Irlanda

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As caixas de vários tamanhos diferentes estavam espalhadas pelo meu apartamento e me davam cansaço somente por estarem ali ainda fechadas umas em cima das outras, empurro as cortinas pesadas de cor creme e abro as janelas deixando o ar circular melhor por todo aquele pó que foi deixado pelos meses - ou anos - sem qualquer tipo de limpeza.
Ouço o som de meu celular tocar ao longe e atravesso a sala - tentando a qualquer custo desviar do campo minado de caixas espalhadas.
- Alô! - Atendo e me seguro no balcão para não cair, já que acabei por tropeçar em uma das caixas no chão.
- Lucy! - A voz de minha mãe soou mais como uma repreensão.
- Oi mãe... - Eu estava me esquecendo de alguma coisa? Espero que não.
- Você não me ligou assim que chegou aí - Layla me pareceu cansada pelo telefone e isso me deixou com uma pulga atrás da orelha, obviamente causada pela preocupação.
- Desculpa mãe é só que... Tudo está tão cheio aqui... Eu ainda tenho que tirar minhas coisas das caixas - Olho para minha bagunça já com cansaço, teria que arrumar tudo nesse fim de semana.
- Sei que sim e por isso esperava pelo menos uma ligação... Mas o mais importante é, você conseguiu um emprego? - Conseguir um emprego era a única preocupação da minha mãe, afinal, ela não iria conseguir me manter aqui de qualquer forma.
- Sim mãe, eu consegui um emprego no hospital da cidade... Como enfermeira - Sorri orgulhosa comigo mesma. Graças a deus eu fiz aqueles cursos.
- Não vai ficar muito puxado pra você querida? - Perguntou com cuidado.
- Não, eu só vou nesse emprego e eles pagam bem, é uma cidade bem pequena e só tem um médico então... - Dou de ombros e mais uma vez, atravesso o campo minado de caixas para alcançar o sofá de couro sintético marrom e me jogo no mesmo.
- Tome cuidado querida - Ela não falou isso por conta do quão perigoso isso pode ser, mas sim por conta do que eu disse sobre ser apenas um médico. Minha mãe temia por mim estando nesse mundo sozinha e eu entendia isso perfeitamente, eu sou uma mulher jovem e estou morando sozinha em um lugar desconhecido com pessoas desconhecidas.
- Eu vou mãe, não se preocupe comigo... - Sorri de canto, mesmo que ela não pudesse ver naquele momento.
- Você sabe que me preocupo Lucy, você é minha única filha e agora está aí na Irlanda sozinha - Sua voz saiu como um sussurro e eu sabia que se a conversa se prolongasse por muito mais tempo eu iria chorar junto com ela.
- Eu sei e eu te amo por isso - Olhei para as minhas caixas - Mãe eu realmente tenho que desligar e arrumar minhas coisas, eu te ligo mais tarde, tudo bem?
- Ah sim claro querida, me ligue mesmo entendeu?
- Sim dona Layla eu prometo te ligar, te amo - E assim encerro a ligação e começa a abrir as caixas
Roupas, documentos, coisas que eu nem mesmo lembrava que tinha, decorações e livros - muitos livros na verdade - e o mais importante, minha caixinha de som bluetooth, velha mas valiosa.
Eu realmente estou feliz por ter conseguido esse emprego no Magnólia Hospital, significa que meus anos em cursos de enfermagem funcionaram para alguma coisa afinal de contas e entre nós, quatorze temporadas de Grey's Anatomy também. Seguro a alça de minha mochila vermelha com mais firmeza assim que adentro o vestiário das enfermeiras femininas - por que haviam um ou outro masculino - tirei minha camiseta de um anime que já nem me lembro o nome e junto minha jeans azul escura e meus sapatos, enfio tudo dobrado dentro da minha bolsa e dentro do armário com tinta azul e com meu nome escrito em uma fita branca na porta.
- Ah sim você é a nova enfermeira - Uma jovem de cabelos azuis, parecendo ter minha idade, adentra o vestiário enquanto eu já arrumava meus cabelos em um rabo de cavalo alto.
- Sim sou eu, me chamo Lucy prazer - Sorri para ela. Mamãe sempre disse que para fazer amigos você precisa primeiro sorrir para estranhos.
- Sou a Levy - Ela sorri enquanto começa a tirar sua roupa de forma envergonhada - Já conheceu o doutor Adam certo?
- Sim foi ele que me contratou - Relaxo meus ombros e guardo meu celular em um dos bolsos do avental do uniforme - Ele é simpático.
- Ele com certeza é - Ela se vira para mim enquanto puxava sua calça para cima - Mas ele é casado, cuidado.
- Ah não, de forma alguma eu pensaria nele dessa forma - Balanço ambas as mãos de forma negativa - É só que... É difícil achar homens simpáticos esses dias.
- Isso com certeza - Observo a azulada olhar para seu relógio de pulso - Mas vamos indo logo, estamos quase atrasadas e entrar em um assunto desse agora tomaria nosso tempo.
Depois de una ronda e a azulada me apresentar o hospital e alguns dos pacientes que ficavam ali, Levy e eu fomos para a ala de emergência, já que não haviam pacientes que precisassem de nós naquele momento e em menos de três horas conhecendo a azulada eu já sei que ela odeia atrasos e trabalho mal feito e que, principalmente, ela tem toc. Logo mais uma azulada entra com um coque no cabelo e aparência cansada e rosto um pouco molhado, provavelmente pelo suor.
- Atrasada como sempre Juvia - Levy diz sem levantar a cabeça da maca em que estava deitada a meu lado.
- Desculpa... Eu tive... - A respiração dela estava pesada, então com certeza deve ter sido uma correria muito louca - Que passar no banco.
- O banco está vazio nas manhãs de segunda-feira - Cantarolou Levy e se sentou na maca - Onde realmente esteve senhorita?
- Ah tudo bem... - Ela se senta ao lado de Levy - Ah oi novata, me chamo Juvia.
- Prazer, Lucy - Me apresento e como sempre, lhe dou um sorriso.
- Voltando - Juvia olhou para Levy e para mim - Chegaram algumas pessoas novas a cidade, minha avó disse que eles já vieram a anos atrás quando ela ainda era jovem.
- São viajantes, e daí? - Levy franziu o cenho.
- E daí que são as mesmas pessoas, iguais, não envelheceram nem mesmo um ano - Sorriu a azulada.
- Isso é loucura - Levy pôs seus óculos e se levantou - Todos envelhecem, é a lei natural do ciclo da vida, nunca viu Rei Leão?
- Onde vai? - Perguntou Juvia observando ela dar alguns passos para longe de nós.
- Organizar os medicamentos que chegaram hoje horas - Respondeu.
- Eu vou ajudar - Me levanto da maca em que estava deitada e sigo a azulada pelos corredores do pequeno hospital.
Bem, o Magnólia Hospital possuía três salas médicas e apenas um médico - segundo boatos, ou outros dois aproveitaram oportunidades melhores e sumiram daqui - ao total são oito enfermeiros, quatro trabalham doze horas durante o dia e os outros quatro no período da noite, o único médico divide seu tempo ficando seis horas durante o dia e seis a noite, e já deixando avisado que atende a qualquer chamado de emergência vindo de nós, mas basicamente, os enfermeiros aqui na verdade são médicos não autorizados, mas ninguém denuncia já que poderia fechar o hospital e o povo não teria mais médico algum. O hospital - como qualquer outro - possuía paredes brancas com uma faixa azul clara, nos corredores possuíam algumas maçãs e as portas eram de madeira escura, segundo Levy, o símbolo do hospital um dia foi uma flor, mas ninguém mais liga pra isso de qualquer forma. Bem eu ligo - nem tanto - Mas isso explica o fato de ter uma flor branca no avental ao lado do meu nome.

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