Capítulo XIV

73 14 8
                                    

"Quando a pessoa que você esperou por tanto tempo aparece, geralmente a sua reação é de felicidade. A minha não foi assim. Minha reação foi de perda. A mulher que amei por tanto tempo se perdeu para sempre..."

Levi Ross

Quando saí daquele quarto não foi para me distanciar de Alícia, foi para fugir dos meus sentimentos. Da perda que se alastrou por todo meu ser. Quando ela falou que tinha voltado eu não me senti feliz. Senti tudo naquele momento, menos felicidade.

Meus sentimentos ficaram confusos. Esperei Alícia por tanto tempo, a espera de encontrá-la depois de muitos séculos. Estou confuso por não sentir o que deveria, porque não sei dizer o momento em que deixei de esperar. Somente sei que quando vi Aly pela primeira vez, senti que algo em mim havia mudado e depois quando a reencontrei depois de anos, parecia que meu rumo já não era mais o mesmo, que o caminho que deveria seguir terminou ali quando a olhei e conversei com ela.

Fico andando pela casa até me deparar com a porta da sala. Entro e vou em direção da janela. Olho para fora e vejo o sol surgindo devagar pelas montanhas. A última coisa que quero é voltar para o quarto e enfrentar o passado. Ontem me senti realmente vivo ao lado de Aly, ela me aceitou do jeito que sou e a amei fervorosamente por isso. Seu corpo se conectou ao meu de um jeito tão profundo... Nem mesmo nas minhas mais torridas noites de amor com Alícia cheguei a me sentir assim e por isso tenho sinto como se estivesse traindo nosso tempo juntos. Dentro do meu coração nasceu algo tão forte que superou qualquer sentimento que eu pensasse ter existido anteriormente e isso não deveria acontecer.

Por isso resolvi me distanciar daquele quarto. Minha vontade era entrar nele e sacudir Alícia, fazer com que ela falasse aonde Aly estava, e isso me deixou assustado, parecia que eu a estava traindo.

Passei tanto tempo esperando minha amada, eu me deixei ser amaldiçoado por isso. Quando ela abriu seus olhos e senti seu corpo, percebi que não era a mesma pessoa. Aly de algum modo tem algo que Alícia não tem. Ela é uma pessoa única. Como se fosse outra pessoa. Mas como? Não são a mesma alma?

Cada vez que me lembro de minhas memórias com Alícia me vem a agonia, me sinto um traidor, como se estivesse traindo minha amada, minhas memórias e meu passado.

Saí daquele quarto porque não aguentava mais olhar para Alícia. Me senti traindo Aly, traindo as memórias que criei com ela agora no presente. Traindo as duas...

Meus sentimentos se dividiram de um modo que não podem se juntar novamente. É como se eu tivesse amado duas pessoas totalmente distintas.

Respiro fundo e olho mais uma vez para o horizonte, tentando achar uma solução porque não posso fugir dessa situação, preciso encontrar um modo de desbravar minha indecisão. Por um lado eu tenho a mulher que esperei durante séculos, a mulher em que amei como rei e como homem. Do outro lado eu tenho uma menina mulher em que aprendi a admirar, acompanhei todos seus passos. Me aceitou como sou, sabe o que me tornei e sabe minhas limitações. A mulher que redescobri a vida é a Aly. O problema é que as duas são uma só. Não tem como se separarem.

Soco o vidro da janela, bem na hora que o primeiro raio de sol bate onde estou. Uma dor ardente se alastra pela minha mão. Sinto a ardência nela, como se fogo lambesse minha pele. Me afasto rapidamente da luz e fecho a janela, deixando a sala na mais completa escuridão.

Uma das coisas que sinto mais falta da minha antiga vida, é o nascer do sol. Sempre o apreciei. Cavalgava até as montanhas mais altas e apreciava ele nascer e se pôr. Era uma rotina para mim, desde que meu pai, quando eu era um garotinho me levara. Me lembro até hoje das suas palavras:

Um amor para Levi RossOnde histórias criam vida. Descubra agora