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CAPÍTULO 15

Apenas Nós | Livro Um


Anne e eu havíamos faltado os primeiros horários de aula para fazer compras, não de roupas ou qualquer outra coisa do tipo, e sim de comida, até porque o que nossas mães tinham comprado estava a um passo de acabar e precisávamos repor nosso estoque do mês ou nosso almoço e janta seria apenas guloseimas e salgadinhos. Não foi uma tarefa difícil, embora um tanto estranho ter Anne ao meu lado e não minha mãe como costumava ser. Estávamos cheias de sacolas dentro do porta-malas do carro, e só em pensar subir as três escadas até chegarmos no nosso apartamento, eu começara a cogitar deixá-los ontem estavam.

— Droga — Anne resmungou, ao olhar para o celular segundos antes do sinal abrir e ela avançar — Tenho menos de cinco minutos para chegar na Universidade, ou aquele cara irá me matar — ela tinha um trabalho para apresentação e sua equipe fora um tanto enlouquecedora, contando as vezes que Anne repetiu essa mesma frase durante a semana.

— Você não está pensando em... — a frase morreu no ar, pois é uma tinha a minha resposta estampada no rosto de Anne — Como vou subir com esse monte de sacolas, Anne?

— Você pode pedir ajuda pro Humberto — falou, referindo-se ao porteiro que mal fica na portaria, e como já havíamos parado em frente ao prédio pude ter essa certeza — Eu guardo tudo quando chegar, mas tenho que ir agora mesmo ou não terá vestígios de Anne para fazer isso — soltei uma risada por notar seu desespero, ao mesmo tempo que ela abria a mala, e ligeiramente me ajudava a colocar as sacolas no chão em frente a portaria.

Pouco tempo depois eu me encontrava em uma situação não muito boa, tentava equilibrar o máximo de sacolas que conseguia e torcia para que tudo não fosse ao chão, também olhava em volta buscando pela cabeça careca de Humberto, mas ele provavelmente estava escondido e concentrado em algum jogo de futebol reprisado, como todas as vezes em que eu o encontrava.

Dei alguns passos para frente, quando uma mão surgiu e arrancou de mim quase todas as sacolas, me fazendo ter um sobressalto de susto — Acho que está precisando de uma ajuda — a voz grave chega até mim em um murmuro, e não preciso encontrá-lo para saber de quem se trata, mas mesmo assim o fiz, apenas para ter certeza que meu coração acelerou com a simples ideia de tê-lo por perto.

E como previsto, Adam estava na minha frente com toda a sua beleza intimidante.

Fiquei tentada a recusar sua ajuda, sabia que o acontecimento de ontem viria à tona no segundo em que nos colocássemos a sós, mas encarei as sacolas que ainda estavam no chão, e o relógio em meu pulso que me alertava pouco tempo para a próxima aula — Obrigada — falei, me agachando para pegar as compras que sobraram, e subimos para o apartamento. Em silêncio colocamos em cima da mesa, e em silêncio permanecemos por alguns segundos, mas como não consigo me conter, pergunto — Por que está aqui?

Adam encosta a lateral do corpo na parede e me fita — Você sabe o porquê — diz, colocando as mãos no bolso da calça caqui.

Inquieta, dou as costas e busco minha bolsa em cima do sofá em uma falha tentativa de fugir do assunto — É... vou acabar me atrasando ainda mais, então...

— Giulia — balbucia, e a julgar por quão grave sua voz soou no meu ouvido, sei que está próximo. Encontro seus olhos a poucos centímetros de mim, e como todas as vezes em que ele se aproxima, meu coração errou uma batida.

Mas acabo concentrando minha atenção em seus olhos avermelhados, entregando os vestígios de uma noite mal dormida — Não dormiu bem? — questionou, sem ao menos me dar conta.

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