Ponte

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Duas semanas se seguiram com calmaria sobrenatural, crianças e adultos com gripes, viroses, sarampo e catapora - e acredite ou não a coisa mais incrível nesse tempo foi um garoto de oito anos ter quebrado o braço direito - nada fora do normal para qualquer enfermeira dar conta e não incomodar o médico que trabalha muito mais do que deveria. Eu tinha que admitir a mim mesma que aquela era a cidade dos meus sonhos, um lugar tranquilo e cheio de paz, coisas que eu não conseguia em Londres.
- Eu vou na lanchonete no final da rua, vão querer alguma coisa? - Juvia entra na ala de emergência, onde eu e Levy, como quase de costume, estávamos deitadas nas macas nada macias.
- Um milkshake - A azulada a meu lado disse sem olhar para a colega.
- Não vou querer nada, mas obrigada Juvia - Olhei para ela e sorri.
- Ótimo, volto em cinco minutos - E assim ela sai, carregando consigo uma carteira e o celular.
- Vai ser outro dia bem parado aparentemente - Solto enquanto abro meu instagram no celular. Ninguém reclamaria disso, afinal, não tinha pessoas para serem atendidas naquele momento. A televisão na parede estava no mudo, mas vez ou outra Levy olhava para a mesma ou até eu mesma olhava, mas a tela vermelha e um homem vestido de forma extremamente formal chamou nossa atenção e no fundo já sabíamos que algo ruim havia acontecido.
- Meninas - Suzi, a secretária do hospital entrou na ala com um rosto não muito tranquilo, como era de costume que ela tivesse - Preparem as coisas, a ponte caiu e tem muitos feridos.
Tanto Levy quanto eu nos levantamos de imediato.
- O doutor Adam está a caminho? - Pergunto enquanto sigo a azulada para irmos pegar as coisas necessárias.
- Ele está a caminho - Suzi disse logo atrás de nós.
- Todos os pacientes vão vir pra cá? - Desta vez foi Levy a perguntar.
- Não, somente os mais graves já que aqui é o local mais próximo - Ela responde e ao fundo pude ouvir o som das ambulâncias.
- Espero que catorze temporadas de Grey's Anatomy me ajudem, amém - Digo mais pra mim mesma do que pras duas meninas que me olharam estranho, mas não reclamaram.
Deixamos tudo que precisaríamos na ala de emergência e fomos para fora a espera das ambulâncias que já viravam a esquina.
- Suzi ligue pro doutor vir mais rápido - Digo e ela volta para dentro com pressa.
A primeira ambulância para.
- Lucy eu cuido desse, pega o de trás - A azulada diz e eu concordo, indo na direção da ambulância seguinte.
- Enfermeira? - O homem franziu o cenho mas balançou a cabeça de forma negativa e voltou a se concentrar em seu trabalho, admito que me senti um pouco ofendida - Paciente com fratura interna e possivelmente sangramento interno, incosciente até o momento.
- Pressão arterial? - Pergunto a ele enquanto empurravam a maca para dentro.
- Um pouco baixa - Ele diz e um segundo paramédico o ajuda a mudar o paciente de maca.
- Eu cuido daqui, obrigada - Digo já começando a atender meu paciente. Maldita seja minha boca grande, o dia teria sido normal.
Horas e mais horas se passaram e uma médica de fora da cidade acabou por vir nos ajudar, eu estava exausta mesmo por acabar tendo tanta ajuda aqui no hospital. Juvia ainda atendia pacientes assim como a médica, o doutor Adam estava em cirurgia e os outros enfermeiros se dividiram entre ajudar a ele, a ela e aos pacientes que haviam parado de chegar a mais ou menos duas horas atrás por conta do risco de mais partes da ponta cairem por conta da chuva que estava no local e por isso os bombeiros suspenderam as buscas temporariamente.
Finalmente tive um segundo para me sentar e acabei fazendo isso em um dos quartos. Eu preciso de um banho, e preciso da minha casa, ligar para minha mãe e conversar com ela e tentar esquecer esse dia maluco. Solto meu cabelo e passo as mãos pelos fios naturalmente loiros e solto um longo suspiro.
- Ei... - Me assusto ao ouvir a voz do paciente que, era para estar desacordado.
- Você está acordado - Viro minha cabeça para ele e sorri - Vou chamar a doutora, ela vai querer dar uma olhada em você.
- Não... - O paciente de cabelos rosados se senta e uma confusão atravessa meu cérebro, ele ainda não havia olhado para mim - Eu... - Sua fala para assim que seus olhos encontram os meus e eu sinto uma eletricidade percorrer meu corpo e arrepiar cada fiozinho do mesmo, estremeço e ele percebe - Minha... - Sua voz rouca fez minhas pernas bambas, mas me recusei a cair.
- E-Eu tenho que chamar a médica, é o protocolo - Solto em um tom baixo e uma de minhas mão alcança a maçaneta da porta.
- Não pode chamar ninguém - Ele diz e retira a agulha de soro de seu braço. Não era pra ele ser tipo, um paciente de código vermelho? Por que está tão bem e se levantando como se tivesse sofrido apenas alguns arranhões? - Ela também ficaria com a mesma confusão que você está agora.
- Eu... - Calei minha boca assim que o vi em pé, dei de ombros. Neurônios não trabalhem tentando entender isso - Eu realmente tenho que chamar a doutora, qual seu nome mesmo? - Me afasto da porta e ando até a prancheta ao lado da cama, não dizia o nome mas a fita vermelha confirmava as suspeitas de meu cérebro.
- Natsu Dragneel - Ele disse e retirou a prancheta de minhas mãos com certa brutalidade e eu dei um passo para trás - Com medo?
- Por que eu teria medo? - A prancheta foi jogada no lugar onde estava inicialmente e ele me segurou pelo ombros, um raio de excitação percorreu meu corpo e meu coração ficou acelerado de imediato. Ainda bem que ele não percebeu isso. Ou percebeu?
- Esquece... Preciso sair daqui, pode me ajudar? 
- Por que eu ajudaria um paciente a fugir do hospital, eu sou uma enfermeira - Tirei suas mãos de mim e voltei para próximo a porta, se eu precisar fugir estou mais perto da saída e com certeza alguém viria rápido para me livrar desse cara.
- Eu não sei, mas preciso sair daqui - Ele afirmou e passou uma das mãos pelo cabelo, enquanto seus olhos ônix me observavam atenciosos - Ninguém entenderia, nem mesmo você entendeu.
- ... - Ele tinha razão, eu não fazia ideia do que havia acabado de acontecer e depois de olhar a ficha dele tudo me deixou ainda mais confusa - Siga por esse corredor direto, você vai parar na sala de equipamentos, no alto tem uma janela, você deve conseguir atravessa-la, é a única saída não vigiada pelos repórteres ou pelos enfermeiros preocupados.
- Obrigado... - Ele abaixa um pouco o olhar - Lucy... É um nome bonito - Um sorriso é entregue para mim e puta merda, que sorriso lindo ele tem. O rosado se aproxima de mim e eu dou passagem para ele, com uma aura incrédula eu pego sua ficha e a amasso, a colocando no bolso e, no fundo, espero que ninguém tenha visto isso ou se quer ouvido, eu perderia esse emprego e poderia até mesmo ser presa por isso. Droga Lucy, você é influenciada fácil demais quando vê um cara bonito.
Saio da sala e volto para onde os enfermeiros estavam ajudando os pacientes necessitados, e volto a ajudar com o que posso.
Ao chegar em casa, jogo minha bolsa na mesa de centro e vou direto para o sofá com o celular em mãos. Após o longo dia, Levy, Juvia e eu acabamos decidindo beber alguma coisa, em dez horas teríamos que voltar para o hospital e os outros enfermeiros tirariam dez horas de descanso. Disco o número de minha mãe e me surpreendo quando ela atende, ela deve ter esperado essa ligação o dia todo.
- Oi mãe...
- Como você está? Eu fiquei sabendo da ponte e... Por Deus Lucy, uma notícia não iria matar sabia?
- Me desculpa... É que, o dia foi bem cheio - Observo minha visão ficar embaçada e sei que são as lágrimas enchendo meus olhos.
- Ah querida me desculpe... Imagino como o dia deve ter sido difícil pra você hoje... Como foi?
- Perdemos alguns pacientes, desde que falaram isso eu tinha em mente que aconteceria mas... Foi difícil perder aquelas pessoas, e os parentes esperando informações... Nossa eu nem sabia se sairia inteira dessa.
- Mas você saiu - Senti a ternura nas palavras da minha mãe - Você tentou tudo o que estava a seu alcance, tanto você como os outros tentaram tudo o que puderam... Não se culpe.
- É difícil não fazer isso - Sinto as lágrimas descendo pelos cantos de meus olhos.
- Sei que deve ser... Mas seja forte tudo bem querida? Eu amo você.
- Também te amo mãe - Sorri de canto. Caralho como eu amo essa mulher.
- Vou ter que desligar, seu pai e eu vamos sair hoje - Ela disse, desta vez com um tom alegre. Finalmente eles estavam se acertando, quero dizer, meu pai não a traiu, aquela vaca da ex-assistente dele que inventou tudo e eu sei disso por que vi ela falando sobre o assunto em uma cafeteria enquanto saia com uma amiga, eu realmente sou curiosa no final das contas.
- Tenham um bom jantar, ligo pra você amanhã - E assim a ligação foi encerrada.

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