DOZE

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Faziam exatas vinte e quatro horas que eu tinha pedido a Rodrigo Caio que me deixasse em paz. Pelo meu bem e pelo dele também.

Muitas coisas acontecerem e eu consegui pensar em todas elas em uma noite sem dormir. O fato de eu ter dado alguns beijos no atacante do Flamengo depois de quase ter beijado o zagueiro do mesmo time me fez acordar que qualquer coisa a mais resultaria no fim da minha carreira e não era isso que eu queria de jeito maneira.

Por isso pedi pra que ele se afastasse de mim pois ele era insistente demais e só ignorá-lo não ia dar muito certo. Já com Gabriel, as coisas eram mais fáceis já que nunca rolou nada do que rola com Rodrigo. Não que role alguma coisa, claro.

Desci as escadas da minha casa e me deparei com a minha mãe sorridente, cantarolando pela cozinha com o pano de prato nos ombros segurando uma garrafa de café.

— Olha só, tá toda felizinha... — brinquei com ela.

— Estou, tive um dia ótimo ontem. — confessou colocando a garrafa na pesa e se sentando logo em seguida.

— Por qual motivo? — sentei em sua frente pegando a garrafa.

— Acho que não precisarei mais procurar namorados por um tempo. — ela sorriu animada batendo palminhas na minha frente.

— Sério? — pergunto genuinamente surpresa.

— Sim. — ela pegou um pão da sacola — Aquele cara lá que eu estava saindo, você sabe, ele me disse que queria que as coisas fossem mais... exclusivas.

— Então, ele quer entrar em um relacionamento com você? — arqueio uma das sobrancelhas.

— É o que isso significa, né?

— Acho que é. — bebo um gole do meu café.

Eu e minha mãe conversamos mais um pouco antes do meu horário bater e eu ter que partir rumo a emissora.

Dentro do meu carro com o lindo trânsito do Rio de Janeiro pensei um pouco sobre a conversa  que tivemos hoje mais cedo.

A minha mãe estava em um relacionamento, enquanto eu, estou tentando tirar da minha vida a única pessoa que insiste em ficar perto de mim. Balanço a cabeça negativamente tentando espantar esses pensamentos.

Mas está cada vez mais difícil, eu durmo pensando em como ele vai me perturbar no dia seguinte ou de como eu irei dar patadas nele e vou receber em troca aquele sorriso sínico com as covinhas e dentes perfeitamente brancos.

Sempre me amaldiçoo por querer que ele apareça uma hora ou outra, mande uma mensagem ou surja em uma conversa para que eu possa destilar o meu suposto ódio sobre o mesmo.

O jeito que ele me tocou aquele dia, suas mãos na minha cintura, a respiração descompensada no meu pescoço junto aos seus lábios molhados me deixando arrepiada. Eu quis tanto o beijar. Estar entregue em seus braços e descobrir todas as sensações que ele poderia me causar. Sei que são muitas pois aqueles simples toques me fizeram imaginar coisas.

Sonhei com ele aquela noite. Suas mãos tirando minha roupa e bagunçando meu cabelo. Seu olhar observando as minhas reações enquanto tirava minha calcinha lentamente distribuindo beijos no colo da minha barriga.

Balanço a cabeça novamente e ligo o rádio tentando me livrar disso.

Não posso fazer isso.

Aperto forte o volante pelo resto do caminho e sigo tentando prestar atenção em coisas aleatórias do trânsito.

Deixo meu carro no estacionamento e subo até minha sala a encontrando vazia. Aparentemente Jorge não tinha chegado ainda, mas tinha um bilhete na minha mesa.

"me dê motivos, então farei o que quer. caso não aconteça seguirei deixando seus dias menos toleráveis.
- caio"

— Como ele colocou isso aqui? — penso.

Dobrei o bilhete e guardei no fundo da minha bolsa e passei a tentar ignorar aquilo pelo resto do meu dia.

Preparei pautas, corrigi alguns textos dos estagiários - que por sinal estão se saindo cada vez melhores, tem muitos talentos no nosso jornalismo esportivo e eu fico muito feliz com isso.

Sai para almoçar com Nic, colocamos alguns assuntos em dia e talvez ela tenha me contado sobre algumas trocas de likes com um certo meio campista rubro-negro.

Terminamos o almoço e nada do Jorge aparecer até então.

— Nic. — a chamei enquanto entrávamos no prédio.

— Diga.

— O que aconteceu com o Jorge? — a olhei curiosa.

— Oli, eu acho que ele tá doente. — ela pega o celular — Mandei mensagem perguntando onde íamos almoçar e ele falou que não tava bem.

— Vou ligar pra ele mais tarde. — disse enquanto apertava o botão do elevador subindo para o nosso andar.

Entramos na minha sala e Nicole saiu logo depois de pegar algumas pautas imprimidas e sua garrafa de água que tinha deixado aqui uns dias atrás.

Não tinha mais o que fazer, pra falar a verdade. A manhã foi bastante produtiva e o Flamengo estava viajando neste exato momento para a rodada do Brasileirão.

Me lembrei do bilhete que estava na minha mesa hoje cedo e a pergunta "como?" estava estampada na minha testa. Peguei o celular no impulso e mandei uma mensagem.

Se, por um acaso, eu vá falar o motivo de ficar longe dele, tem que ser pessoalmente. Se essas mensagens vazarem e todo contexto for tirado de sua ordem estaremos encrencados de qualquer forma.

Espero o tempo passar passeando pelos corredores ajudando no que é preciso, converso com Natan algumas ideias para matérias futuras e até algo mais interessante para reportagens dos programas de TV.

Fiquei de babá para alguns estagiários que estavam presentes e resolvi adotar uma mais específica para treinamento, como uma orientadora, assim como Marta fez comigo.

Era Clarisse, muito talentosa, sabia o que queria falar em cada frase e deixava tudo simples e explicativo. Adorava aquele jeito de escrever. Mas claramente essa ideia estava apenas na minha cabeça, tenho medo de assustá-la caso chegue nesse tópico.

Senti meu telefone vibrar no meu bolso me alertando que tinha chegado uma mensagem. Não qualquer mensagem, mas sim uma de Rodrigo.

Eu coloquei um som diferente para as notificações dele pra me alertar do perigo que me aguardava e isso fez meu coração palpitar mais rápido.

Corri de volta a minha sala e fechei a porta, tirei o celular do bolso e me preparei psicologicamente para o que estava a vir.

"quando eu chegar no Rio, te mando mensagem"

Era tudo o que dizia.

Ótimo, estou tranquila agora!

Ao que parece, vai dar tempo de me preparar para essa conversa, que pelo lado dele vai ser prolongada até que eu não aguente mais, porém, preciso convencê-lo a se afastar de mim pelo menos por um tempo. 

Está tudo uma bagunça e o que eu menos posso agora é ter esse problema tomando conta dos meus pensamentos. De ter que pensar em como vou esconder as mensagens que mando ou as ligações de madrugada quando não há ninguém na minha casa. 

Não quero o problema de ter que pensar em como sair com ele sem ser vista e evitar olhares tortos quando estamos nos alfinetando no Ninho, porque se isso não acontecer, estremos ferrados e isso é o que eu mais almejo evitar. 

Não quero ter o problema Rodrigo Caio por agora. 


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⏰ Última atualização: Apr 19, 2023 ⏰

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defense + rodrigo caio [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora