Aquele Dia do Chamego

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Quando eu e Paô decidimos deixar o que quer que fosse que estivesse rolando entre nós acontecer no seu devido tempo, eu não imaginava que seria tão bom. Apesar dos meus 52 anos sempre tive receio de entrar em relacionamentos imaturos. Por vezes eu perdia a cabeça e agia como uma adolescente, era algo normal. Todos somos falhos. Entretanto, e ignore o clichê gigante que eu vou dizer aqui, com Paô eu parecia me tornar ainda mais mulher. Ela despertava em mim uma vontade gritante de ser madura, não apenas para tê-la ao meu lado, mas por mim, por tudo o que eu acreditava, queria e fazia.

Se eu pudesse classificar as últimas semanas em uma única palavra eu acho que essa seria companheirismo. Nos víamos todos os dias, nos respeitávamos o tempo todo, sem invasão de espaço, sem exposição, mas o companheirismo estava sempre ali, tanto nas mensagens de bom dia e boa noite quanto nos gestos involuntários e altruístas durante nosso dia. Talvez por isso Jacquin tenha sido o primeiro a notar que estávamos nos envolvendo finalmente.

–Ôh, Na'Paula. – Me chamou com aquele sotaque engraçado. – 'Ocê' e Paola eston juntas! – Não foi uma pergunta. – No sô bobo, eu!

Fiquei rubra. Foi a confirmação que ele precisava.

–Não estamos juntas, estamos nos conhecendo. Como os meninos dizem, estamos seguindo baile, mas tem sido muito bom estar ao lado dela. – Confessei.

O meu amigo sorriu de orelha a orelha, abraçando-me em seguida fortemente. Desde sempre ele me apoiara em tudo, agora não seria diferente, não é mesmo?

Mas ninguém foi mais escandalosa que Nat ao ficar sabendo do meu caso com Paola:

–Senta aqui, Ana Paula. – Falou em uma sexta-feira nublada, apontando para o sofá em sua sala.

Fiz o que me foi pedido. Estava morta de sono, de cansaço e fome. Talvez meu humor não fosse dos melhores...

– O que você precisa? – Indaguei.

–Preciso da verdade. – Arqueei a sobrancelha. – Você e Paola...?

Minha boca ficou seca. Eu não queria dizer para as pessoas que eu e ela estávamos tentando algo exatamente por ser uma tentativa. Não que eu desacreditasse de um 'nós' num futuro breve, mas eu também queria manter os pés no chão caso não desse certo. A vida é muito louca, instável e imprevisível para eu colocar cem por cento de certeza num relacionamento, o que não queria dizer que eu não colocaria cem por cento de mim para que dê certo.

–Estamos tentando algo... – Falei baixo.

–Tentando tipo... Beijos e amassos, jantares românticos, flores, coisinhas melosas? – Quis saber quase que perplexa.

–Com beijos, amassos e algumas coisinhas melosas, mas nenhum jantar romântico de fato. – Respondi.

Minha amiga levou as mãos a boca e riu.

–Meu shipper é real! Eu 'tô adorando isso mesmo! Quem deu o primeiro passo? Você não foi, né? Foi ela.

Sorri totalmente sem graça. Coloquei uma mexa de cabelo atrás da orelha enquanto lhe confidenciava:

Aquele dia que você chegou de supetão na minha casa e ela estava lá, se lembra? – ela assentiu. – Foi quando ela me chamou para dançar com ela uma canção, 'É isso aí' da Ana Carolina com o Seu Jorge... A gente meio que cantou uma para a outra o refrão e rolaram uns carinhos, olhares... Essas coisas que a gente faz quando queremos dizer que gostamos de alguém apenas com gestos. Você chegou exatamente no momento em que estávamos quase nos beijando.

–E eu atrapalhei tudo! Que droga! Por que você não me mandou embora? – Ficou brava consigo.

–E ia adiantar? – joguei e ela gargalhou.

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