Capitulo 3 - Doce criança (Revisado)

276 75 468
                                    

       – É um prazer te ver de novo Eva. – Ele me encarava com um olhar penetrante me deixando sem reação por alguns segundos. Eu respondia? Corria? Ia para cima dele? Nenhuma dessas foi uma reação viável na hora à não ser ficar ali imóvel, o encarando de volta.


       – Você só pode estar brincando comigo não é? – Essas foram as únicas palavras que consegui proferir após o meu transe. – O que você está fazendo aqui?


       – Eu só precisei de um tempo para arrumar umas coisas. Agora que arrumei tudo, decidi que era hora de voltar. – Eu revirava os olhos inspirando profundamente tentando achar uma saída para aquela situação.


       – Que seja, eu estou indo embora. – Sinto sua mão segurar meu pulso e eu desvencilho rapidamente de maneira brusca com a intenção de mostrar-lhe que eu não estava para brincadeira. – Não encosta sua mão em mim. – Eu dizia fitando-o profundamente antes de sair do bar me direcionando até o meu carro. Entro me sentando no banco do motorista fechando minhas mãos em punho dando socos no volante com a lateral das mãos. Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa vejo Jared bater no vidro do carro e abro uma fresta da janela evitando o contato visual.


       – Nós podemos conversar? – Ouvir aquela voz me causava arrepios, naquele momento eu só queria chorar. Queria dormir e quando acordar ver que tudo isso não passou de um pesadelo.


       – Tudo o que você tinha que conversar comigo, devia ter sido dito há seis anos. Agora já é tarde demais. – Arranco com o carro deixando ele para trás sem lhe dar a chance de retrucar. Não podia mais ouvir sua voz. Já não era suficiente tudo o que eu tinha sofrido, tudo o que eu tinha me tornado por conta disso? E agora ele volta como se nada tivesse acontecido e todas as cenas que vivemos juntos passam como flashbacks acelerados em minha mente enquanto eu dirigia para a casa. Só queria chegar logo e me esconder debaixo do chuveiro, permanecer ali chorando até que toda essa angústia fosse levada para fora do meu peito.


      Quando adentrei em meu apartamento, pensei em realmente correr para o chuveiro e chorar mas ele não merecia mais nenhuma lágrima. Fui até o bar que ficava exposto na sala, sabia que boas doses de whisky resolveriam aquela dor mas não era só isso.


      – É exatamente como naquele dia...


      Abro uma caixa preta em cima do bar tirando dali um pequeno saco com seu conteúdo branco dentro. Jogo uma boa quantidade sobre meu celular e começo a arrumar com um cartão, pegando em seguida uma nota de cinquenta em cima da mesa enrolando-a. Inalar aquilo é como se tirasse um peso das minhas costas, um refúgio do mundo, mas a sensação já não é mais a mesma da primeira vez.


      Ouço a campainha e vou até a porta olhar quem é e através do olho mágico posso ver um rosto muito familiar, Sandes. Abro a porta sem dizer nada apenas dando-o passagem para entrar.


       – Quer beber alguma coisa? – Pergunto- o totalmente sem ânimo e cabisbaixa.


        – Não Eva. Só quero saber, o que foi aquilo? – Podia ver em seus olhos a preocupação, ele nunca tinha me visto dessa forma, frágil, acuada e imagino o quão chocante aquilo deveria ter sido para ele.

  
        – Bom, eu já te contei essa história. Ele é o cara que salvou minha vida quando eu nasci e acabou com ela dezoito anos depois. – Dito isso eu acabei de virar minha dose de whisky me jogando no sofá, suspirando.

Amor à Segunda VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora