Sangue

267 19 0
                                    

Pela manhã do dia seguinte, eu ainda me encontrava deitada na cama de Natsu. O rosado já havia se levantado a algum tempo, tomado banho e se enfiado naquele maldito escritório - preciso achar um jeito de trancar aquela porta por um dia inteiro. Eu mal conseguia acreditar nos acontecimentos da noite anterior, qualquer lembrança mínima simplesmente fazia com que meu cérebro revirasse em meu crânio de tanta alegria e fez com que minhas bochechas  adquirissem um tom avermelhado. Mas estar sozinha na cama me deixava ansiosa e com um vazio desconhecido dentro de mim, como se algo de extrema importância faltasse, e faltava mesmo, meu desejo naquele momento seria acordar ao lado de meu companheiro e encarar seus olhos ônix focados em mim, eu soltaria um sorriso tímido e ele me beijaria. Um sonho com certeza.
Levantei da cama e tomei um banho longo, sem prestar atenção em muitas coisas, coloquei mais uma das camisetas de Natsu e desci para o andar de baixo, um café da manhã seria ótimo agora. Levy estava na cozinha com os olhos focados em um livro de capa escura e título em prata com um símbolo estranho gravado, não me surpreendia ver minha amiga submersa em um livro naquela altura do campeonato.
- Bom dia - Digo entrando na cozinha e abrindo a geladeira atrás do meu café da manhã.
- Bom dia... - Senti seus olhos virem de encontro a mim e após pegar o jarra de café eu me viro para ela.
- O que foi Levy? - Perguntei a ela e coloquei a jarra em uma das bocas do fogão e liguei o mesmo para aquecer meu café.
- Seu namorado lobo me emprestou esse livro - Ela brevemente levantou o livro - Ele disse que, se eu quisesse saber das coisa era melhor começar a ler.
- Estranho... Pra mim ele explica as coisas - Dei de ombros e ouvi a porta ser aberta e um cheiro desconhecido para mim invadiu a casa. Uma albina veio até a cozinha e parou ao olhar pra mim e para minha amiga.
- Quem são vocês? - A albina de olhos claros perguntou. Algo em mim não gostou nadinha do jeito que ela fez a pergunta, a arrogância em sua voz me fez irritada e eu nem a conhecia ainda.
- Sou a Lucy, e você é? - Perguntei a ela com uma sobrancelha erguida.
- Lisanna, por que está com a camiseta do alfa sua... - Eu juro que se ela continuar eu vou dar uma surra nela.
- Não ouse dizer mais nenhuma palavra - A voz de Natsu invadiu a cozinha, e a albina pareceu congelar no lugar - O que faz aqui?
- Mirajane quer saber se vai ao encontro dos alfas mais terça-feira a noite - De imediato, ela abaixou a cabeça diante dele. O rosado atravessou a cozinha e selou nossos lábios por breves segundos, ele estava tentando me acalmar? Eu quero que ele saiba que eu estou extremamente calma.
- Sim, e minha Luna também vai - Ele sorri pra mim.
Sem dizer palavra alguma, a albina saiu da casa. Era estranho ver que ela o respeitava e não dava a mínima para meu status atual, não que eu me importasse, queria ser tratada de igual para igual. Eu poderia estar me perguntando sobre que tipo de encontro é esse afinal de contas, mas existe uma pulga atrás da minha orelha que está me perturbando mais do que isso.
- Natsu? Quem é ela? - Pergunto.
A porta se abre novamente como se alguém a tivesse arrombado, o mesmo moreno de dias atrás entra e sua face não estava muito boa, parecia sério e nervoso.
- Natsu precisamos conversar - Disse e eu me posicionei instintivamente atrás do rosado, não sei exatamente o por que mais o jeito que o moreno estava naquele segundo não me agradava em nada.
- Vamos lá pra cima - O rosado disse com ainda mais seriedade - Se for sobre aquele assunto eu não vou mudar minha resposta.
- Mas você precisa! Ou eu saio da alcatéia - Ameaçou. Senti Natsu ficar tenso enquanto observava o moreno, Levy olhava para tudo aquilo por cima das lentes de seu óculos.
- Você não ousaria - O rosado disse ainda observando seu colega.
- Me teste - Um rosnado foi solto pelo moreno e senti a tensão no cômodo ficar mil vezes pior.
- Está me desafiando Gray? - A voz de Natsu saiu como um rosnado poderoso, mesmo assim continuei atrás dele.
- Estou - O moreno permaneceu firme em sua opinião.
- Natsu acho que deveríamos ajudar... - Minha voz saiu antes que eu pensasse no que poderia ser dito para acalmar a situação. Meu companheiro se virou para mim lentamente, sua energia estava ficando mais calma - Não sei o que é... Mas deveríamos ajudar.
- Me diga um motivo para levantar uma guerra contra desgarrados em um momento como esse? - Seus braços se cruzaram e eu brevemente tive medo, mas não demonstrei. Eu não poderia de forma alguma ter medo de Natsu.
- Por que sei que ele faria isso por você se fosse eu - Boa. Isso foi um ótimo argumento na verdade.
- ... - Natsu me pareceu pensativo, era um bom sinal não era? Ele se virou para o moreno - Na próxima vez que a vir e os desgarrados estiverem em menor número vocês têm autorização para mata-los e pode trazer sua... Companheira para cá.
- 🌕 -
A confusão no acampamento estava alta e nosso alfa estava furioso com os lobos que vimos mais cedo, ele teme que aqueles lobos saibam que conseguem ser mais poderosos do que nós mesmo em número menor, dois betas e três gamas era o suficiente para ter destruído nosso grupo e mesmo assim escolheram recuar.
Ter ficado de boca calada no momento em que encontrei aquele beta custou um esforço enorme, ele era meu e eu era dele e eu sabia disso já que Gajeel me ensinou sobre o assunto... Pelo menos o básico. Eu precisava fugir, precisava sair daqui o quanto antes. Eles iriam descobrir cedo ou tarde que eu era a companheira do beta e isso fazia com que eu temesse ainda mais, eu estava tentando parecer invisível aos olhos de todos aqui é até o momento eu estava conseguindo.
- Vai pra sua cabana - Gajeel disse assim que avistou o alfa vindo em nossa direção. Ele era o único a ficar por perto, e eu ficava feliz com isso já que com certeza já estaria morta caso estivesse sozinha nessa, ou louca como todos os outros.
- Por que? - Perguntei com certo temor.
- O alfa não está nada feliz e quem sofre são os ômegas e bem... 
- Eu sou uma ômega... Tudo bem - Entrei na cama e me sentei na cama, trouxe as pernas a meu peito e com ouvidos em pé.
- Gajeel, você vai a cidade hoje, precisamos de mais gente - O alfa disse para meu colega.
- Sim senhor - Não havia muito o que fazer contra aquele homem que eu mal me lembrava se havia me dito seu nome ou não. Eu sabia que Gajeel odiava essas missões de "recrutamento", mas ele era o melhor nisso entre todos nós e isso o fazia cão do alfa. O mais obediente e o mais fiel. No fundo eu acho que comecei a entender os desgarrados, os líderes são geralmente lobos banidos ou exilados e suas única opção é ser um desgarrado e ter a fama ruim, acho - não tenho certeza alguma nisso - que eles na verdade só querem pertencer a algum lugar e por isso criam esses bandos de desgarrados, é confuso.
- 🌕 -
Ansioso era a palavra que mais poderia me definir naquele momento, e também estava agradecido que a Luna usou persuasão para cima de Natsu, ela é inteligente, mas ainda não tivemos uma apresentação apropriada ainda graças ao jeito possessivo de meu amigo, mas de qualquer forma ela seria apresentada ao concelho e aos alfas hoje e isso era algo grandioso, a maior alcatéia do continente europeu finalmente encontrou sua Luna, no lugar mais improvável devo admitir. Mirajane, eu, Erza e Elfman estavamos novamente pela floresta dos desgarrados, conosco tínhamos mais dez ou onze lobos, um tamanho mais do que suficiente para resgatar minha companheira e afastar os desgarrados de nosso território. O cheiro dos desgarrados não nos pegou de surpresa, e com isso avançamos ainda mais deixando nossa presença ser notada. Um homem que aparentava ter meia idade nos encontrou, ele se apoiava em sua bengala como se precisasse realmente dela, suas rugas eram facilmente notáveis e seus cabelos completamente brancos, era um lobo velho, mas no nosso mundo velho não significa fraco e sim experiente.
- Vou dizer apenas uma vez, voltem para suas terras - Alertou o homem enquanto nos observava, seus olhos azuis escuros gelidos e voz extremamente autoritária, apesar dele ter assustado os lobos que estavam conosco, Erza e eu somos betas, Mira e Elfman não se assustam tão facilmente, eles são quase betas só não tem o título.
- Não - Digo no mesmo tom que ele e um sorriso surge em seu rosto, levantando suas rugas - Vocês nem se quer deveriam estar aqui tão próximos as terras da Fairy Tail.
- Cuidado com a boca beta - Seu olhar sobre nós era tão frio quanto o dos metres, mas eu temia aquele ser, cão que late não morde.
Alguns lobos surgiram atrás do homem, transformados, lobos cinzas, castanhos e multicolores, e percebi que um dos cinzas era minha companheira, queria pelo menos saber o nome dela.
- Juvia Lockser - Mira disse sem surpresa alguma em sua voz e a cabeça de minha companheira se levantou brevemente, então esse era seu nome... - Viemos levar você conosco, não se preocupe.
- Levá-la? - O homem gargalhou com uma voz rouca - Como vão tentar fazer isso? Estão somente vocês aqui, estão sozinhos contra nós.
- Somos mais do que o suficiente - Erza sorriu de canto.
- Veremos - O homem sorriu da mesma forma que a ruiva e se transformou, um lobo de pele negro com uma mancha branca no meio de seu peito, seus olhos alaranjados demonstrava claramente que ele costumava ser um beta para alguém.
- Não tem jeito mesmo - Me transformo e logo os outros também fazem o mesmo.
- 🌕 -
Algo pipocava no fundo de minha mente, minha preocupação parecia estar em um novo nível, a ansiedade me tentou a roer minhas unhas, Levy estava no quarto de hóspedes e eu estava na sala, Natsu estava trancado em seu escritório mesmo que hoje fosse domingo. Os canais rolavam na televisão a cada vez que meu dedo apertava o botão de mudar de canal. Eu estava ficando louca e não sabia o por que. Desliguei a televisão e joguei o controle no sofá, subi as escadas batendo o pé e dei duas batidas na porta do escritório, um lugar ainda inexplorado por mim. 
- Entra - Sua voz foi distraída e mesmo assim eu entrei. Os vários papéis em cima da grande mesa circular preta chamaram minha atenção momentaneamente, a estante com centenas de livros de capas e cores diferentes chamaram minha atenção também, Levy ficaria louca vendo tudo isso, o rosado levantou o rosto e olhou para mim - O que foi princesa?
- Eu não sei... Me sinto... - Fiz uma breve pausa e me sentei no sofá vermelho escuro de veludo - Preocupada com alguma coisa, e isso está martelando minha mente mais e mais.
Ouvi as rodinhas da cadeira em que ele estava sentado rolarem, seus passos foram ágeis e logo senti ele se sentar à meu lado, suas mãos seguraram as minhas.
- Isso é seu instinto de Luna, é normal, você vai continuar a se preocupar dessa forma com os outros e acho que sei por que - Ele deu um longo suspiro - Gray e os outros foram enfrentar os desgarrados... Assusta-los na verdade e depois vão trazer a... Companheira dele para cá.
- Entendo... Eles vão ficar bem não vão?
- Vão sim princesa, não se preocupe com eles - Um pequeno sorriso saiu de sua boca e aquilo não me acalmou em absolutamente nada, algo em minha cabeça continuava a me martelar e meu cérebro parecia estar prestes a explodir a qualquer momento.
- Eu... - Não era como se eu estivesse controlando minha própria boca naquele segundo e um tremor estranho se espalhou dentro de minha cabeça - Preciso ir... Preciso ter certeza...
- Ah princesa - Seu sorriso prevaleceu direcionado a mim - Agradeço a deusa todos os dias por ter prometido você a mim, é uma garota tão especial e seu coração é tão grande - O rosado se levantou me puxando junto com ele - Então vamos, vou mostrar que tudo está bem com eles.
Meu coração pulsava ainda mais rápido a cada passo que eu dava enquanto tentava de forma falha acompanhar os passos de Natsu. Consegui sentir o cheiro dos lobos,  cheiros desconhecidos e o que mais prendeu minha atenção foi o cheiro de sangue, algo se desertou em mim e eu finalmente acelerei o passo, logo chegamos a uma clareira, está que se parecia mais com um campo de batalha.
Droga... - Natsu se manteve a minha frente, reconhecendo o território e tentando distinguir quantos de seus, nosso, lobos ainda estavam vivos, pela energia nada feliz que senti vinda dele, não muitos. Ele avançou para a batalha e eu o acompanhei, não tenho certeza do por que ele não reclamou, ele pode ter ignorado minha presença ou ciente de que aquilo poderia me ensinar algo sobre nossa raça, a cada passo que ele dava, todos os lobos saiam de sua frente e abaixavam suas cabeças, como gamas ou até mesmo ômegas.
Um dos lobos olhou diretamente para Natsu e tornou alto, meu companheiro fechou ainda mais a cara e se preparou para um ataque. Eu sabia muito bem o quão bom Natsu era em uma boa briga e sabia que dali só sairia sangue, preciso achar os lobos feridos da nossa alcatéia e... E o que? O que eu faço? Eu não sei o que fazer! Eu poderia levá-los... Não eu não sou tão forte. Eu poderia cura-los. Não seja burra Heartfilia, como e com o que você curaria estes lobos? Bem eu poderia então... Sei lá. Pelo menos protege-los enquanto a ajuda não chega, se é que vai chegar.
Começo a farejar por cheiros conhecidos - eu me tornei um cão farejador, incrível como o mundo da voltas - logo encontro um, um dos gamas que foi com os betas, ele estava no chão em sua forma humana alguns lobos de cores variadas estavam se aproximando de seu corpo frágil e nu, ele se arrastava por sua vida. Me jogo a frente dele e os lobos me olham brevemente com curiosidade, um rosnado poderoso é solto por mim e eu lato para que mantenham distância, minha visão fica avermelhada e seu que o que eu quero é a cabeça deles, como ousam atacar uma criatura já machucada como este gama!? Um dos lobos resolveu tentar a sorte e veio para cima de mim, seu olhar louco me assustou um pouco mas eu não deixaria que chegassem perto de meu gama, somente por cima de meu cadáver. E eu não pretendia morrer aqui.
Seu peso foi posto em cima de mim e eu senti meu corpo cair no chão, tentativas de mordidas foram feitas em direção ao meu pescoço, mas de alguma forma eu conseguia empurra-lo toda vez, meus dentes afiados tentavam se fincar em qualquer parte que pudesse e arrancar pedaços de meu inimigo quase instintivamente. Quando finalmente, por um golpe de sorte, meu oponente desequilibra deu corpo de cima do meu, eu o mordo na orelha e travo minha mandíbula, sinto o gosto do sangue invadir minha boca e é como um impulso para que eu continue ainda mais. O chiado do lobo soou a meus ouvidos mas eu não parei, arranquei sua orelha e a joguei para qualquer lado, lambo meu focinho o manchando de sangue enquanto rosno ferozmente para meu oponente, jogo meu corpo em cima do dele e ambos rolamos pela grama meus dentes o mordem a onde quer que consigam ser fortes o suficiente e o gosto do sangue me dava cada vez mais vontade de continuar com aquilo.
Em algum momento não consegui mais ouvir seu coração bater e isso me deu um tremor de pavor por dentro, mas, eu queria mais, queria mais sangue daqueles que ousaram machucar meu gama.
Desta vez eu avanço contra os outros lobos mas algo me derruba, e o cheiro de Natsu e sua força me invadem, me debato debaixo de seu corpo mas é impossível me mover já que ele tem o dobro do meu tamanho. Observo os lobos correrem por suas vidas e solto um rosnado frustrado, tentando ainda mais me levantar e ir atrás deles.
Lucy - O rosnado de Natsu me forçou a estar mais calma, mesmo que meu coração estivesse furioso - Se acalme.
Mesmo que fosse inútil, tentei sair de debaixo dele e mais uma vez um latido unido com um poderoso rosnado foi solto por meu companheiro, desta vez tanto meu cérebro quanto meus instintos entraram em um acordo e resolveram se colocar em seus lugares. Um longo suspiro frustrado foi solto por mim, alguns segundos depois Natsu sai de cima de mim, me permitindo a levantar, chacoalho meu pelo assim que me encontro em pé e observo os olhos em volto, com seus olhares admirados, preocupados e temerosos. Ao lado de Gray pude ver uma desgarrada tremendo de medo, ignorei a presença dela e comecei a seguir Natsu de volta para a casa.

MoonlightOnde histórias criam vida. Descubra agora