Capítulo 4 - Você ainda a ama?

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Assim que paramos de nos beijar, Camila olhou ao redor para constatar se o garoto ainda estava lá, porém com o beijo que me dera possivelmente fez com que ele se afastasse e voltasse para seu grupo de amigos.

- Precisamos ir embora rápido! – Camila tornou a dizer.

- Na minha casa ou na sua? – eu respondi.

- Não seja idiota e me dá essa jaqueta.

Camila cobriu seu rosto com a minha blusa, o que despertou olhares curiosos, porém em São Paulo com tanta gente estranha fazendo coisa esquisita, devo dizer que não foi tão anormal assim.

Ela ás vezes tropeçava na rua, o que me gerava alguns risos e tapas na orelha, por caçoar dela. Camila era desajeitada, mas de uma forma agradável. Não sabia o que estava passando, mas sentia uma vontade enorme de ajudar. Pedi um uber e fomos para casa.

***

Assim que chegamos, eu sabia que a minha casa fedia a fumo, mas com a presença de Camila ficou ainda mais evidente. Até ficaria com vergonha se me importasse, mas eu não me importo.

- Aceita uma bebida? – eu disse.

- Da mais forte que tiver. – ela respondeu.

Para sua sorte eu tinha um Dalmore guardado para situações especiais, despejei o gelo e o whisky em seu copo e em uma só golada a latina se debruçou no álcool.

- Quero mais... – ela disse com uma cara de criança mimada, que mal pude me conter com tamanha fofura.

- Iremos falar sobre o ocorrido?

- Só te beijei, porque precisava escapar, peço desculpas por isso...

- Não tem que se desculpar, eu já beijei mulheres melhores também.

Camila arremessou a almofada em minha direção e sorriu. Quase que derrubei o copo, mas por uma questão de anos de malabarismo não caiu.

- O ocorrido em questão é... O que seu namoradinho estava fazendo no bar que eu frequento?

- Não faço a menor ideia e isso está me corroendo também. Ele sabe que eu estou aqui e está por perto... – Camila deu outra golada. – Não consigo pensar em mais nenhum lugar para fugir.

- O que mais me espanta é ele ter te reconhecido com aqueles óculos ridículos.

- Nós já fomos muito amigos.

- Não quero te julgar, eu mesma sou péssima com términos, ou eu sumo ou começo a fazer exatamente tudo o que a garota odeia para que ela me deixe. – traguei um pouco do meu cigarro. – Mas nesse caso não seria melhor terminar logo de uma vez?

- Eu não posso.

- Quem diabos é Shawn Mendes e por que todo mundo ficou louca atrás dele?

- Está com ciúme?

- Inveja para ser mais exata.

- Como pode imaginar ele é um cantor.

- Você só se envolve com cantores? Eu já cantei muito em karaokê também sabia?

Camila sorriu e percebi que estava corada, toda aquela adrenalina se apossou dela, mas visivelmente estava alcoolizada.

- Esse é o problema, eu não estou exatamente envolvida.

- Hum... Isso é ruim.

Olhei para a janela por alguns instantes e voltei a minha visão para casa, e percebi que estava mais bagunçada do que eu imaginava. Algumas latas de cerveja estavam no chão, com o cinzeiro cheio de cigarros, o cd ultraviolence da Lana Del Rey estava pendurado no sofá pronto para ser quebrado.

- Você gosta bastante de ler. – Camila disse admirando-se com a minha biblioteca. Eram muitos livros jogados nos livreiros, mas eu gostava de pensar que era tudo organizado e bonito.

- O que seríamos de nós sem uma boa leitura?

- Eleitores do Donald Trump.

- Do Bolsonaro também.

- O que prefere?

- Um bom suspense, com assassinato e muito sexo.

- Não consigo pensar em nenhum.

- Também não, então acho que vou escrever um assim.

- Eu adoro Rupi Kaur! – Camila disse ao visualizar o livro da autora em minha estante.

- Ela é boa com as palavras.

- Você tem muitos livros do Bukowski também.

- É o meu escritor favorito. – pontuei como uma garotinha sorridente ao falar do seu ídolo.

- Por quê?

- Ele escreve para todos e sabe envolver como ninguém, qualquer babaca lê Bukowski, mas só alguém miserável consegue entende-lo.

- Você se considera miserável?

- Não imagina o quanto.

Camila continuou olhando em minha casa, cada detalhe que fosse digno da sua percepção, não posso deixar de afirmar que me senti feliz com alguém como ela reparando em mim e na minha desagradável existência.

- O que você tem para comer? Estou com fome! – ela disse emburrada sentando-se no sofá.

- Tem pão de forma no freezer.

- No freezer? – Camila espantou-se. – Pensei que só a Normani fazia uma coisa dessas.

- Não sei quem é essa, mas aposto que sabe o que faz.

Camila pegou alguns pães e começou a passar geleia de goiaba, enquanto eu preparava o café. Com todo aquele papo eu também não desperdiçaria comida.

- Você ainda a ama? – eu disse interrompendo o silêncio.

Camila suspirou lentamente, não era preciso dizer o seu nome, sabia de quem eu falava.

- É complicado...

- Tudo na vida é complicado, se fosse fácil não teria porque existir. Imagina colocar um monte de seres humanos vivendo um monte de vidas fáceis, seria a morte do entretenimento.

- Não ligaria se o entretenimento morresse.

- Quem ligaria?

Tomei um gole do café, enquanto mordia o pão. Vida difícil, comida rasa.

- Sim, eu ainda a amo... – Camila finalmente respondeu.

Como um choque de conexão, deixei meu pão na mesa e fui para o outro lado para abraçá-la. Seu choro logo se transformou em soluços sufocantes e só pude oferecer o meu confortável abraço, a única coisa que tinha, mas que naquele momento para ela foi tudo. 

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