Aquele Dia da Dança

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A inconsistência da minha existência me assustava. A falta de algo que quebrasse meus muros e abalasse meu comodismo me dilacerava. O existir por simplesmente o fazer era algo que me desestabilizava.

Eu procurava há muito algo que modificasse esse meu jeito infeliz de viver. A falta desse 'algo' que eu nem sabia o que seria me infernizava e eu fui atrás do que achei que supriria esse espaço. Ledo engano. A minha subjetividade era uma incógnita para mim. E ponto final. Quando eu falo ponto final eu estou falando de forma literal! Não tinha mais o que fazer, pensar, tentar compreender. Estava no ponto final da minha vida... Até aquele dia.

Aceitar fazer parte do Masterchef Brasil se revelou o caminho para um novo parágrafo na minha vida. Foi ali que eu conheci a pessoa que inundaria a minha vida de 'tompero'. E não! Não é o Jacquin! A verdade é que quando eu percebi estar apaixonada por aquela pessoa duvidei que não fosse apenas desejo acumulado.

Você quer saber de quem estou falando, não é mesmo? Arrisco a dizer que você até já saiba quem é. Jacquin afirmou que nossos olhares nos entregam. Acho que ele tem razão. Desde aquele dia eu não conseguia ignorar aqueles olhos castanhos que sempre pareciam ler minha alma, ou aquele sorriso que parecia o sol de tão vivo e envolvente, e o jeitinho meigo de me abraçar? E talvez eu esteja apaixonada... Mas nada me deixava mais louca de amor que aquele sotaque gostoso. Paola Carosella tinha me feito observar cada mínimo detalhe de si.

Acredito que agora você está deveras curioso para saber como aquela argentina maravilhosa me fez perceber como eu a queria por perto o tempo todo. Vou lhe contar!

Você deve se lembrar do episódio dez da terceira temporada quando Paola era a chefe na repescagem e os cozinheiros não conseguiram fazer linguiças em duas horas, trinta unidades para ser mais específica. Depois de toda a bagunça, gritaria, estresse e palavrões que ela foi exposta, eu adentrei em seu camarim ao fim das gravações e apertei seus ombros tensos.

–Fran ainda está na casa da amiguinha da escola? – indaguei enquanto pressionava meus dedões em seu pescoço, como se lhe fizesse uma massagem. Ela assentiu. – Então vamos que eu vou lhe fazer um jantar sem estresse, com um bom vinho e depois uma massagem digna da melhor chef que conheço. – Abaixei-me até encostar meu queixo em seu ombro, olhando em seus olhos através do espelho a nossa frente. – E eu não aceito 'não' como resposta.

Paola me sorriu daquele jeito todo dela, sem mostrar os dentes.

–Podemos ao menos passar em mi casa? Só para eu tomar un banho. – pediu.

–Podemos passar lá para você pegar uma roupa porque você precisa experimentar o meu chuveiro novo. Aquilo é o paraíso.

Ela riu e se pôs de pé. Logo estávamos no estacionamento de sua casa. Esperei Paô em meu carro só para ela não demorar. Pouco mais de quinze minutos depois ela se sentava no banco do carona. Antes de dar partida acionei uma playlist e a primeira música do modo aleatório me fez sorrir largamente.

A mulher ao meu lado reagiu da mesma forma já que era a música que Fran mais gostava no mundo, palavras da própria.

"Avião sem asas, fogueira sem brasas, sou eu assim sem você. Futebol sem bola, Piu-piu sem Frajola sou eu assim sem você!"

Paola imitava a coreografia que Francesca tinha criado para apresentar para nós num dia em que a entretemos com jogos de todos os tipos. A loirinha de seis anos fez tanto a mim quanto a mãe chorar. Foi a coisinha mais fofa do mundo justamente por dizer antes de começar:

"–Eu fiz assim porque eu amo vocês de um tamanho enorme!"

Não era a coisinha mais fofa do universo? Sim, eu sei.

Aquele DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora