!

— Fez sim — Richard continuou a falar, ignorando o choro da filha. Era acostumado a trabalhar com ele em seus ouvidos. Nem todas as crianças gostam do seu pediatra. — Fez uma coisa muito errada, Marina. E olha que a gente te avisou milhares de vezes!

— Mas pai....

— Sem essa, Marina. Dessa vez não tem desculpas, olha a tia Letícia. Toda machucada por tua causa.

— Richard.... — Letícia tentou falar em vão.

— Não, Letícia, dessa vez a coisa foi bem séria, Marina tem que aprender que o que faz tem consequências. Quando não é com ela, pode ser com os outros, assim como foi contigo.

Letícia novamente ficou em silêncio. Não tinha argumentos para aquele momento e estava realmente cansada. Queria terminar de subir aquelas escadas e deitar na sua cama. Amanhã seria outro dia e ela teria novas batalhas para vencer.

Marina correu para os braços de Letícia daquela vez, a fazendo sentir tanta dor que chegou a perder um pouco da visão e da consciência.

— Desculpa, tia Letícia. Des.... desculpa. Eu não vou mais fazer isso. Já prometi para a mamãe, o tio Maurício e o dindo Sérgio.

— Está tudo bem, Marina. — Ela tocou nos cabelos dela, tão finos que já havia lavado diversas vezes em seu salão.

Letícia sentiu o seu coração apertar dentro do seu peito. O sentimento de Marina era verdadeiro, Letícia podia sentir isso. O arrependimento de uma criança era o mais puro possível, uma pena que as crianças perdiam com o decorrer do tempo em que crescem.

Marina a soltou e Letícia limpou as lágrimas do rosto da menina. Com dificuldade, sentou no sofá que estava ao lado e encarou Marina e os olhos iguais aos de sua mãe.

— Está tudo bem, Marina. Tia Letícia vai usar bastante maquiagem para trabalhar amanhã — E sorriu de leve ao limpar a nova leva de lágrimas. — Me dá um abraço que eu vou melhorar mais rápido, pode ser?

Marina concordou e abraçou Letícia.

Aquele abraço foi o mais verdadeiro que Letícia já havia recebido. Era tão puro que tinha certeza de quando as luzes deixassem o seus olhos, ela lembraria daquele abraço. O único ato de afeto puro que ela recebeu enquanto era viva. 

Sob a luz das estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora