UM

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— Eu vou ajudar o Jorge a escolher as partes da coletiva antes de ir. — fiz uma pausa para ouvir o que minha mãe falava do outro lado do telefone — Eu sei, chego na hora do almoço, não se preocupe. Beijo, te amo. — desliguei.

— Namorado? — perguntou.

— Que susto! — botei a mão no peito — Você não tem que ir treinar não? — perguntei pra ele que estava parado na minha frente.

— Eu estava indo pra lá, o caminho é esse. — Rodrigo disse tranquilo com as mãos no bolso.

— Ah, então, bom treino. — disse e sai andando.

— Só pra deixar claro... — ele começou dizendo me fazendo parar — Eu não levei pro lado pessoal o que você disse na coletiva.

— Que bom, porque se levasse eu não daria a mínima. — arranquei uma risada dele.

— Estava tentando deixar a sua consciência limpa, mas parece que não preciso. — ele mantinha o sorriso nos lábios.

— Não cansa de tentar me irritar? — perguntei sincera.

— Digamos que eu gosto da careta que você faz quando estou por perto. 

Fechei a cara instantaneamente. Desde quando ele prestava atenção nas minhas expressões?

— Você não ia treinar? — levantei a sobrancelha.

— Você não ia embora?

Ele passou por mim, andando tranquilamente, rumo ao campo de treinamento. Odeio ele ser tão presunçoso e cheio de si, que ego irritante isso suga toda energia positiva que eu carrego. 

Jorge apareceu alguns segundos depois com sua câmera na mão e a mochila sobre os ombros, ele ajeitou o chapéu na cabeça e seguiu meu olhar. 

— Estavam se bicando de novo? — sorriu. 

O olhei com raiva. 

— Não estávamos nos "bicando" — fiz as aspas com os dedos — Ele é completamente irritante, não dá pra ficar um segundo do lado dele sem se estressar.

Meu amigo apenas ignorou a minha fala cheia de raiva e voltamos para a emissora apenas cantando as músicas que tocavam na rádio e lembrando de algum evento que a mesma nos puxava da memória. Realmente eu e Jorge tinhamos muito chão percorrido. 

Depois de o ajudar com as imagens do treino e finalizar a matéria para o jornal, mandamos tudo para a edição e nos despedimos. A tarde de folga hoje me renderia um almoço com a minha querida mãe. 

Ela se mudou para o Rio de Janeiro ano passado pois segundo ela estava se sentindo completamente entediada em São Paulo - o que eu sei que é mentira, ela veio puramente para tentar arrumar algum partido novo já que esgotou todos os coroas bem sucedidos da cidade. 

Dona Estela traz um ar novo pra casa, é bom tê-la comigo. Temos regras explicitas de não levar homem algum para dentro de casa e incrivelmente foi ela que impôs isso desde que decidiu ser livre, leve e solta depois do divorcio. Meu pai mora na Argentina com a esposa loira, gostosa e novinha dele, o que deixou minha mãe com certos problemas de autoestima por um tempo. 

Meu carro parou em frente ao restaurante que combinamos e ela olhava curiosamente o cardápio quando sentei em sua frente. 

— Está atrasada. — diz sem tirar os olhos do papel.

— Você não quer demais sabendo que sou jornalista? — pego o outro cardápio da mesa e analiso — Não tenho hora de parar. 

— Não gosto quando trabalha demais. — me lança um olhar de repreensão. 

— Gosto do que faço. — pisco duas vezes para ela entender que quero encerrar o assunto. 

— Tudo bem. — ela suspira e larga o cardápio na mesa — Tenho um encontro hoje. 

— Quem é dessa vez. — faço o mesmo gesto que ela. 

— Muito charmoso, dono de uma rede de hotéis bem famosa. — ela da um sorriso animada. 

— Rezando bastante para que dê certo. — digo irônica e faço meu pedido ao garçom que passava. 

— Você está muito amarga, deveria arrumar um namorado. 

— O que? — a olho surpresa. 

— Faz quanto tempo que não te vejo saindo com ninguém? 

— Eu saio o tempo inteiro com o Jorge.  — dou os ombros. 

— Vocês não vão se pegar. — ela sorri para o garçom que lhe entrega um copo de suco. 

— Desde quando você quer que eu arrume um namorado? Quando foi que virou o tipo de mãe que arruma casos para as filhas? — arqueei a sobrancelha. 

— Desde que você anda ranzinza por ai por conta daquele jogadorzinho. — ela diz com desdém. 

— Não vamos lembrar disso por favor. — peço já incomodada com o rumo da conversa. 

Com o timing perfeito, o garçom entrega nossos pratos e cessamos a conversa para matar a fome e se dependesse de mim não iriamos retomar nunca. Não gosto de lembrar o que aconteceu, muito menos de ler sobre ele, nem de ter notícias dele, porém é quase impossível. 


defense + rodrigo caio [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora