Boa tarde minhas lindas <3
Capítulo 2
JÉSSICA
Uma força invisível me manteve no salão do hotel. Algo que me impedia de sair. Talvez fosse a canção triste que ele tocava com maestria, eu não sabia, mas sem perceber me vi querendo chegar mais perto e me deleitar com a visão daquele homem tocando cheio de sentimento, tão entregue a música.
Não. Aquele homem não poderia ser o mesmo daquela noite, Pedro, que tive o desprazer de conhecer.
Não podia acreditar, aquelas notas tristes só poderiam ser tocadas por alguém que tivesse um coração, o que obviamente não era o caso dele.
Eu me aproximei mesmo sem querer, porque aquele magnetismo ainda estava ali envolvendo meu íntimo. Observei como mais detalhes o modo como o homem de pele morena e cabelos bem penteados para trás segurava o grande violoncelo e com a outra mão deslizava o arco pelas cordas tocando não menos que a perfeição. Ele usava uma camisa social branca bem alinhada, combinando com uma calça social escura.
Enquanto tocava mantinha os olhos o tempo inteiro fechados, e eu me permiti admirar o contorno másculo de suas feições, o nariz reto, um bigode baixo unido a um cavanhaque cerrado em torno de sua boca, o maxilar anguloso dele me fazia lembrar das pinturas dos deuses gregos. Ele deveria ter alguma descendência espanhola. Poderia me perder admirando cada traço de sua beleza.
E eu me perdi.
Não me importei em prestar atenção aos poucos que o cercavam, segurando seus instrumentos em silêncio quase tão enfeitiçados quanto eu.
Eu me escorei em uma das mesas empilhadas no canto e continuei ali quieta sorvendo cada segundo daquele momento em que eu podia observá-lo tão entregue. Tão perfeito.
Não havia rancor ou mal humor nele, apenas entrega total, quase uma devoção.
A música de meu celular fez com que o momento perfeito se desfizesse.
Pedro parou de tocar.
Eu senti minhas bochechas corarem de vergonha quando os olhares dos que pareciam ser alunos dele se voltaram para mim.
Aquilo só não foi pior que ter os olhos azuis dele cravados em mim, arrogante e furioso.
— Desculpem-me por isso.
Constrangida, enfio a mão dentro da minha bolsa e tento encontrar por meu celular.
— Não tenha pressa. — Sua voz grave chicoteou em minha direção e eu fiquei mais nervosa enquanto caminhava para trás sem parar de procurar pelo celular.
Esbarrei na pilha de mesas e cadeiras empilhadas no canto e perdi o equilíbrio de forma atrapalhada.
— Retornem em cinco minutos. — Ele rosnou e eu o vi deixar seu instrumento apoiado na cadeira e caminhar até mim.