Troubles

5

- Dois dias, Potter, você me fez pegar dois dias na detenção - eu disse, entredentes, enquanto éramos conduzidos por Flich para a sala onde passaríamos uma hora com a professora McGonagall e mais alguns outra alunos.

- Estou apenas garantindo um tempo a mais para a gente, Evans - ele disse, dando seu sorriso presunçoso.

Decerto, eu não poderia reclamar. Ficar com ele na detenção era, sem dúvidas, melhor do que suportar Vernon e Petunia. Então eu apenas suspirei e sentei em uma carteira aos fundos ao chegar na sala. Potter decidiu que seria interessante se sentar a minha frente. Ele se virou, se encostando na parede ao lado da carteira, enquanto eu decidira pegar um livro para ler. Eu podia sentir seu olhar sobre mim, e após duas folhas, o encarei.

- O que houve? - Ele me perguntou.

- Você não para de me encarar - disse.

- É, porque eu quero saber o que houve. Você não iria vir para a detenção hoje - ele estreitou um pouco os olhos.

- Não aconteceu nada - disse e decidi voltar para a minha leitura.

Era óbvio que James não parara de me olhar. Não consegui me concentrar novamente. As minhas lembranças com Vernon ficavam voltando a mente. E então ele com Petunia. E as minhas discussões com meus pais. As palavras que eles me falaram. Aquilo sempre acabava voltando para a minha cabeça em algum momento. Às vezes eu era capaz de detê-las, às vezes elas tomavam contra de meus pensamentos. Esses momentos eram um pesadelo.

- Podemos conversar sobre outra coisa, então - James falou e eu desviei meus olhos do livro. - Você está encarando essa mesma página há meu hora, Lily. Vamos conversar.

- Tudo bem... - concordei fechando o livro.

- Matéria favorita? - Ele questionou e eu pisquei, atônita.

- Matéria...?

- É, eu sei que você é uma nerd, mas escolha uma - reviro os olhos, mas paro um segundo para pensar.

- Literatura.

- Previsível, Lílian - ele questiona e eu arqueiro as sobrancelhas.

- Como se a sua não fosse Educação Física - o encaro e ele nega con a cabeça.

- Química - minha cara de incredulidade era clara e tive que me segurar para não rir. - Como acha que eu consigo tantas pegadinhas maravilhosas, as bombas são as minhas favoritas.

Não pude evitar sorrir. James Potter realmente escondia algumas coisas e descobri isso enquanto conversávamos. Ele não tocara em nenhum ponto pessoal. O que foi ótimo. Dessa forma meus pensamentos não voltaram para os meus problemas em casa. Não me lembrava de Vernon. Nem de que ele estava lá em casa com a Petunia. Ou que ele estava paparicando meus pais. Nem me lembrei de que meus pais achavam que alguém como Vernon era perfeito para mim e que eu deveria arrumar alguém logo. A detenção passara praticamente voando e logo estávamos sendo liberados.

- Te vejo amanhã, Evans? - James me perguntou com seu típico sorrisinho antes de nos separarmos na porta da escola.

- Você me fez esse favor, Potter, não tem mais como eu escapar - digo, sorrindo também, e ele pisca um olho, logo seguindo seu caminho para casa.

Faço o mesmo, a passos lentos. Não tinha muita vontade de chegar em casa. Eu não iria mentir. Definitivamente não. Seria ótimo ver a cara dos meus pais, da minha irmã e de Vernon quando eu falasse que me atrasei porque estava na detenção e que me atrasaria de novo no dia seguinte porque pegar a dois dias. Claro, não contaria que a detenção fora forçada de última hora porque eu não queria ver o namorado da minha irmã. Eu jamais daria tanta decepção a minha família a ponto de alguém acabar tendo um ataque cardíaco. Isso tudo poderia vir aos poucos. Por hora, eu fingiria que não era tão boa garota assim.

Todos os quatro estavam na sala quando entrei em casa. E toda as quatro cabeças se voltaram para mim quando eu fechei a porta. As expressões eram todas diferentes. Petunia sorria como se soubesse que tal atitude era esperada de mim e não estivesse surpresa. Vernon tinha as sobrancelhas arqueadas, não tinha certeza do que ele pensava sobre a situação, ou se ele pensava algo sobre a situação. Minha mãe parecia soltar fogo pelos olhos. Me lembro de quando era mais nova e essa cara dela me dava medo. Claramente os tempos são outros. Meu pai parecia um olhar de desapontado, mas não parecia bravo.

- Lily - Petunia quebrou o silêncio.

- Petunia. Vernon - os cumprimento sorrindo, provavelmente amarelo, mas não era como se eu estivesse me importando.

- Você está atrasada - minha mãe comentou.

Eu estava me atrasando nas últimas semanas também. Mas ela não parecia se importar. Claro que iria ser diferente quando a filha perfeita estava em casa com seu maravilhoso namorado. Argh, só pensar nisso me dava ânsia de vômito.

- Desculpe, eu estava na detenção - tentei fazer uma cara de quem estava arrependida, e talvez tenha dado certo.

- Detenção? - Minha mãe parecia surpresa, enquanto isso Petunia continua um sorriso em seu rosto.

- É... Eu acabei socando o Malfoy na cafeteria hoje e o Fitch me mandou para a detenção.

Ok. Essa era história velha. Mas eu não estava a fim de explicar o que havia me dado na cabeça para participar de uma pegadinha do Potter.

- Pro seu quarto - minha mãe disse calmamente, mas eu podia ver o fogo em seus olhos.

Assenti e subi as escadas, seguindo para o único cômodo onde eu consegui a ter o mínimo de privacidade e paz naquela casa. Assim que troquei de roupa e me joguei na cama, mandei mensagem para as meninas contando sobre o que acontecera. Elas não acreditaram muito quando eu falei o que eu havia feito com o Potter, mas quando disse que Vernon estava aqui elas logo disseram que eu deveria me refugiar na sala da Minerva pela próxima semana. Isso claro depois delas alegarem que suas casas estavam de portas abertas para me esconder e eu dizer que minha mãe nunca aceitaria que eu estava fugindo para casa das minhas amigas invés de receber as visitas. Como se eu me importasse com as visitas.

Eu dormi mais tranquila naquela noite. Minha mãe não fora falar comigo sobre meu comportamento vergonhoso e sobre o fato de eu não estar presente para o jantar de família por uma detenção. Bem, isso era ótimo. Me poupava o tempo de lhe dizer que eu não me importava com aqueles jantares de família onde o assunto sempre se voltava para o fato de eu ser uma filha decepcionante. Me desculpa, mamãe, seu pedido de ter duas Petunias não foi atendido.