Predador

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♤ Erza ♤

A escadaria era iluminada por tochas que se posicionavam de forma ímpar, o silêncio continuava a me incomodar e martelava meu cérebro, um tremor percorreu meu corpo e uma breve onde de dor se espalhou por mim, não era minha dor, era a dor de Jellal. Meus passos foram mais rápido desta vez, abri a segunda porta de ferro e um enorme salão de festa se abriu a minha frente, o lugar me pareceu abandonado já que não haviam seres a vista e a poeira se alastrava por toda a extensão. Continuei a me mover com cautela, aquela era a primeira vez em que seguir meus instintos era a minha melhor opção. 
Atravessei toda a extensão do salão em silêncio, abri mais uma porta - desta vez uma de madeira com um leão gravado e por conta da idade, a madeira estava podre e a imagem do leão, rachada - mais um corredor se abriu a minha frente, ao fundo pude ouvir uma canção calma em grego antigo, segui a música obviamente, era uma triste melodia e cheia de palavras depressivas. Parei a frente da porta de onde a música vinha, um dragão estava cravado contra o metal enferrujado, a tinta caia um pouco aos pedaços, sem pensar duas vezes abri a porta.
Ao fundo do enorme quarto, um jovem estava sentado em algo que mais me parecia um trono, em sua cabeça uma coroa de espinhos feita de ouro e rubis, seus braços e pernas estavam presos por grossas correntes de ouro, as velas ao longo do cômodo se apagarem repentinamente e seu rosto se levantou para mim, deixando seus cabelos branco irem para trás, seus olhos violetas me encaravam em meio a toda escuridão e eu pude ver claramente mais uma corrente de ouro contra seu pescoço.
- Quem... É você? - Perguntei. Apesar de já desconfiar da resposta, os olhos revelam a alma das pessoas e com isso também podem revelar o que elas são.
- Diatrone - Ele respondeu após longos segundos em um silêncio incômodo para mim - Me liberte loba.
- Por que eu libertaria um dragão? - Perguntei cruzando os braços. Dragões são seres extremamente orgulhosos e preferem viver escondidos de qualquer que seja a raça, em meus seiscentos anos eu jamais havia visto um, nem mesmo minha mãe de mil e trezentos anos viu um, é algo simples, eles não são vistos pois sabem se esconder.
- Por que com isso eu deveria a você um favor em troca.
- ... - Observei aquele ser em forma humana por mais longos segundos, ainda sem acreditar que eu era a primeira em milênios a ver um, todos os tipos de livros que nos deram nas escolas pararam de ensinar sobre eles e os tratavam como apenas lendas da nossa raça... Mas aqui eu estava, frente a frente com um dragão. Balancei a cabeça e me aproximei dele, usando de toda minha força para solta-lo - Por que não se soltou sozinho?
- O ouro consome a força da minha raça querida - Um sorriso presunçoso surgiu em seu belo rosto e me perguntei se realmente estava fazendo a coisa certa. 
- Como sabe minha língua? 
- Você não é a única que vem aqui... - Uma vaga resposta para uma pergunta precisa, mas tudo bem - Uma humana - Ele diz e eu quase entro em estado de choque - Ele costumava vir até aqui quando era jovem... - Seus olhos não focavam em nada naquele momento, finalmente arrebentei a primeira corrente, o que havia levado muito mais tempo do que eu esperava - A mais bela entre vocês.
- Se apaixonou por ela, não é? 
- Obviamente, não havia como não se apaixonar por Rosa, cheia de vida, bondosa e caridosa, extremamente inteligente, me ensinou tudo o que sabia...
- O que aconteceu com ela? - Perguntei assim que finalmente acabei de soltar sua outra mão.
- Caçadores... Surgiram em meio a guerra civil, e suspeitaram dela... Naquele dia... Ela veio até aqui pedir socorro mas sua esperteza falou mais alto, e ela se entregou... Consegui ouvir até seu último suspiro... 
- Consegue se soltar agora? - Perguntei soltando seu pescoço.
- Sim, obrigado - Ele se abaixou e soltou as correntes douradas de seus pés, o som do ouro caindo contra o piso foi quase ensurdecedor para mim, observo o homem finalmente se levantar e retirar a coroa de sua cabeça.
- Por que os vampiros não soltaram você?
- Por que eles nunca ousaram vir até aqui, minha música os deixava longe pois temem minhas palavras, você foi esperta em desvendar o que eu dizia.
- Para falar a verdade eu apenas segui o som... Meu... Companheiro está em algum lugar nesse castelo, mas a magia não me deixa acha-lo em lugar algum - Digo.
- Se desejar, posso traze-lo até aqui.
- ... - Semi serrei meus olhos enquanto observava o ser a minha frente se ajeitar, como se tentasse se reacostumar com seu próprio corpo - Não, eu posso precisar desse favor mais tarde.
- Muito bem - Senti orgulho emanar de seu corpo e ele começa a andar um pouco cambaleante - Obrigado por me libertar Erza Scarlet.
- Espera... - Observei sua forma mudar assim que ele atravessou a porta de metal, asas surgiram em suas costas e uma calda, logo ele estava completamente transformado e pela primeira vez, senti meu corpo soltar um tremor breve de medo.

- 🌕 - 

♤ Levy ♤

O vento congelante cortava minha pele - e nem estávamos na metade do outono ainda - Vivian estava fora da cidade tratando de assuntos pessoais e do mundo da magia o que claramente significava que eu estava sozinha em casa - sim, ela havia levado o gato. Eu estava completamente entediada com tudo aquilo, e o silêncio que se sustentou por todo esse tempo finalmente estava começando a me afetar e eu estava ouvindo vozes.
Me sentei em uma das cadeiras da varanda do lado de fora da casa, minhas mãos seguravam uma caneca com café com leite quente, a fumaça saia do copo a cada segundo e a o vento quase a jogava diretamente em meu rosto. Ao longe pude ver meu predador, seus olhos alaranjados me observavam com atenção e ansiedade.
Respirei fundo e senti minha energia desfazer a magia que protegia a casa contra ele - eu realmente era uma louca por estar fazendo isso, mas, por que não?
Meus olhos quase puderam ver o véu cair ao chão e logo o vi sair de seu esconderijo e caminhar em minha direção com passos largos, mas lentos.
Por que correu? - Sua voz para mim soou alta e clara. Ele estava perguntando sobre o dia em que fugi de suas garras.
- Você me assustou - Revelei sem medo, quero dizer, quase sem medo. Mas, se ele ainda não me matou, eu devo ser importante não é mesmo?
Não deveria se assustar, você é minha companheira - Seus olhos franziram por segundos e eu respirei fundo, colocando meu copo ao chão e me levantando da cadeira.
- Como eu não iria temer? Eu não entendi nada do que aconteceu! Um lobo simplesmente pula em mim do nada! - Esbravejei contra ele. Começo a ouvir mais vozes dentro de minha mente e eu respiro fundo em uma tentativa quase falha de controla-las. 
Venha comigo - Sua voz saiu como uma ordem firme e senti o calor em meu corpo, como ele ousa me dar uma ordem? - Você não parece bem.
- Eu estou perfeitamente bem - Resumi para ele e me sentei em uma das escadas. Suas patas se moveram contra as folhas secas no chão e seu corpo com pelos negros se afastou de mim, me deixando assim, sozinha mais uma vez com meus pensamentos.
Não demorou muito para que ele voltasse, desta vez em forma humana e com uma calça moletom, olhos escuros, corpo forte e pele levemente bronzeada, cabelos negros e longos, em seu rosto pude perceber vários piercings que com certeza não eram de prata. Observei ele se sentar à meu lado e um arrepio gostoso subiu por minha espinha.
- O que está acontecendo baixinha? Onde está a outra bruxa? - Suas perguntas foram claras e eu respirei fundo.
- Vivian saiu da cidade com um encantamento durante a noite, ela foi resolver umas coisas - Digo.
- Ela está marcada por um lobo, você sabe não é?
- O que? Não eu não sabia... Por que ela vive aqui sozinha então? - Eu encarei seu rosto e senti um leve rubor em minhas bochechas, caso eu tenha tido sorte ele não veio a perceber.
- Eu não faço a mínima ideia... 
- Ah eu me chamo Levy... A propósito - Sorri de canto.
- Gajeel - Ele acenou brevemente com a cabeça e logo encarou a floresta - Consegue subir o escudo de novo?
- Sim claro, mas você não vai poder ficar dentro - Alerto com curiosidade. O que havia dentro da floresta afinal de contas?
- Tudo bem, eu saio - Ele se levantou - Levante o escudo e não o desça de forma alguma.
- Por que?
- Só o faça! - Mais uma ordem foi dada em direção a mim, e desta vez eu senti que deveria cumpri-la e foi o que eu fiz, assim que ele se afastou subi a proteção da casa novamente, o mais rápido que pude. Logo pude ver um segundo lobo, pelos cinzas escuros e olhos laranjas assim como os dele, este lobo o encarava de forma nada contente, eles pareciam discutir sobre alguma coisa e eu mantive meus olhos focados em ambos. O lobo cinza veio em direção a Gajeel rápido como uma bala, meu novo colega não se moveu, era como se ele estivesse paralisado em seu lugar. Algo ferveu dentro de mim e minhas mãos tocaram o chão, senti minha magia fluir tão rápido quando o lobo e logo o animal estava preso por várias raízes que se elevaram do chão, senti meus lábios se moveram em um sorriso estranho, o sentimento ficou mais forte e Gajeel me encarou com um misto de surpresa e bem no fundo medo.
- No t'atreveixes* - Acabei por não reconhecer minha própria voz naquele segundo, minha magia fluía para fora de mim com intensidade e sem controle algum. As raízes adquiriram um tom negro e o som de ossos se quebrando pela primeira vez foi como música para mim. Mas o susto de meus óculos se estilhaçarem a frente de meus olhos me fez cair para trás e encerrar seja lá o que eu vim a conseguir fazer. Meu coração parecia com um tambor dentro de meu peito, eu não conseguia ouvir nada e meus olhos estavam tão embaçados que jurei estar cega. E logo, a escuridão me envolveu e eu apaguei.

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Votem. Se puder comentem. Obrigada por acompanhar minha história até o momento ♡

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