CINCO

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Dentro do Ninho do Urubu tudo parece estar em perfeita paz. Todos os pássaros cantam nas árvores, os atletas andam pelos corredores e instalações sorridentes e os repórteres simplesmente observam a parte aberta do treino de Jorge Jesus.

Ontem, uma ligação me fez querer desaparecer com um certo zagueiro que está destinado a fazer de tudo para que eu não consiga o que quero, mas eu estou destinada a fazer de tudo para que o contrário aconteça. Se ele queria  me ver implorando pela presença e atenção dele eu iria fazer isso, tudo em nome do jornalismo mesmo que isso infle seu ego absurdamente.

Vi alguns jornalistas passando por mim bastante concentrados, ajeitando suas anotações e guardando suas coisas rumo a saída do CT do Flamengo. Eu, muito esperta, esperei sossegadamente o fim do treino sentada em um dos sofás da sala de espera. Jorge já tinha ido embora havia um tempo e mesmo rolando a tela do celular varias vezes não pude deixar de ficar entediada. Rodei meus olhos pelo relógio na tela e olhei para cima, alguns jogadores começaram a passar e eu imediatamente me atentei.

Demoraram alguns minutos até que ele finalmente passasse com os cabelos molhados por causa do banho, uma blusa do clube, de bermuda e tênis. A mochila jogada de qualquer jeito no ombro direito. Seu olhar pousa em mim e imediatamente um sorriso pretencioso surge em seus lábios.

— Devo achar que a vista é pra mim? — para a minha frente.

— Sim. — me levando e respiro fundo — Quero minha reportagem.

— Ainda não pensei sobre isso. — Rodrigo começa a andar rumo a saída e eu o sigo.

— Não me faça implorar. — resmungo.

— Que pena, porque era exatamente isso que eu queria que fizesse. — pude sentir o sorriso no seu tom de voz.

— Rodrigo eu não posso voltar pra emissora de mãos vazias. — dei passos rápidos e parei na frente dele.

Já estávamos no meio do estacionamento e eu levemente temia que a cena fosse vista e interpretada de formas diferentes por outras pessoas, porém estava muito mais preocupada com a minha cabeça rolando no chão se não conseguisse aquilo.

Ele me olhou por alguns segundos, como se estivesse achando um jeito de aceitar e ganhar algo ao mesmo tempo.

— Te encontro ás sete, mando o endereço por mensagem.

Foi tudo o que ele disse antes de passar por mim entrando no carro. Afastei um pouco e o vi sai dali.

Respirei fundo, o que ele queria afinal? Já estava botando minha cabeça em risco por causa disso.

Pedi um uber e fui para o projac passando o resto da tarde ali escrevendo e montando o resto da reportagem, falando com a equipe de filmagem e escolhendo locais estratégicos para a gravação. Jorge foi embora cedo então mandei tudo que precisava dele por mensagem e mal vi a hora passar até ver o nome de Rodrigo na tela do meu celular. O endereço ficava do outro lado do Rio de Janeiro, provavelmente era a casa dele.

Botei minhas coisas dentro da mochila e joguei ela nas minhas coisas fechando a porta da minha sala logo em seguida. Dentro do carro o GPS me ajudava a guiar entre o transito cheio e cheio de sinais, as ruas desse lado da cidade pareciam muito mais botas e até um outro Rio de Janeiro.

Na porta do condomínio dei um toque pra ele que autorizou o porteiro a minha entrada, quase me perdi ali dentro na verdade, só identifiquei sua casa porque o mesmo estava parado na frente dela com uma camisa branca, calção e descalço. Tinha os braços cruzados e uma expressão diferente que eu não cheguei a identificar.

— Bem pontual. — ele zomba o meu atraso.

— Fiquei ocupada. — ajeitei a mochila nas costas.

Ele me guiou para dentro e meus olhos quase cairam com o brilho dos moveis brancos com bege, tudo limpinho, alguns troféus na estante, a medalha e camisa do ouro olímpico enquadrados na parede. De fato tinha muito a cara dele naquele cômodo e isso me fez questionar como seria o seu quarto.

defense + rodrigo caio [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora