§Capítulo 38§

61 7 0
                                    

Lauren


Lucas me estende a mão e a seguro hesitante. Ele se vira e abre um portal para, sei lá onde, e logo atravessamos.

Então, me encontro em uma praia deserta. Atrás de nós só haviam árvores que subiam uma montanha formando uma floresta. Estava de noite e não tinha a menor ideia de onde estávamos.

– Onde estamos?

– Japão. – responde com o olhar fixo em algum lugar ao longe, como se conseguisse ver muito além do que realmente deveria conseguir.

Mas, com a resposta, meu coração acelera no mesmo instante. Esse era o país que eu sempre quis visitar desde criança. “Como ele sabia? Tem alguma bolinha de cristal também?”, penso comigo.

– Como você sabia que eu sempre quis visitar o Japão?

– Nalãn me contou. – ele olha para mim e seus olhos verdes claros começaram a brilhar, olho para o horizonte e vejo o sol nascendo.

– Nós dois temos muito o que falar não é? Dá para perceber... Quer desabafar? – pergunta calmamente, foram necessários alguns segundos de silêncio até finalmente suspirar e assinto com a cabeça.

– Meus pais e os de Jesy estão mortos. – sinto um nó na garganta só em lembrar da cena e Lucas pisca, inexpressivo, mas percebo uma faísca de choque em seus olhos verdes.

– Quando voltamos da escola, fomos para a minha casa que fica perto de uma floresta, os pais de Jesy estavam lá também pois tínhamos combinado de acampar naquele dia. Quando chegamos a porta estava aberta e as coisas estavam jogadas no chão. Havia um rastro de sangue no chão. Eu e Lauren o seguimos e vi minha mãe já morta com uma ferida de mordida no pescoço. Eu coloquei as duas mãos na boca para abafar o meu grito, mas já estava chorando. Ouvimos um grito no andar de cima e um rosnado de cachorro. Subimos as escadas devagar. E encontramos uma mãe coiote mordendo o pescoço da mãe de Jesy. Olhamos mais atentamente e vimos três filhotes escondidos de baixo da cama de minha mãe. Depois mais três coiotes adultos apareceram. Corremos dali sem fazer barulho e saímos pela porta dos fundos indo em direção a praia quando encontramos o corpo do pai de Jesy também já sem vida, com uma mordida profunda no pescoço. Corremos para a floresta e começamos a ouvir uivos de outros coiotes. Encontramos uma montanha e quando estávamos prestes a subir Nalãn e Yong apareceram e nos tiraram dali a tempo de os coiotes não nos pegarem. – começo a chorar descontroladamente, lutando contra os soluços, odiava desabar desse jeito na frente dele mas agora, pouco me importava se estava sozinha ou com uma plateia, eu precisava chorar, precisava colocar aquilo para fora, libertar logo aquele peso.

De repente, Lucas me abraça e eu não recuso, não empurro, apenas aceito sua tentativa de conforto e, logo, escondo meu rosto em seu peito e fico ali por um bom tempo.

– Meus tios também estão mortos. – a voz estava rouca, mas mantinha um tom bom e firme, não era sempre que Lucas chorava, na verdade, era muito difícil o ver sequer expressar tristeza, quando acontecia, ele simplesmente sumia, se isolava e se fechava dentro da própria bolha sem permitir que sequer Alex entrasse em sua casa para o ver.

Então, encaro seus olhos verdes, estavam mais vívidos como jamais estiveram, um vívido escurecido, o verde intenso em destaque à pele escura não estava mais ali, agora uma sombra predominava os olhos verdes Lucas, luto dominava aquele verdor que um dia já foi brilhante e, por instantes, temi que nunca mais veria aquele brilho. Sempre que Lucas ficava assim, com aquela sombra no olhar, a sensação era de que ele nunca mais voltaria a sorrir, a ter aquele brilho, a depressão de Lucas o limitava demais, e já houve tentativas e pensamentos de suicídio, aquela sombra só tornava as coisas piores.

§Guardiões da Terra: Os Novos Herdeiros§ [REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora