Capítulo 4 SOMENTE 15 CAPÍTULOS POSTADOS - DISPONÍVEL NA AMAZON

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            Letícia estava mais deslocada do que o normal. E aquele era um sentimento muito recorrente a ela. Pensou que iria apenas olhar a cerimônia, emocionante, e iria sair às escondidas para o seu pequeno quarto.

Imaginou que seria a coisa mais sensata a ser feita, sair e deixar que a festa continuasse e o pessoal se divertisse como mereciam, a presença dela não era nenhum pouco importante. Contudo, para a sua sorte, ou azar, quando ela pensava que conseguiria sair alguém sentava ao seu lado para conversar.

Começou com Fernanda, sentou ao lado de Letícia, com João Sérgio em seu colo e conversou com Letícia até ela relaxar um pouco. Todos ali eram amigos e conhecidos, Letícia não era nenhuma intrusa. O caso piorou quando Sérgio sentou ao lado da esposa e os dois conversavam com ela de uma forma animadíssima.

Letícia conseguia sentir-se um pouco mais tensa, se era possível. Gostava de ambos, Sérgio e Fernanda sempre a trataram como se ela realmente fosse uma pessoa. E Sérgio, principalmente, quando Letícia era criança a tratava como tal, apesar dele e de sua mãe nunca conseguirem manter uma conversa além do básico.

As vozes da sua mãe ainda ressoava na sua cabeça diariamente, praticamente a cada hora em que Letícia estava acordada.

— Ele não presta! A família inteira não tem Deus no coração! Olha aquele Sérgio! Casando com uma meretriz! Colocando embaixo do seu teto uma mulher da vida e ainda grávida de outro que ela nem deve saber quem é de tantos que já passou pela sua cama. E o menino é um desalmado! Deus não iria querer ele ao seu lado, por isso que nem consegue morrer decentemente! E a guria? Outra praga que Deus colocou na Terra para nos testar! Quem anda ao lado deles nunca vão ser boas pessoas! Está me escutando, Letícia? Se eu te ver de novo com eles vai ser pior para ti.

E a batida na porta fazia que Letícia se encolhesse mais ainda para que as suas dores físicas acalmasse a que se assolava na sua alma.

Quando Sérgio e Fernanda saíram do seu lado, chegou as crianças. Marina, Felipe e Sofia. Um mais fofo do que o outro. Nem parecia que fazia poucos anos que Felipe e Sofia chegaram e mais outros a frente, Marina. Marina era a que Letícia tinha mais contato. Filha de Liana e Richard, sempre que via a "tia Letícia" fazia questão de conversar com ela. Geralmente sobre as novas ideias que gostaria de fazer nas suas unhas ou até mesmo o desejo de pintar os cabelos das cores do arco-íris, assim como ela tinha visto uma guria em sua escola.

A invasão das crianças foi rápida e quando tentava fugir pela terceira vez chegou Beatriz para sentar ao seu lado.

— Acho que vou dormir três dias seguidos quando acabar. — Bocejou ela ao lado de Letícia. Bia tinha sido a grande responsável por toda aquela festa e realmente merecia descansar.

— Está tudo lindo, Bia. Realmente tu merece um descanso.

— Eu sei — ela sorriu triunfante ao ver Jonathan, Paula e os gêmeos dançando no meio da pequena pista.

E Bia logo se foi ao ser tirada por Ricardo para dançarem. E quando os dois dançavam, todos paravam para olhar. Até mesmo Letícia, ainda com a voz da mãe ressoando ao fundo.

— Dança é coisa do mau, Letícia! O corpo não foi feito para ficar mexendo como um liquidificador, ainda mais se for ao lado de um homem! Homem não presta! A mente deles só pensa em coisas feias. Nunca deixe um te tirar para dançar, está me escutando, Letícia! Nunca. Lembra que as moças que se permitem tal liberdades não merecem respeito!

Letícia percebeu que estava sozinha e achou a brecha que queria para desaparecer dali. Saiu em direção à porta principal e ao chegar à rua, percebeu que não estava sozinha. Sentada no cordão da calçada, estava Richard, com um copo na mão e o celular no ouvido.

O susto foi grande. Nutria um certo assombro sempre que o encarava. Richard não era discreto quando se tratava de Letícia, ele mandava mensagens diárias para ela, que por educação ela respondia com o mínimo possível de palavras. Liana havia advertido que Richard era uma espécie de grude, e ela demorou a entender o que realmente significava aquela expressão.

Para o seu desespero, Richard se virou ao ver que não estava sozinho no momento.

— Letícia — ele sorriu e levantou-se rapidamente, tonteando um pouco. — Opa! Alguém já bebeu demais.

Letícia engoliu em seco.

Richard era mais alto que Letícia e isso a amedrontava um pouco mais, aliado ao fato de que era visível que ele estava embriagado.

— Álcool é coisa do Diabo, Letícia! — Sua mãe a avisou diversas vezes. — Desvirtua os homens!

— O que está fazendo aqui, Letícia? Deveria estar lá dentro aproveitando a festa. Eu só vim para cá porque recebi um áudio de um colega meu e não conseguia escutar direito. Pensei que fosse algum paciente meu, mas era para avisar de uma troca de plantão.

Estendeu a mão para Letícia enquanto a encarava.

— Vamos voltar para lá? Preciso comer alguma coisa antes que comece a vomitar.

Letícia deu um passo para trás.

— Vou para casa — murmurou baixinho.

— Mas já? — Richard ainda a analisava. Sabia que Letícia tinha certos atributos que chamavam a sua atenção. O olhar ingênuo, quase infantil era um deles.

— Estou cansada de arrumar todas elas — desculpou-se, mas sem mentir em totalidade.

Richard assentiu. Sabia que o quarteto que Letícia havia passado o dia não era fácil de lidar.

— Entendo. — A mão dele continuava estendida. — Posso te levar para casa, então? Hoje em dia não dá para facilitar para os assaltantes.

Richard estava bem mais alterado do que ele percebia. Tinha o pequeno defeito de ser pouco tolerante ao álcool. Fruto da sua escolha de vida. Não dava para atender os seus pacientes fedendo a bebida, ainda mais sendo um cirurgião pediátrico. Deixava para se embebedar em ocasiões especiais como essa que estava acontecendo hoje.

— Não precisa, Richar...

— Eu insisto, Letícia. Vem... — e agarrou a mão dela delicadamente.

Atravessaram a rua e Letícia estava em casa. Richard a soltou e percebeu que o álcool no seu corpo estava prestes a fazer uma loucura. Será que Letícia o perdoaria um dia?

E antes que Letícia percebesse que alguma coisa estava por acontecer, Richard colou a sua boca na dela. 

Sob a luz das estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora