CAPÍTULO 14
Apenas Nós | Livro Um
Encarava o teto reunindo forças para levantar da cama, o alarme irá tocar em 5 minutos, mas o meu corpo já tinha se acostumado com o horário, embora eu deixasse que o toque estridente ecoou no quarto apenas para ter certeza que eu realmente precisava ir para a universidade e encarar mais um cansativo dia, apesar de hoje ser o melhor dia da semana e com as melhores matérias. Coloquei os pés no chão gelado, e meu corpo arrepiou-se com o breve contato, enquanto eu desligava o alarme e certificava-me que Anne ainda me ignorava. Inspirei fortemente me colocando de pé, e o perfume cujo eu passei a conhecer bem invadiu meu olfato, recordando-me — quase — que instantaneamente a noite de ontem, mas afastei os pensamentos, precisava me arrumar ou iria me atrasar.
Eu tinha acabado de colocar os pés para fora do condomínio, quando visualizei o carro preto reluzente estacionado em frente, me surpreendendo ao notar que tratava-se de Adam, que logo desceu do automóvel vindo até mim, seus cabelos estavam úmidos penteados para trás e ainda mais escuros, ele trajava uma calça escura e uma blusa azul cobrindo o tronco que eu havia conhecido detalhadamente ontem — Bom dia — cumprimentou casualmente.
— Bom dia — respondi, indiferente com sua aparição — O que está fazendo aqui?
Adam estreitou os olhos e inclinou a cabeça um pouco para o lado, com divertimento soltando em seguida — É assim que você trata suas visitas? — sua menção arrancou uma risada minha, e ele deu continuidade — Vim oferecer um café, e uma carona pra universidade — disse, com naturalidade — Mas só se você não quiser continuar de onde paramos ontem — seus olhos não estavam mais em meu rosto, Adam olhava com volúpia para o meu corpo.
Por um segundo eu realmente cogitei voltar para onde havíamos parado, mas não deixei a emoção me consumir e ligeiramente me afastei murmurando — Vou aceitar o café e a carona — Adam sorriu, dando de ombros e me conduziu até o carro.
O caminho foi feito em silêncio, aproveitamos apenas a música que tocava e a companhia um do outro, bem, foi a essa ideia que meu subconsciente involuntariamente se apegou quando percebeu Adam escolher o caminho mais longo para chegarmos à padaria. Por incrível que pareça, não estava tão cheia como de costume e facilmente conseguimos uma mesa, e dois minutos depois de termos feito nosso pedido, ele chegou a nossa mesa e eu agradeci aos céus, pois estava faminta.
— Não me diga que está fazendo dieta — comentei com divertimento, analisando a diferença entre o meu pedido e o de Adam que não passava de um mero copo com café.
— Algumas pessoas sabem a hora certa de almoçar, Giulia — parei de mastigar o pedaço da panqueca quando uma gargalhada sutil veio logo após o seu comentário.
— Engraçadinho — exclamei — Isso é culpa da minha mãe, ela sempre estava me esperando com a mesa cheia e me obrigava a comer antes de sair pro colégio, acabou se tornando um hábito — comentou, ao mesmo tempo em que minha mente recordava as lembranças de anos atrás — Vai me dizer que a sua mãe não fazia isso? — quis saber.
No segundo em que Adam me ouviu o sorriso em seu rosto se desfez dando lugar a uma expressão séria, sombria e... completamente vazia — Não..., ela não fazia.
Eu estava me preparando para perguntar o que houve, ou até me desculpar por de alguma forma ter tocado em um assunto, que aparentemente ele não gosta, mas a sombra de cabelos loiros surgiu entre nós dois, e a garota que recentemente descobrir chamar Zoe, encarou Adam.
— Você sumiu ontem — ela disse, e no mesmo instante meu coração pulou — Foi embora sem se despedir, que feio Miller — engoli seco o nó que formou em minha garganta, e apenas as suas palavras ecoam em minha mente repetidas vezes, assim como perguntas surgem rapidamente. Sem se despedir? Ontem? Ele a encontrou logo depois de ir embora do meu apartamento?
— Precisei sair cedo, Zoe — respondeu Adam, pouco se importando se eu ouvia ou não, mas não sou obrigada a presenciar Adam dando desculpas por ter sumido à sua conquista. Arrastei a cadeira devagar, e me coloco de pé chamando a atenção de ambos, Zoe sorri para mim e eu retribuo, mesmo com o gosto amargo na boca.
Volto minha atenção para Adam, e agradeço — Obrigada pelo café — não dando tempo para a sua resposta, começo a caminhar em passos largos para fora do estabelecimento.
Eu estava quase alcançando o carro para pegar minha bolsa, quando senti uma mão segurar meu braço forçando-me a parar — Qual é o problema? — Adam tinha um vinco na testa quando encontrei seu rosto — Giulia?
— O que? Só não quero atrapalhar vocês — me arrependi de deixar as palavras saírem da minha boca no mesmo momento em que as soltei — Pode deixar que vou andando — girei os calcanhares, mas Adam ainda me impossibilitava de avançar.
— Por favor, Giulia — disse com desdém — Você sabe quão patética está sendo, certo? — exclamou, e embora uma parte minha soubesse disso, o meu sangue ferveu.
— Me solta, Adam — mandei, me livrando do seu toque — Vá ficar com ela, não era isso que estava fazendo ontem depois de me deixar sozinha — andei até o carro, e dessa vez consegui pegar minha bolsa.
— Sabe, achei que você fosse mais inteligente que isso — eu estava de costas para ele quando sua voz me alcançou.
Voltei alguns passos, e parada em sua frente questionei — Como?
Adam umedeceu os lábios, e aproximou-se — Ciúmes? É sério?
Minha boca entreabriu, e eu paralisei desacreditada com o que acabara de ouvir, a risada que soltei foi seca e carregada de cólera, para em seguida afirmar — Você é inacreditável — e antes que ele pudesse retrucar, eu avanço para bem longe.
♥︎
Minha mente não parou um segundo sequer desde que eu e Adam pateticamente discutimos ou, seja lá o que foi aquele episódio mais cedo. Eu sabia que havia sido um tanto infantil deixando a emoção me consumir, esquecendo a razão e o óbvio: que eu e ele, não somos nada além de duas pessoas livres, e o fato disso involuntariamente me incomodar alertar que estou começando a me envolver, e isso assusta, por que não me lembro quando foi a última vez que permitir isso acontecer, e Adam conseguiu despertar uma faísca, mesmo que pequena, em meras semanas.
Passei o dia na USP ansiando que chegasse a hora de voltar para casa, e dei graças aos céus quando finalmente essa hora chegou, e eu finalmente estava girando a chave na fechadura para entrar no apartamento, que para a minha surpresa encontrava-se com a TV ligada e a loira sentada no sofá em frente a ela — Anne — chamei, certificando-me que estava a fim de conversar.
— Oi — respondeu, com um singelo sorriso nos lábios pintados de um rosa avermelhado.
Me sentei ao seu lado, deixando a bolsa de lado para encará-la — Desculpa por não ter contado sobre ele — comecei.
Anne deixou o seriado para depois, e voltou-se para mim — Tudo bem, eu só fiquei surpresa e muito chateada por não ter me contado que estava pegando o bonitão — a loira rola os olhos, e enfatiza bem a palavra ''bonitão'', não consigo deixar de gargalhar — Desculpa por ter beijado ele.
Uma careta ganha vida na minha face ao ser assolada pela imagem do beijo que rolou entre eles, mas me forço a jogá-la para longe — Tudo bem, você não sabia.
— Acho que no fundo eu sabia, Giulia — seu olhar não estava nos meus quando disse, e eu me espantei com sua confissão — Bem, vocês não foram muito bons em esconder que estava rolando alguma coisa, quando eu apareci e você jogou ''que ele veio entregar um livro'' — cruzei os braços em frente ao corpo, me sentindo estranha — Mas eu não pensei nisso, eu só queria fazer Estevão sentir o que eu passei quando vi ele beijando outra.
— Anne...
— Eu sei, eu sei — ela não permitiu que eu desse continuidade — E estamos falando de você agora.
— Não tem muito o que falar, só nos beijamos algumas vezes — confessei, dando de ombros e em minha mente as cenas de tais beijos rondavam.
— Uau, aquilo que eu presenciei ontem era apenas um beijo? — a loira zombou, e quando me dei conta já jogava a almofada em sua direção — Estou querendo comer algumas calorias, me acompanha? — questionou, mudando de assunto aliviando-me, afinal não queria mais falar sobre ele — Hambúrguer? — assenti, e sabia que a noite seria divertida, mesmo com alguns assuntos inacabados.
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Apenas Nós | DEGUSTAÇÃO
RomanceDUOLOGIA NÓS | LIVRO UM Giulia havia planejado cada mínimo detalhe da nova etapa da sua vida, desde o instante em que recebeu a carta de admissão da Universidade de São Paulo, com as belas palavras escritas em dourado "Bem vinda a USP." A garota est...