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CAPÍTULO 05

Apenas Nós | Livro Um


— O que é o luto senão o amor que perdura?

São essas as palavras que dão início a breve história que me levou a escolher a psicologia. Luto. Amor. Uma frase curta de um filme que sequer lembro o nome, somente recordo da sensação melancólica que me consumiu ao ler em um post qualquer na internet, os sentimentos que cada palavra possuía e a quem elas me levaram.

O professor e psiquiatra, Sr. Henriques, havia pedido para escrevermos o motivo pelo qual estávamos ali para adentrar e lidar com a mente humana. Era um simples trabalho para alguns, mas foi nesse instante que me vi sendo a garotinha de oito anos que tragicamente perdeu alguém que tanto amava, e desejo não ter que colocar essas palavras nas entrelinhas da minha história.

"O que é o luto senão o amor que perdura?

É não sentir nada além de saudade, do vazio no peito e da angústia das perguntas sem respostas. É a inspiração por trás do sonho realizado de alguém que sente, que sente muito, e não há forma menos dramática de escrever a realidade por trás da felicidade que sinto por estar cursando psicologia.

O motivo, quando há um, nem sempre é bonito. É somente real demais... e por isso cruel. Eu não acordei um dia, me olhei no espelho e decidi o que queria ser quando estivesse na fase adulta da vida, também não fui a uma feira de profissões no ensino médio, mas senti a dor de muito cedo ter presenciado o que a mente humana é capaz de fazer com quem está vulnerável, a forma como ela induz a acreditar que não há valor algum na vida e como é fácil apagá-la como a chama de um isqueiro (...) Eu o perdi porque sua mente estava cansada de gritar por socorro, e se eu não fosse apenas uma criança, se eu possuísse conhecimento sobre tudo isso poderia, quem sabe, ter evitado?!

A psicologia não é somente a profissão que almejo, é a síntese da minha história."

Um nó enorme se forma na garganta antes mesmo que eu consiga terminar de digitar, e pisco várias vezes para afastar as lágrimas que ameaçam escapar. Não queria chorar ali, sentada na mesa do café rodeada por pessoas desconhecidas, não queria sequer chorar, mas fora como estar de frente com o passado quando encontrei um papel amassado no chão da minha antiga casa, e juntando as letras com cautela, li palavras dolorosamente poéticas e trágicas em uma carta de... despedida, escrita por ele antes de... nos deixar. É como voltar para o exato instante em que me explicaram em vastas palavras o que era a depressão. Não era uma história bonita e feliz, mas era o real motivo, senão o único, pelo qual cultivei o desejo pela psicologia. Quisera ter poder e conhecimento para enxergar os sinais, para ajudar quem quer que precisasse. Suspirei fortemente, e fechei o notebook decidindo continuar depois. Concentrei minha atenção em terminar o meu café e o muffin que estava pela metade, enquanto iniciava uma busca pelo contato de Anne que, havia prometido me encontrar aqui para irmos até o shopping, agora mais do que antes eu precisava de uma distração. No entanto, acabei encontrando uma mensagem sua cancelando nosso passeio porque precisava resolver um assunto urgente, e eu desejei com todas as minhas forças que não houvesse sido trocada por Estevão, mas sabia que era uma causa perdida.

A contragosto juntei meu material e guardei na bolsa, ao mesmo tempo em que mastigava e degustar o delicioso sabor do muffin com calda de caramelo e morangos, por pouco não engasguei quando uma voz recém conhecida alcançou meus ouvidos, ao dizer — Sem histórias para comentar hoje? — eu já havia entendido, Adam nunca cumprimentava, ele só chegava e conquistava minha atenção completamente.

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