Depois daquela experiência icônica que tivera no ônibus, resolvera que iria todos os dias agora de bicicleta para a escola. - Para que não houvessem mais "inconveniências" em seu trajeto. Lara não havia calculado com antecedência quanto tempo levaria para chegar ao colégio nesse novo meio de transporte, o que gerou com que ela chegasse mais cedo do que o esperado. Ela arrastou sua bike para dentro e a deixou próxima a uma oliveira, pela qual se encostou para esperar a hora passar. Lara havia ido o caminho inteiro trocando mensagens com Nickolas e agora, por consequência, seu celular estava quase descarregado. - Oportunidade, esta, perfeita para terminar finalmente o seu livro. - Ela olhou para um lado, olhou para o outro e nada. - Nenhuma extraordinária força física ou natural que pudesse a atrapalhar daquela vez. - Então, assim o fez; ela leu, leu com toda a paixão e vontade que tivera guardado a muito tempo, leu como se estivesse descontando todas as suas questões mal resolvidas, desejos, saudades, mágoas... Em uma única atividade. Ela apenas devorou aquele livro até não aguentar mais; até sua vista cansar, até seus dedos levemente cortados pelas páginas finas começarem a doer e até ela repousar sua cabeça na arvore, colocando o livro de canto.
Aquele campus tinha uma beleza natural inenarrável, que de forma volúvel a levara a refletir como é gracioso e bem pensado o ciclo da natureza; Uma muda cresce, adquirindo um tronco forte e galhos largos que proporcionam abrigo da chuva, sombra e, muitas delas, até alimento. Até que a mesma se relaciona, dando origem a outras que posteriormente irão fazer o mesmo em seu lugar enquanto a outra irá se cansando até que finalizem-se suas funções e ela sucumba. Todavia, oque mais chamou a atenção de Lara é que elas passam por esse processo sozinhas, isto é, ela não são dependentes pois suas raízes estão fixadas no solo árduo da terra e não em outras árvores.
Lara nunca demonstrava, mas criava raízes emocionais facilmente com pessoas a sua volta e, quando essas pessoas começaram a ir embora, fora ficando cada vez mais difícil de se equilibrar. E, agora que ela não tinha nenhuma e não existiam mais forças nela para que criasse novas, os recursos para a sua existência estavam ficando cada vez mais escassos...
Ao ouvir o toque que indicava o início da aula, Lara guarda seu livro na mochila e levanta-se.
Após duas aulas tediosas sobre a Filosofia do questionamento e de inúmeros nomes de filósofos da antiguidade falando litros de água - Com todo o respeito aos mesmos - e de quase morrer queimada quando a sua dupla, Srta. Sofia, acidentalmente deixa cair suas balas de gelatina dentro do Cloreto de potássio, ela seguiu até o ateliê do clube de artes do Sr. Beakman Stafilly. - O lugar não era muito iluminado e nem tão bonito quanto os outros lugares que já havia visitado do prédio, mas, também, não era dos piores. - Já haviam alguns cavaletes com telas em branco montados pela sala, todos voltados para um púlpito onde o professor já se encontrava. Era um senhorzinho alvo, com a barba e os cabelos despenteados. - Cujo Lara havia descoberto que era casado com a professora Meghan de história.
Ele começou a aula com aquele velho discurso de que arte "É toda a forma existente de expressão", podendo ser a partir da "Percepção ou do ato de expor emoções e ideias"... Com isso, ele pediu que cada um desenhasse algo que se identificasse ou que tivesse significado particular.
Nos primeiro sete minutos, Lara verdadeiramente se empenhou para criar algo belo e criativo para que todos ficassem maravilhados e ela se tornasse a artista de futuro promissor do colégio, com apenas uma aula... - Pensamentos ilusórios impostos pela mídia através de desenhos infantis - Porém, ao se passarem meia hora de uma aula de quarenta minutos com ela apenas encarando o vazio do branco na tela, esses ideais começaram a perder força significativa em sua cabeça. - "Algo que ela se identificasse", "Significado particular"... A cada segundo que se passava era uma tortura ilógica e ela se sentira mais inútil e incapaz do que os anteriores.
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Flores de Dezembro
RomansaEssa história é a de uma adolescente delicada como uma flor, mas tímida como pássaros no inverno, Lara Torres. Lara se mudou no primeiro dia de férias de verão para o interior, ela foi morar com os avós por parte de pai, numa velha chácara onde tinh...